ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Iniciação Científica
Autores
Barradas Filho, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - MA) ; Bezerra, C.A.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Pereira Marques, E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - MA) ; Rodrigues Cavalcante, G.H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - MA) ; Marques, A.L.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Marques, D.B. ()
Resumo
O objetivo do presente trabalho é estudar, estatisticamente, o efeito da adição de álcool etílico anidro (AEA) na gasolina, através de ensaios de curva de destilação, teor de AEA e determinação da massa específica à 20°C. A metodologia de coleta de dados foi realizada por meio de procedimentos experimentais que possibilitaram a aquisição de dados referentes ao teor de AEA, à curva de destilação da gasolina com diferentes teores de AEA, e à massa específica da gasolina a 20°C. O teor de AEA e a massa específica foram usados como dados de entrada na predição da temperatura de ebulição da gasolina por Redes Neurais Artificiais (RNA), obtendo-se bons resultados preditivos por meio dessa técnica. A massa específica foi determinada diretamente a partir de regressão linear por mínimos quadrados.
Palavras chaves
Gasolina; Controle de Qualidade; Redes Neurais Artificiais
Introdução
O setor de controle de qualidade de combustíveis desempenha um importante papel no que se refere à defesa aos direitos do consumidor, além do papel socio- ambiental, ao impedir que combustíveis adulterados com substâncias nocivas ao meio ambiente e à saúde humana sejam usados em veículos que transitam pelas cidades brasileiras. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estabelece, por meio de suas resoluções, que o controle de qualidade da gasolina automotiva brasileira deve ser feito baseado em parâmetros, tais como, teor de álcool etílico anidro; massa específica à 20°C e curva de destilação. Por meio desses parâmetros é possível constatar se uma determinada gasolina está ou não adulterada, permitindo que a ANP tome as devidas providências quanto a comercialização desse combustível adulterado. No entanto, a verificação desses parâmetros, experimentalmente, tem um alto custo das análises de controle de qualidade. Isso se deve ao alto preço da infraestrutura laboratorial, alto consumo de energia elétrica por parte de destiladores e densímetros digitais, além do longo tempo de análise, considerando o volume de amostras analisadas, diariamente. Essas questões têm motivado uma intensiva busca por técnicas estatísticas e ferramentas computacionais que sejam capazes de fazer a predição dos parâmetros de qualidade, substituindo o procedimento experimental, principalmente os mais onerosos. Seguindo essa perspectiva de busca, o presente trabalho tem como objetivo determinar os parâmetros curva de destilação e massa específica, para diferentes composições de amostras de gasolina contendo álcool etílico anidro, por meio do uso de técnicas estatísticas e RNAs.
Material e métodos
Amostras de gasolina A e AEA (obtidos, respectivamente, a partir de separação/purificação e destilação, no próprio laboratório) foram usados na preparação das diferentes amostras de Gasolina C. A metodologia experimental consistiu de duas etapas principais. Em um primeiro momento foi feita a preparação das amostras de gasolina com diferentes percentagens de AEA (gasolinas adulteradas). Posteriormente, foram feitos os testes da gasolina C preparada. Para a adulteração da gasolina A (purificada no laboratório) com o AEA, adicionou-se, gradativamente, 5% de AEA à gasolina, partindo-se de 100% de gasolina pura até que se obtivesse uma amostra com 100% de AEA. O volume total de gasolina para cada teor de álcool etílico anidro foi de 400 ml, a fim de permitir que os testes de destilação e massa específica fossem feitos em triplicata. Para a determinação da curva de destilação foi adotado o procedimento padrão apresentado pela norma ABNT NBR 9619 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). Os equipamentos utilizados foram três destiladores modelo OptiDist Herz 200 da Pac. A massa específica a 20 °C da gasolina preparada com diferentes teores de AEA foi determinada com base na norma ABNT NBR 14065 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). O equipamento utilizado para estas determinações foi o densímetro digital modelo DMA 4500 da ANTON PAAR. As técnicas de predição utilizadas foram a regressão linear, por meio da técnica dos mínimos quadrados e a ferramenta computacional RNA. Tanto a regressão linear quanto a construção das arquiteturas das RNA foram feitas no software Statistica 10 da StatSoft®. Para a construção das RNAs foi utilizando a arquitetura de rede do tipo Multilayer Perceptron (MLP) com múltiplas camadas de neurônios durante o treinamento de cada rede.
Resultado e discussão
A massa específica da gasolina comportou-se linearmente frente à adição
sucessiva de AEA à cada amostra de gasolina. A cada adição de AEA observou-se um
aumento progressivo da massa específica da mistura gasolina-AEA, conforme é
esperado tendo em vista que a massa específica do AEA, é maior que a massa
específica da gasolina pura à uma mesma temperatura. Dessa relação linear, por
meio da regressão por mínimos quadrados, foi possível equacionar o comportamento
da massa específica da gasolina em função do teor de AEA presente na amostra de
combustível. Assim, através da equação da curva analítica (Figura 1), foi
possível se obter um alto nível de correlação, de 99,92%, o que indica que a
predição por este método é similar ao método experimental, para a determinação
da massa específica da gasolina. O comportamento da temperatura de ebulição da
gasolina não seguiu o padrão linear. Dessa forma, a predição das temperaturas de
ebulição não pode ser feita de forma satisfatória por meio da equação da curva
analítica obtida da regressão linear por mínimos quadrados. Por isso, o uso de
RNAs foi necessário para a determinação de resultados preditivos com maior
qualidade. A Figura 2 ilustra a relação entre os valores de temperatura de
ebulição preditos versus os resultados experimentais da temperatura de ebulição
da gasolina para o ponto no qual 90% da gasolina destilada é recuperada. Os
resultados de predição foram obtidos por meio do processamento de uma RNA com
arquitetura MLP 2-19-1, selecionada após treinamento de 10 mil RNAs, usando o
algoritmo BFGS. Os dados de entrada da rede foram o teor de AEA e a massa
específica da gasolina à 20°C, e a variável de saída da rede foi a temperatura
de ebulição da gasolina no ponto 90%, obtendo-se um coeficiente de correlação de
0,9979.
Figura 1. Gráfico da variação da massa específica da gasolina em função da variação do teor de AEA presente na mistura gasolina-AEA.
Figura 2. Para a relação descrita no gráfico, o coeficiente de correlação foi da ordem de 0,9979 e a soma dos erros quadrados foi de 0,60.
Conclusões
Por meio de análise estatística simples, constatou-se que o teor de AEA presente na gasolina pode ser usado na determinação da massa específica da gasolina. Proporcionando bons resultados de predição de correlação entre a massa específica e o teor de AEA, sendo obtidos por meio da equação linear da curva analítica. Já a temperatura de ebulição variou de forma não linear com a o teor de AEA presente na gasolina, sendo necessário o uso de RNAs, que apresentou um bom desempenho nos testes de predição da temperatura de ebulição da gasolina no ponto 90% da destilação desse combustível.
Agradecimentos
NEPE (UFMA); LAPQAP (UFMA); LPQA (UFMA); CNPq.
Referências
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