ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Ambiental
Autores
Ventura, W.S.N. (LABQUIM/UFPB) ; Silva, E.O. (LABQUIM/UFPB) ; Medeiros, J.A. (LABQUIM/UFPB) ; Melo, A.M. (LABQUIM/UFPB) ; Lucena, G.L. (LABQUIM/UFPB) ; Marques, D.I.D. (LABQUIM/UFPB) ; Sousa, F. (LABQUIM/UFPB) ; Quirino, M.R. (LABQUIM/UFPB)
Resumo
O descarte inadequado do óleo de fritura pode causar danos ambientais em mares, rios, lagos, entupimentos em pias e vasos, e as desobstruções das tubulações necessitam de produtos com toxicidade alta. Uma alternativa para a reciclagem do óleo de fritura é a produção de sabão. Por estes motivos, objetivou-se sintetizar um sabão ecológico com óleo de fritura, extrato aquoso e óleo essencial de eucalipto. Para o tal fez-se necessário antes da saponificação realizar análises físico-químicas do óleo de partida, para então direcionar a síntese visando novas formulações do sabão de eucalipto acrescido das propriedades medicinais da planta. O sabão líquido apresentou pH 10.O teste de aceitabilidade com alunos do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros apresentou resultado satisfatório.
Palavras chaves
Óleo residual; sabão; eucalipto
Introdução
Um dos grandes problemas ambientais é o descarte inadequado dos óleos de frituras. Segundo a SABESP um litro de óleo de fritura pode poluir 20.000L de água, acarretando o processo de eutrofização além de contribuir para a impermeabilização do solo. Uma alternativa viável é a reciclagem do mesmo para produção de sabão ecológico. A obtenção de sabão líquido é realizada através de reação dos triacilgliceróis presentes no óleo de fritura com o hidróxido de potássio (VERANI et al., 2000). De acordo com a associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE, 2011) estima-se uma produção de óleo de cozinha em 2011 foi de 7.162 mil toneladas, e deste total, apenas 2,5% são reprocessados e reinseridos na cadeia produtiva. Sendo assim, a importância do desenvolvimento das técnicas para o reaproveitamento deste resíduo é fundamental. O eucalipto é o nome vulgar atribuído ao Eucalyptus.globulus, uma planta medicinal da família da Myrtaceae. Este material vegetal apresenta propriedades antibacterianas e terapêuticas podendo ser utilizado no combate a doenças respiratórias (Salari et al.,2006). Também em outras enfermidades do tecido e da pele (ROCHA et al., 2007). Dentre os diversos componentes presentes no óleo do eucalipto, o cienol ou eucaliptol é considerado o principal. Este é bastante utilizado nos fármacos e na fabricação de produtos de limpeza (CINIGLIO, 1993). Sendo assim, além de conferir cheiro ao produto, este óleo essencial é uma forma de agregar valor ao produto. Contudo, o objetivo deste trabalho foi sintetizar um sabão líquido utilizando o extrato aquoso e óleo essencial extraído do eucalipto, assim como, realizar um teste de aceitação com discentes e potenciais usuários do produto.
Material e métodos
Folhas do eucalipto foram coletadas na UFPB-Campus III e encaminhadas ao Laboratório de Química do Campus para extração por um processo de hidrodestilação. O procedimento resumiu-se no preenchimento do balão de destilação com 150g de folhas do eucalipto (cortadas com tesoura adequada) e 250 mL de água destilada. O balão foi sobreposto na manta aquecedora, adotando um extrator tipo Clenveger. Então se separou o óleo do hidrolato. O extrato aquoso foi obtido através de uma filtração das folhas e parte aquosa do sistema onde foi realizada a hidrodestilação. O óleo de fritura foi coletado no restaurante universitário da UFPB- Campus-III, em garrafas PET. Após uma filtração simples com algodão, o óleo foi submetido a análises físico-químicas (Índice de saponificação, Índice de peróxido, umidade, Índice de acidez, densidade e pH), seguindo as normas do Instituto Adolfo Lutz (2008). Cerca de 100mL de óleo de fritura, previamente filtrado, foi adicionado a 19,9124g de KOH com 500 mL de extrato do eucalipto e 25 mL de álcool para obtenção do sabão (saponificação). Em seguida foi realizada a saponificação sem aquecimento durante 20 minutos. O teste de aceitação foi realizado com 10 alunos do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN), esta escola técnica pertencente ao Campus III da UFPB, e na oportunidade foram efetuadas perguntas com relação à cor, cheiro, espuma, aspecto, do sabão líquido ecológico. As opções de respostas seria atribuir uma nota de 0 a 10 para cada categoria.
