ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Ambiental
Autores
Batista-sobrinho, I.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ; Santana, R.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Portifirio, M.C.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Medrado, H.H.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ; Silva, M.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA)
Resumo
O Brasil é um grande produtor mundial de frutas tropicais, contribuindo com a geração de resíduos provenientes da produção de derivados dessas frutas. Entretanto, estes resíduos possuem nutrientes e fitoquímicos bioativos importantes para saúde humana. O objetivo deste estudo foi determinar o teor de compostos fenólicos e a AA de farinhas dos resíduos de abacaxi, acerola e cajá e a correlação entre esses dois parâmetros. Os extratos hidroalcóolicos das farinhas de cajá apresentaram os maiores teores de fenólicos (307,17mg GAE.100g-1), maior AA pelo método DPPH (EC50 216,9μg.mL-1) embora as farinhas de acerola apresentaram maior AA pelo método do PR (298,3mg.100g-1). Observou-se correlação do tipo exponencial muito forte entre os teores de fenólicos e AA (R²>0,99).
Palavras chaves
Ambiental; Fenólicos; Radicais Livres
Introdução
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas com uma produção de 42,6 milhões de toneladas (BRAZILIAN FRUIT, 2013). Acompanhando essa produção, a comercialização de produtos derivados de frutas in natura e polpas processadas vem crescendo nos últimos anos (BARRET et al., 1994). No processamento da polpa, são recolhidos cascas, sementes, caroços, bagaço e frutas refugadas (EMBRAPA, 2003; SENA & NUNES, 2006). Esses resíduos, quando não descartados de forma adequada, geram problemas ambientais graves (LOUSADA JUNIOR et al. 2005). Entretanto, embora possam ser maléficos ao meio ambiente, os resíduos da agroindústria são fontes potenciais de nutrientes, podendo esses auxiliarem no combate à desnutrição (SOUSA et al., 2011). Vários estudos têm associado os efeitos benéficos do consumo regular de frutas, vegetais e grãos à presença de substâncias antioxidantes (AO) (VASCONCELOS et al., 2006; KIM et al., 2007; PIENIZ et al., 2009). Dentre as substâncias bioativas, os compostos fenólicos (CF) possuem importantes funções no organismo dos seres humanos. Muitas frutas e verduras são possuidoras desses compostos e sua quantificação revela informações a respeito da atividade antioxidante (AA), à qualidade do alimento e aos benefícios à saúde (TALCOTT et al., 2003). Dentre os ensaios utilizados para determinar a capacidade antioxidante, destacam-se o método do DPPH+•, ABTS+• e Poder Redutor (PR) como os mais empregados (ARNAO, 2000). Os vegetais in natura, processados ou até mesmo os resíduos possuem AO, sendo assim, objetivou-se com o presente estudo determinar os teores de fenólicos totais em extratos hidroetanólicos a partir de farinhas dos resíduos de abacaxi, acerola e cajá bem como estabelecer sua correlação com os ensaios do poder redutor e DPPH+•.
Material e métodos
O experimento foi conduzido no laboratório do Núcleo de Estudos em Ciências de Alimentos (NECAL) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campus Itapetinga. As amostras dos resíduos do abacaxi, acerola e cajá foram adquiridas em três momentos diferentes entre 2012 e 2013. Os resíduos foram cedidos pela POLIPOLPAS, em Vitória da Conquista-Ba. Coletou-se 15 kg de cada amostra de resíduo e foram logo armazenados a -18±2ºC. Em seguida foram lavados e imersos em água clorada por 15 minutos. Os resíduos foram deixados por 24 horas em refrigerador a 10±2ºC para descongelamento, em seguida desidratados em estufa com circulação e renovação de ar (SL 102, Brasil) a 50±2oC, até atingir umidade menor que 10%. Após processamento em moinho de facas (Willye, Marconi, Brasil) e posteriormente de bola (MA 350, Marconi, Brasil) obteve-se farinhas com granulometria de 80 mesh, como preconiza a ANVISA. Para as análises, foram preparados extratos hidroetanólicos (80%, v.v-1) de acordo metodologia proposta por ZHAO & HALL (2008) com adaptações. Na determinação de compostos fenólicos totais, adotou-se o procedimento de WETTASINGHE & SHAHIDI (1999). Para a atividade antioxidante pelo DPPH● utilizou-se o método adaptado de BRAND-WILIAMS (1995) com o cálculo do EC50. As leituras da absorbancia (Abs) em 515 nm no espectrofotômetro (Shimadzu UVmini-1240, Japão) para o DPPH e a 700 nm para o PR (OYAIZU, 1986). Os resultados foram expressos em Abs de cada extrato.concentração analisada-1. Para condução do experimento utilizou-se o Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC), com três repetições. A análise de variância (ANOVA) e as comparações múltiplas de Tukey, ao nível de significância de 5%, realizou-se por meio do programa Assistência Estatísticas (ASSISTAT) versão 7.6 beta, 2013.
