ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Química Analítica
Autores
Siqueira, J.S. (UFPA) ; Mescouto, C.S.T. (UFPA) ; Dantas, K.G.F. (UFPA) ; Dantas Filho, H.A. (UFPA) ; Venturiere, G.C. (EMBRAPA)
Resumo
As abelhas Melipona utilizam vários materiais para a construção dos seus ninhos como o barro, resinas e própolis, que misturados dão origem ao geoprópolis. Neste estudo, procedimentos analíticos para a determinação de constituintes inorgânicos em geoprópolis do Estado do Pará foram propostos. As amostras depois de pulverizadas e pesadas foram digeridas em forno de micro-ondas fechado com a mistura de ácido nítrico e peróxido. O resíduo remanescente foi solubilizado com ácido fluorídrico. As soluções foram diluídas e em seguida conduzidas para a análise em ICP OES. Os resultados mostraram que os maiores teores foram obtidos para Fe e as menores concentrações para Cu. Este estudo foi de suma importância para o conhecimento da composição química do geoprópolis produzido por abelhas nativas.
Palavras chaves
Geoprópolis; Constituintes inorgânicos; ICP OES
Introdução
O Brasil é rico em espécies de abelhas sociais nativas, conhecidas como abelhas indígenas sem ferrão ou meliponíneos. As abelhas melipona utilizam diversos materiais para a construção e proteção dos seus ninhos tais como resinas, cera e barro. Este último misturado com resinas e própolis forma o geoprópolis, que é utilizado, principalmente, para fechar as aberturas na construção da entrada e do batume divisório. Este geoprópolis é de consistência dura e possui coloração característica do barro da região. As abelhas nativas sem ferrão habitam principalmente regiões tropicais e subtropicais. Estas abelhas são excelentes agentes polinizadores e também produzem mel e própolis, mas em quantidade reduzida e com composição pouco estudada (MENEZES, 2005). Melipona scutellaris, também conhecida como uruçú, é encontrada no nordeste do Brasil e produz um tipo diferente de própolis chamada geoprópolis. Existem relatos que este produto é usado empiricamente para o tratamento de gastrite e como agente antibacteriano. Poucos são os estudos da composição química da própolis de abelhas na Região Amazônica. Existe apenas um estudo da composição química e atividade antibacteriana da própolis da espécie de abelha de Apis mellifera oriunda da cidade de Manaus, mas nenhuma informação foi encontrada sobre o geoprópolis das espécies de abelhas de Melipona interrupta e Melipona seminigra (Apidae, Meliponini) nativas da Região Amazônica (SILVA et. al., 2013). Sendo assim, visto que informações na literatura ainda são insipientes sobre a composição mineral de amostras de geoprópolis torna-se relevante o desenvolvimento de procedimentos analíticos para a determinação de constituintes inorgânicos (Ca, Fe, K, Mg, Cu e Zn) em geoprópolis produzido por abelhas sem ferrão do Estado do Pará.
Material e métodos
As amostras foram obtidas em vários municípios do Estado do Pará: geoprópolis de Belém (G.BEL), geoprópolis de Bragança (G.BRA), geoprópolis de Tracuateua (G.TRA), geoprópolis de Barcarena (G.BAR), geoprópolis de Igarapé Mirin (G.IMI), geoprópolis de São João de Pirabas (G.SJP), geoprópolis de Colares (G.COL), geoprópolis de Vigia (G.VIG), geoprópolis de Santo Antônio do Tauá (G.SAT), geoprópolis de São Caetano de Odivelas (G.SCO) e geoprópolis de Belterra (G.BET). As amostras foram pulverizadas usando um moinho criogênico e, em seguida, uma massa de aproximadamente 0,2 g de cada amostra em triplicata foi pesada e transferida para os tubos do forno de micro-ondas com cavidade. Um volume de 4 mL de HNO3 14 mol/L (m/v) e 4 mL de H2O2 30% (m/m) foram adicionados às amostras. Na digestão em forno de micro-ondas o programa de aquecimento usado foi o seguinte: na primeira e segunda etapa foram utilizadas temperaturas de 200 °C e 800 W de potência por 10 e 20 min, respectivamente; e a terceira etapa foi apenas uma ventilação com duração de 50 min. As soluções obtidas na digestão foram diluídas com água ultra pura, centrifugadas e, em seguida, deixadas em repouso por 24 h. Posteriormente, a solução sobrenadante foi separada do resíduo e a este último foi adicionado 1 mL do ácido fluorídrico 40% (m/v). Essa mistura foi agitada em agitador Vortex e, logo após, em mesa agitadora por 48 h. Após a dissolução do resíduo foi adicionado 0,5 g de ácido bórico para neutralização dos fluoretos, seguida de centrifugação. A solução obtida com a dissolução do resíduo foi adicionada ao sobrenadante obtido na digestão em forno de micro- ondas e então os volumes foram ajustados com água ultra pura para 14 mL. Os analitos foram determinados nos digeridos das amostras por ICP OES.
