ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Iniciação Científica
Autores
Alencar, L.M. (UFGD) ; Santos, R.B. (UFGD) ; Silva, R.A.B. (UFGD)
Resumo
Neste trabalho foi desenvolvido um método eletroanalítico para o doseamento de dipirona em medicamentos comerciais contendo apenas dipirona ou mistura de dipirona e cafeína. A metodologia desenvolvida utiliza a técnica Análise por Injeção em Batelada (BIA) com detecção amperométrica (AMP) e eletrodo de diamante dopado com boro (DDB). O método proposto apresentou uma faixa linear entre 0,1 a 25 mg/L, baixos limites de detecção (LD = 0,1278 mg/L) e de quantificação (LQ = 0,4262 mg/L. Além disto, o sistema proposto é simples, robusto e portátil. Os resultados obtidos pela metodologia proposta foram semelhantes aos obtidos pelo método recomendado pela farmacopeia brasileira (titulação iodimétrica) e as dosagens encontradas ficaram próximas às indicadas nos rótulos dos medicamentos.
Palavras chaves
Dipirona; Análise por injeção em ba; Amperometria
Introdução
A dipirona é o nome popular do sal sódico do ácido 1-fenil-2,3-dimetil-5- pirazolona-4-metilaminometanossulfônico. A dipirona (DI) é o analgésico mais comercializado no Brasil, sendo indicada no combate da dor e da febre. No mercado nacional pode ser encontrada na forma de comprimidos, soluções orais e injetáveis, bem como na presença de outros princípios ativos. Devido à elevada presença deste fármaco no mercado farmacêutico, o controle de qualidade dos medicamentos contendo dipirona é extremamente importante. De acordo com a farmacopéia brasileira, é recomendado que a análise de dipirona em um medicamento deve ser realizada empregando o método da titulação iodimétrica (FARMACOPÉIA, 2010). No entanto, nesta titulação, além da elevada geração de resíduos, possui a precisão comprometida por conta da instabilidade da solução de iodo na presença de ar (PEREIRA, et al, p.553-557, 2002). Neste sentido, o desenvolvimento dos métodos eletroanalíticos é bastante vantajoso, devido à desnecessidade da adição de reagentes (reação de DI na interface eletrodo/solução), confiabilidade, custo reduzido da instrumentação, baixos limites de detecção. Dentre as possibilidades, um sistema eletroquímico hidrodinâmico conhecido como análise por injeção em batelada (BIA) pode ser vantajoso, devido à elevada sensibilidade e rapidez nas análises, bem como à possibilidade da realização de análises em campo (na própria farmácia). O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma metodologia para a análise de dipirona em formulações farmacêuticas empregando um sistema de análise por injeção em batelada (BIA) com detecção amperométrica. Para verificar a eficácia desta metodologia, as análises de medicamentos contendo DI também foram realizadas pelo método da farmacopeia (titulação iodimétrica).
Material e métodos
A solução de ácido sulfúrico 0,1 mol/L (eletrólito suporte) foi preparada pela diluição do ácido concentrado 98 %. As soluções de dipirona ou cafeína, foram preparadas pela dissolução de quantidade adequada dos respectivos reagentes no eletrólito suporte (ácido sulfúrico 0,1 mol/L). Todas as soluções foram preparadas previamente ao uso e os reagentes utilizados foram de grau analítico (PA) pureza analítica. As medidas eletroquímicas foram realizadas empregando-se um mini potenciostato portátil (Emstat, Palmsens®) interfaceado a um netbook contendo o software PSLite 1.8. Um mini eletrodo de Ag/AgCl/KClsat. construído em laboratório, um fio de platina e uma placa de diamante dopado com boro (DDB) foram usados como eletrodo de referência , auxiliar e de trabalho. O eletrodo de DDB foi submetido um pré-tratamento catódico, aplicando -0,1 A por 300 segundos. A célula eletroquimica de análise por injeção em batelada (BIA) possui um volume de trabalho de 100 mL. Para a injeção dos padrões e amostras foi utilizada uma micropipeta eletrônica (Eppendorf® Stream). Três medicamentos contendo dipirona (DI) foram adquiridos em drogarias locais. Para o preparo de cada amostra, oito comprimidos foram macerados com o auxílio de almofariz e pistilo, até a obtenção de um pó fino. Para a metodologia proposta, as massas adequadas de cada comprimido foram pesadas em balança analítica e então dissolvidas em um volume do eletrólito suporte (ácido sulfúrico 0,1 mol/L) e posteriormente injetadas na célula BIA. Já para a metodologia recomendada pela farmacopeia (titulação iodimétrica), o medicamento contendo DI é solubilizado em água deionizada, acidificada com HCl 0,02 mol/L e titulada com uma solução padronizada de iodo 0,05 mol/L, utilizando-se como indicador uma solução de amido 1% m/v.
