Metodologia de análise de BFA em saliva humana por CG-EM

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Química Analítica

Autores

Matta, M.H.R. (UFMS) ; Montagner, T.A. (UFMT) ; Montagner, E. (UFMS) ; Alcântara, I.M.C. (UFMS)

Resumo

O bisfenol A (BFA), empregado na produção de plástico policarbonato e resinas epóxi, age nos organismos vivos como um xenobiótico com ação estrogênica, podendo provocar diversas alterações neurocomportamentais. Presente em resinas dentárias pode ser lixiviado da resina curada devido à incompleta conversão dos monômeros durante o processo de cura. Utilizando-se extração líquido-líquido (ELL) e análise por Cromatografia em Fase Gasosa acoplada à Espectrometria de massas (CG-EM), desenvolveu-se neste trabalho um método de análise de BFA em saliva. As recuperações variaram de 94 a 105% e os coeficientes de variação percentuais (CV %) entre 7 a 17%. Os LD e LQ do método foram de 3,5 e 10,0 ng/mL, respectivamente.

Palavras chaves

Bisfenol A; Saliva; Validação

Introdução

Substâncias xenobióticas são compostos que interferem na produção, liberação, transporte, metabolismo, ligação ou eliminação dos hormônios naturais, os responsáveis pela manutenção da homeostasia e regulação dos processos de desenvolvimento. Entre elas incluem-se substâncias químicas que mimetizam os estrogênios, anti-androgênios e moléculas atuantes em componentes do sistema endócrino tais como a tireoide (CRISP et al., 1998; BRUCKER-DAVIS, 1998; HARRISON; HOLMES; HUMFREY, 1997; SONNENSCHEIN; SOTO, 1998). A exposição de homens e animais às substâncias com ação estrogênica pode estar relacionada ao aumento da incidência de câncer de mama (ASCHENGRAU et al., 1998), queda da quantidade de esperma, diminuição da fertilidade (JENSEN et al., 1995; TOPPARI et al., 1996) defeitos congênitos secundários à exposição fetal (SAUNDERS et al., 1997) e outras alterações (ROY; COLERANGLE; SINGH, 1998). O Bisfenol A (BFA), um monômero formado por dois anéis fenólicos, empregado na produção de plástico policarbonato e resinas epóxi, é o mais comum desregulador endócrino de característica estrogênica. Muitas resinas utilizadas no tratamento dentário de pacientes são compostas pelo BFA e, quando aplicadas, são polimerizadas em situ através de foto-ativação. Porém, a tecnologia empregada não permite que haja uma completa conversão dos monômeros durante o processo de cura, de forma que monômeros livres de BFA podem ser lixiviados para a saliva (NATHANSON et al., 1997). O presente trabalho teve por objetivo desenvolver um método de análise de BFA em saliva para posterior análise de saliva de pacientes, utilizando-se derivação com N O-Bis-(trimetilsilil) trifluroacetamida (BSTFA), Extração Líquido-Líquido (ELL) e análise por Cromatografia Gasosa acoplada à Espectroscopia de Massa (CG-EM).

Material e métodos

Utilizou-se solução estoque de BFA (Aldrich, 95%) na concentração de 109 mg/L. O desempenho do sistema analítico foi avaliado com soluções padrão do analito,submetidas a processo de derivação com BSTFA contendo 10% de trimetilclorosilano (Fluka, 99%). A extração do analito foi efetuada por ELL,sendo testados vários solventes e optando-se por utilizar o que forneceu melhores resultados,acetonitrila (J. T. Baker, grau HPLC). Em tubo de ensaio,3 mL de acetonitrila foram colocados em 1 mL de saliva e,na sequência,centrifugados durante 30 min a 4.000 rpm. Transferiu-se o sobrenadante para um frasco e secou-se em estufa a vácuo a 80°C. Na sequência,o frasco foi lavado com metanol (J. T. Baker, grau HPLC) e o analito transferido para um vial de 2 mL. O extrato presente no vial foi seco sob fluxo de N2 e a derivação efetuada adicionando-se ao vial 200,0 µL de diclorometano (DCM) (Mallinckrodt, grau HPLC) e 10,0 µL de BSTFA,sendo o vial agitado por 30 s e mantido durante 10 min em estufa a 40º C. Em seguida,a amostra foi seca novamente sob suave fluxo de N2, retomada a 1,0 mL com DCM e analisada por CG-EM. O equipamento CG-EM utilizado foi QP-2010 Plus (Shimadzu),equipado com injetor automático AOC-20i,com coluna cromatográfica Rtx-5MS (30 m x 0,25 mm x 0,25 μm) da Restek. O gás de arraste foi He (White Martins, 5.0 analítico) e o volume de injeção de 1 μL (splitless). A varredura de íons no modo SCAN variou de m/z 60 a 500. Para construção da curva analítica do BFA, foram preparadas e analisadas, em triplicata, soluções padrão nas concentrações de 10, 30, 50, 70 e 100 ng/mL em etanol (Vetec, 95%). Para a validação foram avaliados os seguintes parâmetros: limite de detecção (LD), limite de quantificação (LQ), linearidade, sensibilidade, precisão e exatidão.

Resultado e discussão

Na análise por CG-EM o tempo de retenção de soluções de BFA, com derivação, na concentração de 5,0 ng/mL foi de 12,5 min e os íons escolhidos para serem monitorados na análise foram 357 e 372 m/z. O equipamento apresentou uma alta detectabilidade para o BFA derivado, obtendo-se LD e LQ igual a 3,5 ng/mL e 10,0 ng/mL, respectivamente. A curva analítica foi construída no intervalo de 10 a 100 ng/mL para o BFA derivado. O resultado da equação obtida pela regressão linear da curva analítica, y = 369,03x – 1347,60, e o bom coeficiente de correlação, R=0,9909, indicam uma forte correlação entre os valores de área obtidos com as concentrações utilizadas e boa linearidade nos intervalos estudados. Através do coeficiente angular da curva, é possível identificar que a análise do BFA com derivação com BSTFA apresenta boa sensibilidade. A precisão foi avaliada através dos coeficientes de variação CV(%) em que os valores variaram de 7,0 a 17,0 %, sendo o método considerado preciso, pois todos os valores de CV(%) estiveram abaixo do limite, recomendado pela literatura de 20% (RIBANI et al., 2004). A exatidão foi avaliada pelos valores percentuais de recuperação, sendo o método considerado exato, uma vez que as recuperações estiveram dentro do limites (70 a 120%), estabelecidos pela literatura na área de análise de resíduos de pesticidas (RIBANI et al., 2004). Os dados podem ser vistos na Tabela 1.

Tabela 1

Recuperações em amostras de saliva fortificadas com BFA

Conclusões

O método desenvolvido e validado utilizou a ELL, derivação com BSTFA e detecção por CG-EM. A precisão e a exatidão foram avaliadas através de ensaios de recuperação, com recuperações variando de 94 a 105% e CV (%) variando entre 7 a 17%, com LD e LQ do método de 3,5 e 10,0 ng/mL, respectivamente. Os resultados obtidos demonstram que o método é simples, rápido, eficiente e de baixo custo, podendo ser utilizado com confiabilidade na determinação qualitativa e quantitativa do BFA em amostras reais de saliva de pacientes submetidos a tratamento com resinas dentárias.

Agradecimentos

PROPP/UFMS, Sesu/MEC, Dra. Suely Flores Grisoste Barbosa (cirurgiã-dentista) pelo fornecimento e informações quanto às resinas dentárias utilizadas.

Referências

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