ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Iniciação Científica
Autores
Menezes, J. (CEFET-MG) ; Alvim, R. (CEFET-MG) ; Borges, G. (CEFET-MG) ; Lagneau, J. (UNIVERSITÉ JOSEPH FOURIER, GRENOBLE) ; Machado, A. (CEFET-MG) ; Gomes, F. (CEFET-MG)
Resumo
Atualmente, o chá é uma das bebidas mais consumidas no mundo, exigindo assim, um rigoroso controle de qualidade. O trabalho iniciou-se com a análise de rótulos das amostras, onde 93% destas estavam incompletos. Através de análises macro e microscópicas foram encontrados caules de plantas e insetos, sendo estes, em média 23% do peso da embalagem. O teor de cinzas e de umidade estava de acordo com o requerido pela legislação em todas as amostras. Nas análises microbiológicas observou-se ausência de Salmonella; a contagem de bactérias mesófilas e bolores apresentaram valores dentro do limite em 93% das amostras. Em relação à E. coli os valores estavam acima do limite estabelecido (102 UFC/g). Os resultados relatam a necessidade de um controle mais rígido em relação à comercialização dos chás.
Palavras chaves
Chá verde; Controle de qualidade; Análises físico-químicas
Introdução
De acordo com a legislação brasileira, chá é todo produto constituído por uma ou mais partes de todo vegetal, espécies fragmentadas ou moídas, com ou sem fermentação, tostada ou não. Os diferentes tipos de chás (verde, preto, vermelho ou branco) dependem do processamento que a planta Camellia sinensis irá sofrer (Brasil, 2005). As partes mais utilizadas de C. sinensis na produção dos chás são as folhas e brotos, que possuem cerca de 30% de compostos polifenólicos, que têm sido alvo de muitas pesquisas como os principais responsáveis pelas propriedades biológicas atribuídas à planta (Simões, 2004). O chá produzido a partir da C. sinensis, é considerado a segunda bebida não alcoólica mais consumida no mundo. Alguns estudos já realizados demonstraram que os polifenóis presentes no chá verde apresentam bioatividades importantes em patologias como a diabetes mellitus, cardiopatias, e em doenças degenerativas, como o cancêr e o envelhecimento (Han, 2004). A legislação brasileira garante a segurança, a eficácia e a qualidade do acesso às plantas medicinais e de fitoterápicos, além de promover e reconhecer a prática popular de uso das plantas medicinais e remédios caseiros, incentivando a adoção de boas práticas de manipulação e produção, a fim de garantir um produto de qualidade para consumo (Brasil, 2004). Os chás exigem estudos científicos mais detalhados, assim, para a etapa de avaliação clínica, o controle de qualidade torna-se uma prática absolutamente indispensável (Brandão et al, 2006). O presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de amostras de chá verde comercializadas em Belo Horizonte- MG por meio de análises dos rótulos, análises macroscópicas, microscópicas, físico-químicas (umidade e cinzas) e microbiológicas.
Material e métodos
As 15 amostras de chá verde analisadas foram obtidas em mercados e feiras de Belo Horizonte. As análises dos rótulos consistiram na observação de informações essenciais para o uso correto do produto, de acordo com a legislação brasileira, como data de validade, nome científico da planta, indicações e/ou contra- indicações, modo de uso, dentre outros. Para a análise do teor de umidade, colocou-se 3 g das amostras previamente pesadas em cadinhos de porcelana a 120ºC, em seguida deixou resfriar à temperatura ambiente, repetindo este processo até que o peso da amostra se tornou constante. Posteriormente, as mesmas amostras foram colocadas em uma mufla a 500ºC durante 3 horas. Após esse período e o arrefecimento até temperatura ambiente, as amostras foram novamente pesadas para obtenção do teor de cinzas. Para as análises microbiológicas, foram diluídas 10 g das amostras em 90 mL de solução tampão cloreto de sódio-peptona (pH=7), sob agitação por 10 minutos, seguindo para as diluições sucessivas em tubos de ensaio contendo 9 mL de solução cada. Na análise de bactérias mesófilas, as diluições selecionadas foram inoculadas pela técnica de pour plate em ágar PCA e incubadas a 35ºC por 48hs. Para análises de bolores e leveduras, as diluições foram inoculadas em ágar Sabouraud-Dextrose 4% e incubadas a 26ºC por 7 dias. A análise de Escherichia coli foi feita a partir do enriquecimento em caldo Lactosado e posteriormente inoculado 0,1 mL do mesmo em ágar Eosina Azul de Metileno, com incubação a 35ºC por 48hs. Na análise de presença/ausência de Salmonella spp o enriquecimento foi feito em Caldo Rappaport Vassiliadis (35ºC/24h) e em seguida transferido por estriamento ao ágar Xilose Lisina Desoxicolato, e as placas incubadas a 35ºC por 24h.