Resultado e discussão
As primeiras etapas no desenvolvimento da metodologia foi realizar a otimização
do sistema BIA-AMP. As variáveis otimizadas foram o potencial aplicado no
eletrodo de DDB, o volume injetado e a velocidade de injeção do analito na
célula BIA e a agitação do eletrólito suporte. De acordo com os resultados (não
apresentados), a dipirona é submetida à oxidação na superfície do eletrodo de
DDB em potenciais superiores a + 0,4 V, com sinais de corrente crescentes até +
1,7 V (faixa de trabalho avaliada). No entanto, foi escolhido um potencial de
+1,1 V para a realização dos experimentos posteriores, devido à provável
interferência de cafeína em potenciais superiores a +1,3 V. A velocidade de
injeção e volume injetado na célula BIA foram fixados em 259 μL/L e 100 μL. Além
disto, foi inserido na célula um agitador mecânico construído em laboratório.
Estas condições foram escolhidas com base na intensidade e largura da corrente
de pico. Empregando as condições otimizadas, soluções de distintas concentrações
de dipirona foram injetadas na célula BIA. A Figura 1a apresenta o amperograma
obtido para injeções em triplicata de soluções de dipirona nas concentrações de
0,26 mg/L (Fig. 1aa) até 25,06 mg/L (Fig. 1ah) e três formulações farmacêuticas
comerciais contendo dipirona ou misturas de dipirona e cafeína (Fig 1a DI, V e
L). A partir das correntes de pico para as injeções dos padrões (Fig 1a a-h) foi
construída uma curva analítica de calibração, sendo obtida a seguinte equação da
reta obtida: (i/μA) = 0,30192 + 0,331 [DI] mg/L, com coeficiente de correlação
igual a 0,9998. Além disto, o limite de detecção e o limite de quantificação
foram estimados em 0,1278 mg/L e 0,4262 mg/L, respectivamente.
a) Amperograma obtido para injeções de soluções em diferentes concentrações e três amostras comerciais e (b) respectiva curva de calibração.
Dosagens de dipirona em três medicamentos obtidas pelos métodos BIA-AMP e titulação iodimétrica.
Conclusões
Através dos resultados apresentados neste trabalho foi possível concluir que o método proposto (análise por injeção em batelada com detecção amperométrica) apresenta potencialidade para a determinação seletiva de dipirona em medicamentos que contenham dipirona ou mistura de dipirona e cafeína. As dosagens obtidas por este método foram similares às dosagens calculadas pelo método recomendado pela farmacopeia brasileira (titulação iodimétrica). Além disto, o método proposto apresentou uma boa precisão e rapidez, além de ser portátil e estável.
Agradecimentos
Ao CNPq, a Fundect e ao Professor Dr. Rodrigo Amorim Bezerra da Silva, por toda orientação e incentivo.
Referências
FARMACOPÉIA BRASILEIRA, ANVISA, Brasília 2010.
LOURENÇÃO, BRUNA CLAÚDIA. Determinação voltamétrica simultânea de paracetamol e cafeina em formulações farmacêuticas empregando um eletrodo de diamante dopado com boro. 2009. 140 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Química, Instituto de Química de São Carlos, São Carlos, 2009.
PEREIRA, AIRTON VICENTE et al.Determinação espectrofotométrica de dipirona em produtos farmacêuticos por injeção em fluxo pela geração de íons triiodeto. Quím. Nova [online]. 2002, vol.25, n.4, pp. 553-557. ISSN 0100-4042. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422002000400008.
WANG, J., and TAHA, Z. Batch Injection Analysis. Analytical Chemistry, 1991, 63, (10), 1053-1056.