ESTUDOS PRELIMINARES PARA A OBTENÇÃO DE UMA EMULSÃO ASFÁLTICA MODIFICADA COM ÓLEO LUBRIFICANTE USADO OU CONTAMINADO (OLUC)

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Materiais

Autores

Brito, P.K.S. (PPGEQ/UFRN) ; Silva, V.L.P. (UFRN) ; Moura, M.C.P.A. (NUPEG/UFRN) ; Barros Neto, E.L. (PPGEQ/UFRN) ; Dantas, T.N.C. (PPGEQ/UFRN)

Resumo

Pesquisas objetivando elaborar produtos asfálticos de custo reduzido e de vida útil prolongada vêm sendo desenvolvidas, focando sua aplicação em pavimentos mais resistentes e de alto desempenho. Este trabalho objetivou obter e caracterizar emulsões asfálticas (EAs) quanto à peneiração, viscosidade Saybolt Furol (VSF) a 50ºC, sedimentação, resíduo por evaporação e penetração. A emulsão EA1 apresentou quase todas as características dentro da Norma DNIT 165/2013, porém VSFs mais baixas são obtidas ao modificar a metodologia de adição das fases. A EA modificada com OLUC também apresentou resultados de caracterização aceitáveis, com 62,8% de resíduo de evaporação e VSF de 358 SSF. Até o momento, esse estudo mostra-se promissor quanto à incorporação de OLUC como agente modificador de EAs.

Palavras chaves

emulsões asfálticas; caracterização; óleos lubrificantes

Introdução

Emulsões asfálticas (EAs) são amplamente utilizadas na conservação e manutenção de rodovias, por se tratar de um produto aplicado a frio que, em geral, reduz o gasto energético em termos de transporte e armazenamento. Além disso, é considerado um produto ecologicamente correto, pois não gera vapores tóxicos ou poluentes (BRASQUÍMICA, 2014; CORREIA, 2010). No processo de obtenção de uma emulsão asfáltica modificada (EAM) é adicionado, aos constituintes convencionais, um agente modificante. O sistema é formado sob forte agitação e na presença de um tensoativo que garanta uma estabilidade mínima para manter a emulsão aparentemente homogênea por longos períodos (TORRES, 2013; MYERS, 2006; SCHARAMM, 2005). Óleos lubrificantes usados ou contaminados (OLUCs) são classificados pela NBR 10004/2004 como resíduos perigosos e potencialmente poluentes. A Resolução CONAMA nº 362/2005 determina que todo o OLUC deve ser destinado à reciclagem por meio do processo de rerrefino. Embora este processo seja hoje considerado o método ambientalmente mais seguro de gestão do OLUC, o percentual de coleta ainda é muito baixo (<40%), analisando que o rendimento de um processo de rerrefino é em torno de 60-65%. Além disso, fatores ligados à estruturação da indústria de rerrefino, ao uso do OLUC para fins inadequados, à fiscalização e à logística, elevam o custo de coleta e reciclagem do OLUC, inviabilizando o rerrefino no Brasil (TÁVORA et al., 2003). Portanto, aplicações alternativas quanto ao reaproveitamento do OLUC devem ser estudadas, pois a sua incorporação às EAs pode ser uma alternativa viável, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico. O objetivo deste trabalho é obter EAs, verificando a influência de algumas variáveis na caracterização do produto antes de incorporar o OLUC.

