ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Ambiental
Autores
Nascimento, R.C. (IFRJ) ; Moreira, R. (IFRJ) ; Rito, F.V. (IFRJ) ; Vendramel, S.M.R. (IFRJ) ; Souza, S.L.Q. (IFRJ) ; Escaleira, V. (CNPS-EMBRAPA SOLOS)
Resumo
Os aterros sanitários são a solução mais adequada para a destinação final dos resíduos sólidos urbanos, sendo construídos com o objetivo de mitigar os efeitos de suas principais fontes de poluição. Contudo, o lixiviado gerado em aterros possui composição química complexa e variável, inclusive metais oriundos dos mais diversos tipos de materiais presentes nos resíduos. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi determinar as concentrações de Al, Cd, Cr, Co, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn em lixiviado gerado no processo de aterramento de resíduos urbanos da cidade do Rio de Janeiro. Para detecção dos metais utilizou-se o espectrômetro de plasma indutivamente acoplado (ICP-OES). Constatou-se que as concentrações de metais analisadas estão dentro dos limites estabelecidos pela legislação ambiental.
Palavras chaves
lixiviado; metais traço; ICP-OES
Introdução
No Brasil a principal forma de destino dos resíduos sólidos urbanos sempre foi o aterramento, em aterros sanitários e principalmente em lixões e aterros controlados. Com a aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) em 2010, determinou-se que a única forma adequada de aterramento de resíduos são os aterros sanitários. Contudo, mesmo com a remediação dos lixões e a rigorosidade dos requisitos de construção dos aterros sanitários, o processo de aterramento, seja qual for, gera elevados volumes de lixiviado, líquido com grande potencial poluidor e que consequentemente pode gerar sérios problemas quando em contato com o meio ambiente. O lixiviado pode alcançar as coleções hídricas superficiais e/ou infiltrar no solo e atingir os lençóis freáticos, comprometendo sua qualidade e, por conseguinte, seu uso (Brito-Pelegrini et al., 2004). Segundo Kjeldsen et al. (2002), os poluentes presentes no lixiviado podem ser divididos em quatro grupos: material orgânico dissolvido; macro componentes inorgânicos; metais traço e compostos orgânicos xenobióticos. Dentre estes, os metais traço, quando em altas concentrações, podem ser tóxicos danificando os sistemas biológicos visto que se bioacumulam no organismo (Celere et al., 2007). Desta forma, é imprescindível o monitoramento constante da qualidade dos lixiviados como forma de proteção dos ecossistemas terrestres e aquáticos. A poluição gerada pelo lixiviado é um problema mundial, que representa sérios riscos à saúde humana e à qualidade do meio ambiente. Assim, o objetivo deste trabalho foi determinar as concentrações de Al, Cd, Cr, Co, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn no lixiviado gerado em um aterro sanitário da cidade do Rio de Janeiro.
Material e métodos
Foram coletadas amostras de lixiviado de um aterro sanitário localizado na cidade do Rio de Janeiro. As mesmas foram acondicionadas em recipientes plásticos previamente lavados com solução de HCl 10% e água destilada. As amostras foram acidificadas com HNO3 até pH menor ou igual a 2. As amostras foram mantidas em refrigeração a 4 oC. Para a determinação de metais, as amostras foram tratadas com 3 mL de ácido nítrico concentrado e aquecidas em placa de aquecimento sem deixar as amostras secarem. Adicionou-se mais 5 mL de ácido nítrico concentrado e retornou-se o aquecimento até digestão completa. Evaporou-se até próximo à secura. Adicionou-se 10 mL de ácido clorídrico (1:1) e 15 mL de água Tipo I. Posteriormente, as amostras foram filtradas (quantitativamente) para remover o material insolúvel, a fim de evitar entupimento no ICP-OES. Os ensaios foram executados de acordo com as recomendações do Método 200.7 da Environmental Protection Agency (EPA, 2003). As amostras foram analisadas no espectrômetro de emissão por plasma indutivamente acoplado (ICP-OES) - OPTIMA 3000 Perkin Elmer.
Resultado e discussão
Por haver uma ampla variedade de resíduos nos aterros sanitários, estes são locais propícios para contaminação ambiental, assim torna-se indispensável a avaliação e se possível o controle da concentração de metais nos lixiviados. Na Tabela 1 são apresentados os resultados obtidos neste trabalho e a comparação com dados da literatura.