Resultado e discussão
Constatou-se através da análise de rótulos que 93% das amostras não continham
todas as informações exigidas pela legislação (Tabela 01). A Farmacopeia
Brasileira (2010) estabelece um limite máximo de 2% m/m de material estranho
presente em drogas vegetais, porém todas as amostras estavam acima do valor
permitido, apresentando em média 23% de material estranho em cada amostra, o que
afeta diretamente a qualidade do produto. A legislação brasileira estabelece um
valor máximo de 12% para o teor de umidade no chá verde (Brasil,1998).
Analisando a Tabela 02 observa-se que 12 amostras estão de acordo com o valor
exigido, evidenciando suas boas condições, uma vez que o excesso de umidade pode
ser prejudicial, pois favorece a atividade enzimática e a proliferação de micro-
organismos. Para o teor de cinzas, que determina a quantidade de resíduo não
volátil presente nas amostras, todas estavam dentro do valor permitido (8%) pela
legislação (Brasil, 1998). Por fim, de acordo com os limites estabelecidos pela
Farmacopeia Brasileira (2010), as análises microbiológicas mostraram que todas
as amostras estão dentro dos limites para bactérias mesófilas (107 UFC/g), com
variação de contagem entre 1,7x103 UFC/g e 7,6x104 UFC/g. Para bolores e
leveduras (104 UFC/g), somente a amostra 7 obteve valor acima do permitido
(1,0x105 UFC/g), as demais amostras tiveram contagem entre 5,0x101 UFC/g e
4,6x103 UFC/g, sendo que em 3 destas não houve presença de bolor ou levedura.
Além disso, nenhuma amostra apresentou presença de Salmonella spp. Em relação à
análise de E.coli, as amostras apresentaram valores acima do limite estabelecido
(102 UFC/g), sendo o valor mínimo de contagem encontrado de 5,25x104 UFC/g.
A Tabela 1 relata a presença (X) ou ausência (-) das principais informações exigidas pela legislação que foram analisadas nas embalagens das amostras.
A Tabela 2 mostra os valores encontrados para o teor de umidade e de cinzas nas amostras de chá verde analisadas.
Conclusões
A análise de rótulos revela um controle ineficaz na normalização de dados sobre a planta e sua ação terapêutica. Os índices superiores ao permitido de material estranho podem ser resultados de manejo, limpeza e separação inadequados. Verificou-se, que as análises de umidade e cinzas estão de acordo com a legislação em 80% e 100% das amostras, respectivamente. Os valores de bactérias mesófilas, bolores e leveduras estão dentro do limite estabelecido em sua maioria, além da ausência de Salmonella. Porém, a quantidade de E.coli acima do valor permitido, torna as amostras impróprias para consumo.
Agradecimentos
Fapemig, CNPq e CEFET-MG pelo apoio financeiro.
Referências
Brasil. Portaria n°. 519 de 26 de Junho de 1998 (ANVISA). Regulemento Técnico para fixação de Identidade e Qualidade de “Chás-Plantas destinadas à preparação de infusões ou decocções”. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 29 de jun.1998.
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Brasil, Resolução RDC nº 12, de 22 de setembro de 2005 (ANVISA). Regulamento Técnico para café, cevada, chá, erva-mate e produtos solúveis. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 29 de set. 2005.
Brandão, M. G. L.; Cosenza, G. P.; Moreira, R. A.; Monte-Mor, R. L. M. Medicinal plants and other botanical products from the Brazilian Official Pharmacopoeia. Revista Brasileira de Farmacognosia. p.408-420, 2006.
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