Material e métodos

Os procedimentos experimentais para a obtenção das EAs foram baseados na metodologia utilizada por Lima (2012) e os ensaios de caracterização foram realizados de acordo com as NBRs recomendadas pelo DNIT 165/2013-EM. A princípio foram preparadas duas fases separadamente, ambas de composições mássicas (%) predefinidas, sendo uma fase aquosa contendo água, tensoativo, ácido e aditivo, e uma fase oleosa contendo cimento asfáltico de petróleo (CAP) e solvente, totalizando 1Kg. No preparo da EA1 foi seguida a mesma metodologia adotada por Lima (2012), ou seja, as fases foram introduzidas simultaneamente em um moinho coloidal operando a 80ºC por 15 min. Na obtenção das emulsões EA2 e EA3, primeiro foi adicionada ao moinho coloidal a fase aquosa, deixando o sistema em agitação durante 15 min. Na sequencia, adicionou-se a fase oleosa, sendo 140g a cada 15 minutos, totalizando 5 adições. A temperatura do processo foi mantida a 80ºC. Nesse estudo, variou-se a concentração de tensoativo (0,6 e 1,2%) e a metodologia de adição das fases, conforme descrito anteriormente. Os ensaios de caracterização das EAs realizados foram: peneiração (NBR 14393/2006), viscosidade Saybolt Furol (VSF) a 50 ºC (NBR 14491/2000), sedimentação (NBR 6570/2010), resíduo por evaporação (NBR 14376/2007) e penetração (NBR 6576/2007). Também foi produzida uma EA modificada, incorporando OLUC à fase oleosa na mesma proporção em que foi reduzido o solvente. Utilizou-se 3% de tensoativo na fase aquosa e as fases foram adicionadas simultaneamente no moinho coloidal, operando a 60 ºC por 30 min. A EAM obtida foi caracterizada quanto à VSF, sedimentação e resíduo por evaporação. Por fim, análises de VSF para cada fase foram realizadas, porém para a fase aquosa variou-se a concentração de tensoativo de 0,3-3%.

Resultado e discussão

A Tabela 1 apresenta os valores estabelecidos pela Norma DNIT 165/2013 e os resultados quanto à caracterização das EAs obtidas. Após os ensaios realizados verificou-se que as EAs apresentaram resultados desejáveis quanto à peneiração, VSF e penetração. Para a EAM só foi possível determinar, dentre estes ensaios, a VSF (358 SSF), o que a caracteriza como uma EA de ruptura média (RM-2C). Lima (2012) produziu EAs convencionais utilizou 0,3% de tensoativo na fase aquosa e obteve VSF na ordem de 300 SSF. Torres (2013) utilizou 3% de tensoativo, mantendo os demais componentes da EA nas mesmas proporções utilizadas por Lima (2012), porém sob condições operacionais de 60 ºC e 30 min., obtendo resultados de VSF em torno de 100 SSF. Quanto ao percentual de sedimentação, a EA1 reproduziu os resultados obtidos por Lima (2012) e Torres (2013). As emulsões E2 e E3, após o período de 5 dias em funil de decantação, apresentaram separação visível das fases, evidenciando a quebra da emulsão. Ao modificar a metodologia de adição das fases verificou-se que, quando não adicionadas simultaneamente, houve uma redução significativa da VSF. Quanto ao resíduo de evaporação, todas as emulsões apresentaram resultados abaixo das especificações mínimas, exceto a EAM com 62,8%. Ao avaliar o comportamento da VSF das fases, observou-se que o aumento na concentração do tensoativo favoreceu a formação de espuma e consequentemente o aumento da VSF (Figura 1). Por outro lado, a VSF da fase oleosa foi de 217 SSF, indicando possivelmente a natureza da emulsão formada: água em óleo, para resultados de VSF próximos ao da fase oleosa, ou óleo em água, para resultados de VSF próximos aos das fases aquosas.

Tabela 1

Resultados de caracterização das EAs obtidas

Figura 1

Viscosidade Saybolt Furol da fase aquosa em função da concentração de tensoativo

Conclusões

Pode-se concluir nesse estudo que algumas variáveis, tais como a concentração de tensoativo e a metodologia de adição das fases, aquosa e oleosa, influenciam no tipo de emulsão asfáltica, ou seja, RM-1C ou RM-2C (dependendo da VSF), e na caracterização das emulsões asfálticas obtidas. A incorporação do OLUC como agente modificador da emulsão parece ser promissora; entretanto, é necessário realizar estudos mais complexos quanto à adição do OLUC à emulsão asfáltica para verificar a eficácia de reaproveitamento desse resíduo para este fim.

Agradecimentos

Ao CNPq pelo apoio financeiro, ao NUPEG pela infra-estrutura, aos técnicos e funcionários do CT e ao prof. Eduardo por compartilhar o conhecimento.

Referências

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