ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Iniciação Científica
Autores
Martins, B.A. (CEFET-MG) ; Caldeira, G.S. (CEFET-MG) ; Gomes, F.C.O. (CEFET-MG) ; Lucas, E.M.F. (CEFET-MG)
Resumo
Um tratamento popular para a micose de unha consiste na aplicação tópica de um fitoterápico preparado pela mistura 1:1 de soluções de sementes de sucupira e cascas de romã, ambas 20% (p/v), deixadas por 14 dias em contato com álcool absoluto. Objetivando verificar como a alteração da composição da solução extratora afeta o fitoterápico, este foi preparado empregando álcool comercial (45%), absoluto, e soluções hidroalcoólicas de concentrações variadas (10 à 90%). O perfil químico foi avaliado por cromatografia em camada delgada (CCD), e a ação antimicrobiana por testes de difusão em disco. Os extratos de cascas de romã preparados com álcool comercial e solução hidroalcoólica 40% foram os que exibiram maior atividade antifúngica.
Palavras chaves
antifúngico; sucupira (B. nítida); romã (P. granatum)
Introdução
O emprego de vegetais em remédios caseiros utilizados popularmente para tratar doenças é uma prática mundial, sendo altamente recomendada pela Organização Mundial de Saúde nos países emergentes (LEITE, 2009). Porém, para que um destes remédios seja reconhecido como um medicamento, é essencial que sua eficácia e segurança sejam cientificamente comprovadas e sua metodologia de preparo seja estabelecida (SIMÕES et al, 2010). A micose de unha (onicomicose), resultante da infecção por espécies de fungos patogênicos, é uma afecção muito comum em nosso país. Entretanto, o tratamento alopático convencional envolve a utilização via oral e, por longo período de tempo, de medicamentos que apresentam vários efeitos colaterais (AZULAY e AZULAY, 1997). Há relatos populares que citam a eficiência do emprego de uma infusão preparada com sementes de sucupira (Bowdichia nítida) e cascas de romã (Punica granatum) na cura desta afecção. No intuito de acumular dados que possibilitem estabelecer um protocolo de preparo para esta alcoolatura, que seja o menos oneroso e mais eficaz possível, foi verificado como a composição química qualitativa e a eficácia sobre a inibição do fungo Candida albicans (um dos causadores da onicomicose) é afetada pela variação da composição da solução empregada na extração do material vegetal. A definição deste parâmetro possibilita verificar se o álcool comercial, que tem concentração de 45%, poderia ser utilizado na preparação do referido fitofármaco, sem que haja prejuízo em sua eficácia.
Material e métodos
PREPARAÇÃO DOS EXTRATOS: As sementes de sucupira (Amazônia - CNPJ 02.750.085/0001-50/lote: junho de 2013) e as cascas de romã secas e trituradas (Alternativa - CNPJ 073.464.91/0001-76/lote: março de 2014) foram adquiridas no Mercado Central de Belo Horizonte. Para a preparação dos extratos, as sementes de sucupira e as cascas de romã foram trituradas, pesadas (2,0g de cada) e acondicionadas, separadamente, em frascos âmbar ao abrigo da luz e em contato com 10,0 mL de cada um dos seguintes sistemas extratores: etanol comercial (Claro/lote 58), etanol absoluto (EMFAL/lote 0201.0084-10/13) e soluções preparadas com etanol absoluto em água destilada nas concentrações de 10 à 90% (v/v). Após 14 dias de contato, os sistemas foram filtrados resultando nos extratos. Todos os extratos foram preparados em duplicata. AVALIAÇÃO DO PERFIL QUÍMICO: foi realizada por cromatografia em camada delgada (CCD) de sílica gel, empregando-se os seguintes sistemas eluentes: solução clorofórmio-metanol 7% (extratos de sucupira), e butanol-ácido acético-água [6:1:2] - (extratos de romã). Como revelador, utilizou-se a solução de Godin (solução [1:1] de vanilina 1% em metanol e ácido perclórico 3% em água). O perfil químico foi avaliado tanto para o extrato recém obtido quanto para o mesmo sete dias após sua obtenção. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA: foi realizada pelo teste de difusão em disco, modificado pelo uso de vapores de clorofórmio para promover a difusão dos metabólitos apolares no meio de cultura - agar Sabouraud (HIMEDIA/lote 126204). O microrganismo testado foi o fungo Candida albicans. Empregaram-se discos embebidos por 100 μL de Nistatina (100.000 UI/mL/Genéricos Teuto/lote 2643064) - falso positivo -, e etanol comercial - falso negativo.
Resultado e discussão
EXTRATOS DE ROMÃ: Os perfis químicos dos extratos obtidos pelo sistema extrator
que empregou soluções hidroalcoólicas de concentrações entre 10 e 50% foram
idênticos, exibindo duas manchas nos testes de CCD. Os extratos obtidos pela
extração com soluções hidroalcoólicas de concentrações entre 60 e 90%, assim
como pelo etanol absoluto, exibiram apenas uma mancha. Para os extratos ainda
frescos foi observada uma mancha além das descritas anteriormente. Com relação
ao teste de
difusão em disco, os extratos obtidos pela
extração com soluções hidroalcoólicas de concentrações 40 e 50%, assim como por
etanol comercial, conduziram aos maiores halos de inibição, evidenciando a maior
eficácia sobre a inibição do fungo Candida albicans. EXTRATOS DE
SUCUPIRA: Nos testes de CCD, os extratos obtidos por soluções hidroalcoólicas de
concentrações entre 10 à 40% não exibiram nenhuma mancha; os extratos obtidos
pelo etanol comercial e por soluções de concentrações 50 e 60% exibiram quatro
manchas; e os obtidos por concentrações superiores a 70%, assim como pelo etanol
absoluto, exibiram sete manchas. Nenhum dos extratos de sucupira exibiu
atividade antimicrobiana. MISTURA DOS EXTRATOS: Os fitoterápicos obtidos pela
mistura 1:1 dos extratos de cada espécie vegetal, obtidos quando os sistemas
extratores foram o etanol comercial e soluções hidroalcoólicas de concentrações
40 - 70%, foram os que apresentaram maiores halos de inibição.
Conclusões
A variação na composição da solução hidroalcoólica empregada na extração dos metabólitos da romã e da sucupira, afeta tanto o perfil químico, quanto a eficácia da ação antimicrobiana dos extratos. De modo geral, o aumento da concentração do etanol promove diminuição no número de metabólitos extraídos. Os maiores halos de inibição observados foram os dos extratos obtidos utilizando como sistema extrator soluções hidroalcoólicas de concentração de 40-50% e etanol comercial, evidenciando que o fitoterápico pode ser preparado com etanol comercial sem que haja perda da sua eficácia.
Agradecimentos
À FAPEMIG e ao CEFET-MG, pelo apoio financeiro.
Referências
AZULAY e AZULAY, Dermatologia, 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
LEITE, J. P. V. Fitoterapia - Bases científicas e tecnológicas. São Paulo: Atheneu, 2009.
SIMÕES, C. M.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; MELLO, J. C. P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R. Farmacognosia - da planta ao medicamento, 6ª ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2010.