A partir dos resultados apresentados na Tabela 1, pode-se observar que Cd e Pb para um aterro específico da cidade do Rio de Janeiro encontraram-se abaixo do limite de detecção.
Comparando-se os resultados obtidos no lixiviado do aterro sanitário de estudo com o limite determinado pela Resolução CONAMA 430/2011, verifica-se que todos os metais avaliados apresentaram concentrações inferiores ao valor estipulado pela resolução.
Na Tabela 1 também se comparou os resultados obtidos neste estudo com dados obtidos no aterro sanitário de Ribeirão Preto e Paranavaí, observa-se que todos os valores encontram-se na faixa determinada por Nagashima et al. (2009).
Em uma revisão bibliográfica realizada por Souto e Povinelli (2007), são apresentadas as características do lixiviado gerado em 25 aterros brasileiros (18 aterros localizados na região sudeste, 5 na região sul, 1 na região nordeste e 1 na região norte). Na Tabela 1 apresenta-se uma compilação dos resultados apresentados, onde se observa uma grande variação na concentração de metais. Tal fato demonstra que a composição química dos lixiviados brasileiros é bem diferente, provavelmente em função dos resíduos depositados nos diferentes aterros.
Desta forma, é de grande importância estudos que apresentem a caracterização de lixiviados no Brasil, a fim de desenvolver tratamentos efetivos que diminuam os impactos gerados pela disposição dos resíduos sólidos urbanos.
Concentrações de metais obtidas em um aterro sanitário da cidade do Rio de Janeiro comparadas com resultados da literatura e CONAMA 430.
Conclusões
Esses resultados mostram que o lixiviado de estudo da cidade do Rio de Janeiro apresentou baixas concentrações de metais, dentro dos limites permitidos pela legislação ambiental (CONAMA). Assim pode-se dizer que os possíveis impactos que este lixiviado pode gerar ao meio ambiente e a saúde pública são minimizados no que se refere à presença de metais traço. Ressalta-se que, se as concentrações de metais estão dentro dos limites da legislação, os custos com o tratamento do lixiviado diminuem, não sendo necessário introduzir uma etapa específica para removê-los.
Agradecimentos
Ao IFRJ pela infraestrutura e auxílio financeiro (PROCIÊNCIA-PIBIC/IFRJ).
Referências
Brito-Pelegrini, N. N.; Pelegrini, R. T.; Paterniani, J. E. (2004). Filtração lenta no tratamento de percolado do aterro sanitário. Revista Minerva - Pesquisa e Tecnologia, 4, 1, 83-93.Celere, M. Sk.; Oliveira, A. S.; Trevilato, T. M. B.; Segura-Munhõz, S. I. (2007).Metais presentes no chorume coletado no aterro sanitário de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil e sua relevância para saúde pública. Caderno de Saúde Pública, 23, 4, 939-947.Gomes, L.P. Estudos de caracterização e tratabilidade de lixiviados de aterros sanitários para as condições brasileiras. (2009). Rio de Janeiro: ABES. 360p. Projeto PROSAB. Kjeldsen, P., Barlaz, M.A., Rooker, A.P., Baun, A., Ledin, A.,Christensen, T.H. (2002). Present and long-term composition of MSW landfill leachate: a review. Critical Reviews in Environmental Science and Technology, 32, 4, 297-336. Método 200.7 da Environmental Protection Agency (2003). Appendix c to part 136—inductively coupled plasma—atomic emission spectrometric method for trace element analysis of water and wastes, p. 325 – 327. Nagashima, L.A.; Barros Júnior, C de; Silva, C.A. da; Fujimura, A.S. (2009). Avaliação dos níveis de metais pesados em efluente líquido percolado do aterro sanitário de Paranavaí, Estado do Paraná, Brasil. Acta Scientiarum. Health Sciences Maringá, 31, 1, 1-8. PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos. Brasil. [Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010]. Política nacional de resíduos sólidos [recurso eletrônico]. – 2. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012.73 p. – (Série legislação ; n. 81). Resolução CONAMA 430, de 13 de maio de 2011- Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução 357, de 17 de março de 2005. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente. Souto, G.D.B. e Povinelli, J. (2007). Características do lixiviado de aterros sanitários no Brasil. In: 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Belo Horizonte.