Resultado e discussão
Através da análise Físico-Química do óleo de fritura, foi possível observar na
Tabela 01 que o índice de acidez do óleo de fritura foi de 2,6757g ácido
oleico.100g-¹, ou seja, 8,86vezes superior do que o do óleo de soja refinado (<
0,3 g ácido oleico. 100g-¹). Sabendo-se que esse índice é uma variável
intimamente relacionada com a conservação do óleo, pode-se inferir que este óleo
de fritura está em um processo de decomposição seja por hidrólise ou oxidação
(BELTRÃO et al., 2010). A umidade do óleo de fritura foi de 0,1037% m/m,
esta, possivelmente oriunda da imersão dos alimentos durante o processo de
fritura. O índice de peróxido foi 35,59 meq/Kg, este número é superior quando
comparado com o do óleo de soja. Logo, nota-se que ocorreu uma oxidação da
gordura resultante da degradação do óleo de fritura. Com referência ao índice de
saponificação, este não sofreu praticamente alteração quando comparado ao óleo
de soja refinado de acordo com a Resolução RDC nº 482. A determinação do pH do
óleo de fritura foi 5 comprovando o caráter ácido observado através do índice de
acidez.O sabão líquido apresentou cor verde escura e pH 10. Esta basicidade é
interessante, pois, o sabão líquido com pH 10 apresenta maior ação de limpeza e
apresenta-se inferior ao máximo permitido pela a ANVISA pH=11(Resolução
normativa nº 1/78). A Figura 01 mostra o resultado da aceitabilidade do sabão.
Este apresentou valores satisfatórios, só não atingindo o valor maior que sete
em relação ao atributo cor, na escala de 0 a 10, possivelmente porque o sabão
líquido apresentou uma coloração verde escura, pois, quiçá os usuários não
costumam utilizar estes artigos de limpeza com esta variação de cor. Os
avaliadores mostraram que a nota de maior aceitação foi com relação ao poder
espumante.
Analises físico-químicas do óleo de fritura
Gráfico de teste de aceitação.
Conclusões
Concluiu-se que a produção do sabão ecológico é a alternativa possível no que diz respeito em reduzir os prejuízos ao meio ambiente causados por um resíduo de óleo de fritura. O produto obtido está de acordo com o que rege a legislação vigente, podendo inferir que se obteve um produto de qualidade acrescido das propriedades do extrato aquoso e óleo essencial de eucalipto, sendo fabricado a partir de um material impuro e inimigo do meio ambiente.
Agradecimentos
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS (ABIOVE), disponível em www.abiove.com.br. Acesso em: 01/09/2013.
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CINIGLIO, G. In: Eucaliptos para a produção de óleos essenciais, ESALQ-USP, Piracicaba, 1993. Editora Anvisa Brasília, 2008 Guia de Controle de Qualidade de Produtos Cosméticos Uma Abordagem sobre os Ensaios Físicos e Químicos.
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ROCHA, M. E. N.; SANTOS, C. L. O uso comercial e popular do Eucalipto Eucalyptus globolus Labill – Myrtaceae. Saúde & Ambiente em revista. Vol. 2. No2, 2007.
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VERANI, C. N.; GONÇALVES, D. R.; NASCIMENTO, M. G. Sabões e Detergentes Como Tema Organizador de Aprendizagens do Ensino Médio. Química Nova na Escola. No 12. p.15-19. 2000.