Resultado e discussão
A partir dos resultados apresentados na Tabela 01, verifica-se que as farinhas
dos resíduos de cajá destacaram-se com maior teor de compostos fenólicos (CF),
seguida das farinhas de acerola e de abacaxi. Para as determinações da atividade
antioxidante (AA), utilizou-se os lote de cada tipo de resíduo que apresentou o
maior teor de CF. Pelo método do DPPH•, o extrato da farinha dos resíduos do
cajá obteve o menor EC50 seguido da acerola e abacaxi (Tabela 02). O extrato da
farinha dos resíduos de abacaxi apresentou um valor de EC50 elevado, indicando
AA inferior aos outros dois extratos. Vários estudos apresentam a relação entre
conteúdo de CF e atividade antioxidante e verificaram uma forte relação entre
ambos em frutas e outros produtos de origem vegetal (VELIOGLU et al., 1998;
CATANEO et al., 2008; NASUTI et al., 2011). Observou-se uma correlação do tipo
exponencial muito significativa (R² ≥ 0,99) entre os teores de CF e AA (Figura
01), indicando que esses compostos são apontados como responsáveis pela ação
antioxidante dos referidos extratos através da neutralização dos radicais livres
por doação de hidrogênio radicalar. Foi também possível perceber que os valores
entre CF e o método do poder redutor (PR) foram correlatos. Isso demonstra que
os CF apresentam grande relevância para esse ensaio, corroborando com relatos de
outros autores (PATTHAMAKANOKPORN et al., 2008). Na tentativa de estabelecer
alguma relação de proporcionalidade entre o teor de CF e a AA avaliada pelo
ensaio do PR, não se observou correlação significativa. Existe correlação apenas
entre os teores de CF e o PR para os resíduos de abacaxi e acerola. Acredita-se
que os CF presentes nos resíduos de cajá não sejam totalmente ativos quanto à
redução do íon férrico ao íon ferroso.
Conclusões
A partir dos resultados obtidos, observa-se que os fitoquímicos bioativos apresentam expressiva AA e correlação direta com os teores de compostos fenólicos totais. Os extratos apresentam AA significativa (p < 0,05) tanto pelo método do DPPH (resíduos do cajá com maior AA) quanto do PR (resíduos da acerola com maior AA). Este estudo mostra que os resíduos gerados pelo processamento de frutas possuem propriedades e compostos bioativos importantes que podem ser aproveitados e, contribuindo para minimizar os prejuízos ambientais que essa matéria-prima causa quando descartada no meio ambiente.
Agradecimentos
Os autores agradecem a UESB; UFBA
Referências
ARNAO, M. B. Some methodological problems in the determination of antioxidant activity using chromogem radicals: a practical case. Trends in Food Science & Technology, v.11, p. 419-421, 2000.
BARRET, R. L. C.; CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Choque a frio e atmosfera modificada no aumento da vida pós-colheita de tomates: 2-Coloração e textura. Ciências e Tecnologia de Alimentos, v.1, p.14-26, 1994.
BRAND-WILIAMS, W.; CUVELIER, M.E.; BERSET, C. Use of a free radical method to evaluate antioxidant activity. Food Science and Technology, v. 28, p. 25-30, 1995.