Resultado e discussão
O ferro foi o elemento que esteve presente em maior concentração nas amostras de
geoprópolis, com teores máximo e mínimo de 23128,85 e 2625,33 mg/kg. As
concentrações de Ca e K foram significativas, principalmente nas amostras do
município de Santo Antônio do Tauá (G.SAT 1 e G.SAT 2), as quais apresentaram
teores de 3888,00 mg/kg de Ca e 2046,26 mg/kg de K, respectivamente. Os teores
de Mg obtidos variaram de 3904,96 mg/kg a 126,19 mg/kg. Cobre e zinco
apresentaram os menores teores nas amostras, com concentrações majoritárias de
21,92 e 68,22 mg/kg, respectivamente.
Os teores elevados de Ca e K encontrados nesse estudo foram similares às
concentrações obtidas por KORN e colaboradores (2012) ao determinarem Ca (267-
1099); Cu (0,33-2,63); Fe (21-364); K (199-1892); Mg (162-387) e Zn (47-132)
mg/kg em amostras de própolis por ICP OES. Contudo, os geoprópolis do município
de Santo Antônio do Tauá apresentaram teores mais elevados de cálcio. Esses
valores acima da média podem ser explicados devido ao local de coleta apresentar
um solo de caráter eutrófico, ou seja, onde há uma saturação e soma de bases
trocáveis com elevados teores de cátions como Na+, Mg2+ e Ca2+ (EMBRAPA, 2004).
As concentrações de Mg obtidas nesse trabalho foram superiores aos teores
determinados por KORN e colaboradores, bem como, os teores de Cu e Fe. No
entanto, as concentrações de Zn encontradas nas amostras de geoprópolis foram
inferiores aos teores obtidos na literatura referente. Os limites de detecção e
quantificação obtidos nas análises foram 0,74-2,47(Ca); 0,08-0,27(Cu); 0,54-
1,80(Fe); 0,06-0,21(Mg); 9,079-30,275(K) e 0,40-1,34 (Zn) mg/Kg,
respectivamente. Através do teste de adição e recuperação a metodologia de
análise foi validada com recuperação variando entre 93,8 a 103,0 %.
Teores médios (mg/kg) e respectivos desvios padrão (n=3) obtidos para Ca, Cu, Fe, K, Mg e Zn em digeridos de amostras de geoprópolis.
Conclusões
Os procedimentos de digestão usando forno de micro-ondas fechado acrescido das adições de ácidos e peróxido de hidrogênio foi eficiente na digestão das amostras.Os resultados obtidos mostraram teores significativos de Fe, Ca, Mg e K nas amostras de geoprópolis. Contudo, Cu e Zn foram os elementos encontrados em menores quantidades nas amostras. O presente estudo foi de suma importância para o conhecimento sobre a composição mineral do geoprópolis produzido por abelhas nativas do Estado do Pará.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPQ, CAPES E FAPESPA.
Referências
Korn, M. G. A.; Guida, M. A. B.; Barbosa, J. T. P.; Torres, E. A.; Fernandes, A. P.; Santos, J. C. C.; Dantas, K. G. F.; Nóbrega, J. A. Evaluation of sample preparation procedures for trace element determination in brazilian propolis by inductively coupled plasma optical emission spectrometry and their discrimination according to geographic region. Food Anal. Methods, Vol. 6, 872-880, 2012.
Menezes, H. Própolis: uma revisão dos recentes estudos de suas propriedades farmacológicas. Arquivo. Inst. Biologia., São Paulo, v.72, nº.3, p.405-411, 2005.
Pinto, L.M.A.; Prado, N.R.T.; Carvalho, L.B. Propriedades, usos e aplicações da própolis. Revista Eletrônica de Farmácia, vol. VIII (3), 76-100, 2011.
RODRIGUES, Tarcísio et al. Caracterização e Classificação de Solos do Município de Santo Antônio do Tauá, Estado do Pará. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2004. 49p.
Silva, E.C.; Muniz, M.P.; Nunomora, R.C.S.; Nunomora, S.M.; Zilse, G.A.C. Constituintes fenólicos e atividade antioxidante da geoprópolis de duas espécies de abelhas sem ferrão amazônicas. Química Nova, Vol. 36, Nº. 5, 628-633, 2013.