Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Química Tecnológica
TÍTULO: PRODUÇÃO DE FILMES BIOPOLIMÉRICOS DE GELATINAS EXTRAÍDAS DE OSSOS E PELES DE CORVINA (Micropogonias furnieri)
AUTORES: Pozzada, J.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE) ; Hoffmann, P.H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE) ; Moura, J.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE) ; Silva, R.S.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE) ; Bandeira, S.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE) ; Pinto, L.A.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE)
RESUMO: Filmes biopoliméricos têm sido bastante utilizados com objetivo de melhorar a
qualidade e estender a vida útil dos alimentos. A utilização de filmes
biodegradáveis a partir de biopolímeros comestíveis de fontes renováveis, como a
gelatina, é um fator importante na redução do impacto ambiental causado por
resíduos plásticos. O objetivo deste trabalho foi produzir filmes biopoliméricos
à
base de gelatina extraída de ossos e peles de corvina (Micropogonias
furnieri), e
avaliar suas propriedades mecânicas (resistência à tração e alongamento) e
óticas
(variação de cor e opacidade).
PALAVRAS CHAVES: gelatina; filme; pescado
INTRODUÇÃO: Filmes biodegradáveis/comestíveis e revestimentos a base de biopolímeros têm
recebido atenção crescente dos pesquisadores nos últimos anos. Diversas
matérias-primas de fontes renováveis podem ser utilizadas para obter esses
filmes. A gelatina tem se destacado por possuir a capacidade de formar géis
físicos, ou seja, géis termorreversíveis (MORAES et al., 2009). Os biofilmes
atuam como barreira a elementos externos (umidade, óleo, gases, outros) e,
consequentemente, protegem o produto, aumentando a sua vida útil.
A grande maioria das gelatinas encontradas comercialmente é derivada de
mamíferos, obtidas principalmente, a partir de pele suína e couro bovino
(JAMILAH e HARVINDER, 2002). A substituição dessas gelatinas de mamífero por de
peixe é essencial para a parcela da população que não se alimenta de produtos
derivados de mamíferos por questões culturais, religiosas, ou por doenças
relacionadas aos bovinos. Entretanto, o uso de gelatinas derivadas de peixe tem
alguns inconvenientes, como por exemplo, formação dos géis com propriedades
reológicas inferiores às gelatinas de mamíferos, devido ao conteúdo de prolina e
hidroxiprolina (GÓMEZ-GUILLÉN et al., 2007).
A produção de gelatina de pescado mostra-se uma alternativa para o uso integral
dos resíduos gerados pelo processamento, e sua utilização para produção de
filmes comestíveis. O objetivo deste trabalho foi produzir filmes biopoliméricos
à base de gelatina extraída de ossos e peles de corvina (Micropogonias
furnieri) a fim de avaliar as propriedades mecânicas (resistência à tração e
alongamento) e óticas (variação de cor e opacidade) dos filmes produzidos.
MATERIAL E MÉTODOS: A obtenção das gelatinas de resíduos de corvina foi de acordo com os métodos
descritos por Arnesen e Gildberg (2006) e Silva et al., (2011). As peles,
cortadas nas dimensões de 1 cm2 foram submetidas a duas etapas:
primeiramente foram tratadas com solução de NaOH 3 M por 15 e 60 min a pH 11,
depois em solução de HCl 3 M, pH 2 por 15 min. Os ossos, foram moídos a 1mm e
submetidos à solução de HCl 0,6 M a 8ºC por 18 h. As extrações das gelatinas
das peles e dos ossos foram realizadas em água a pH 4 por 2 h a 55°C e 60ºC,
respectivamente. Os filmes foram produzidos seguindo a técnica casting, onde um
volume de 50 mL de cada uma das gelatinas produzidas foram vertidas em placas de
plexi glass e acondicionadas em estufa com circulação forçada de ar a 40ºC por
24 h, para evaporação do solvente. Após estas foram removidas das placas e
armazenadas em dessecador por 24 h antes da realização das análises.
A espessura dos filmes foi determinada utilizando-se um paquímetro digital (±
0,001 mm), em dez pontos diferentes, considerando-se a espessura do filme como a
média entre as dez leituras. Para determinação das propriedades mecânicas
(resistência à tração e alongamento) utilizou-se um texturômetro (ASTM, 2001).
Os parâmetros diferença de cor (ΔE*), a*(vermelho-verde),
b*(amarelo-azul) e L*(luminosidade) e opacidade foram
determinados de acordo com Sobral et al. (2001). Para a determinação dos
parâmetros de cor, os filmes foram sobrepostos sobre uma placa padrão branca e a
diferença total de cor foi calculada de acordo com a Equação 1, já a opacidade
foi calculada como a relação entre a opacidade do filme sobreposto ao padrão
preto (Yp) e ao padrão branco (Yb) (Equação 2).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Tabela 1 apresenta os valores das propriedades mecânicas e óticas para os
filmes produzidos a partir de gelatina de peles e ossos de corvina.
Pode-se observar na Tabela 1, que os filmes de gelatina de peles apresentaram
propriedades mecânicas (resistência à tração e alongamento) superiores que os
produzidos com gelatina extraída dos ossos (p≤0,05). A integridade e a massa
molar da cadeia proteica podem contribuir para a rede estrutural dos filmes
obtidos. A maior temperatura de extração da gelatina de ossos pode ter
favorecido a formação de componentes de baixa massa molar, reduzindo as pontes
de hidrogênio durante a formação do filme (HOQUE et al., 2010).
Os filmes obtidos de gelatina extraída de peles apresentaram menores valores de
variação de cor e opacidade que os produzidos a partir de gelatina extraída de
ossos (Tabela 1). As alterações de cor gelatina podem ser devido ao aumento da
temperatura de extração. Segundo Nagarajan et al. (2012), maiores temperaturas
provavelmente induzem a reação de escurecimento não enzimático numa maior
extensão. Além disso, a maior opacidade do filme de gelatina extraída de ossos
pode ser atribuída à maior quantidade de componentes de baixa massa molar
presentes na gelatina extraída de ossos. Os componentes de baixa massa molar
podem dar origem a uma rede mais densa de proteínas com um volume livre inferior
(GIMENEZ et al., 2009).
CONCLUSÕES: Quanto às propriedades mecânicas, os filmes produzidos a partir de gelatina de
peles de corvina foram superiores aos da gelatina extraída dos ossos, onde os
valores de resistência à tração foram de 23,22 MPa e 2,37 MPa, e o alongamento de
3,53 % e 2,20% , respectivamente.
As propriedades óticas apresentaram características inferiores nos filmes
produzidos a partir de ossos de corvina, sendo que estes apresentaram uma maior
variação de cor e maior opacidade. Estes resultados apontam que a gelatina
extraída das peles dos resíduos de corvina é mais adequada para a produção de
filmes biopoliméricos.
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ARNESEN, J. A.; GILDBERG, A. Extraction of muscle proteins and gelatin from cod head. Process Biochemistry. v. 41, p. 697-700, 2006.
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