BRAZILIAN FRUIT. Retrospectiva Analítica 2010 da Cadeia Produtiva das Frutas. IBRAF, 2013. Disponível em: <http://www.brazilianfruit.org/Pbr/Fruticultura/Fruticultura.asp>. Acesso em: 12 de jan. 2013.
CATANEO, C. B.; CALIARI, V.; GONZAGA, L. V.; KUSKOSKI, E. M.; FETT, R. Atividade antioxidante e conteúdo fenólico do resíduo agroindustrial da produção de vinho. Ciências Agrárias, v. 29, p. 93-102, 2008.
EMPRESA BASILEIRA DE PESQUISA E AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Iniciando um pequeno grande negócio agroindustrial: polpa e suco de frutas/Embrapa Agroindustrial de Alimentos, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 123p.: il. - (série agronegócios).
KIM, Y.; GIRAUD, D. W.; DRISKELL, J. A. Tocopherol and carotenoid contents of selected Korean fruits and vegetables. Journal of Food Composition and Analysis, Netherlands, v. 20, p. 458-465, 2007.
LOUSADA JUNIOR, J. E.; NEIVA, J. N. N.; RODRIGUEZ, N. M.; PIMENTEL, J. C. M. P.; LÔBO, R. N. B. Consumo e digestibilidade de subprodutos do processamento de frutas em ovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, p.659-669, 2005.
NASUTI, S.; SARIRI, R; AGHAMAALI, M. R.; GHAFOORI., H; SHAHMOHAMADI, R. In vitro antioxidant activity of extracts from wastes of five Iranian citrus species. Pharmacologyonline, v. 3, p.853-859, 2011.
OYAIZU, M. Studies on products of the browning reaction. Antioxidative activities of browning reaction products prepared from glucosamine. Eiyogaku Zasshi, v. 44, p. 307-315, 1986.
PATTHAMAKANOKPORN, O.; PWRASTIEN, P.; NITITHAMYONG, A.; SIRICHAKWAL, P. P. Changes of antioxidant activity and total phenolic compounds during storage of selected fruits. Journal of Food Composition and Analysis, v. 21, p. 241-248, 2008.
PIENIZ, S.; COLPO, E.; OLIVEIRA, V. R.; ESTEFANEL, V.; ANDREAZA, R. Avaliação in vitro do potencial antioxidante de frutas e hortaliças. Ciência e Agrotecnologia, v. 33, p. 552-559, 2009.
SENA, R. F.; NUNES, M. L. Utilização de resíduos agroindustriais no processamento de rações para carcinicultura. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.7, p. 94-102, 2006.
SOUSA, M. S. B.; VIEIRA, L. M.; DA SILVA, M. J. M.; LIMA, A. Caracterização nutricional e compostos antioxidantes em resíduos de polpas de frutas tropicais. Ciência e Agrotecnologia, v. 35, p. 554-559, 2011.
TALCOTT, S. T.; PERCIVAL, S. S.; PITTET-MOORE, J.; CELORIA, C. Phytochemical composition and antioxidant stability of fortified yellow passion fruit (passiflora edulis). Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 51, p. 935-941, 2003.
VASCONCELOS, S. M. L.; SILVA, A. M.; GOULART, M. O. F. Pró-antioxidantes e antioxidantes de baixo peso molecular oriundos da dieta: estrutura e função. Nutrire: Revista da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, v. 31, p. 95-118, 2006.
VELIOGLU, Y. S.; MAZZA, G.; GAO, L.; OOMAH, B. D. Antioxidant activity and total phenolics in selected fruits, vegetables, and grain products. Journal of Agricultural Food & Chemistry, v. 46, p. 4113–4117, 1998.
WETTASINGHE, M.; SHAHIDI, F. Evening primrose meal: a source of natural antioxidants and scavenger of hydrogen peroxide and oxygen-derived free radicals. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 47, p. 1801-1812, 1999.
ZHAO, B.; HALL, C. A. Composition and antioxidant activity of raisin extracts obtained from various solvents. Food Chemistry, v. 108, p. 511-51, 2008.