53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO ÓLEO DAS FOLHAS DE Lippia origanoides FRENTE À Artemia salina

AUTORES: Ribeiro, A.F. (UFPA) ; Maia, J.G. (UFPA) ; Andrade, E.H. (UFPA) ; Ribeiro, F.P. (UFPA)

RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi avaliar a toxicidade preliminar dos óleos essenciais de Lippia origanoides por meio do bioensaio toxicológico com larvas de Artemia salina Leach. O óleo essencial de L. origanoides foi avaliado seguindo a metodologia descrita por Meyer (1982). Foram utilizadas amostras de óleos das folhas de L. origanoides previamente analisada por CG-MS, as quais apresentaram os compostos majoritários: (E)-nerolidol (29%), (E)-metil cinamato (16%), α-pineno (7%) e 1,8-cineol (6%). Foram utilizadas 3 grupos de 60 larvas de A. salina. Dentre os 180 microcrustáceos submetidos, 100 larvas não sobreviveram quando permaneceram em contato por 48 horas com o óleo. A DL50 para o óleo de L. origanoides foi 8,15μg/mL, o que conclui-se que se trata deum óleo pouco tóxico.

PALAVRAS CHAVES: Toxicidade; Lippia origanoides; Artemia salina

INTRODUÇÃO: O gênero Lippia tem recebido importante atenção por apresentar espécies que podem ser utilizadas para os mais diversos fins. Dentre estes, um grande número de espécies se destaca por apresentar propriedades medicinais comprovadas (STASHENKO, JARAMILLO & MARTÍNEZ, 2003). Apesar das espécies de Lippia apresentarem diversos usos, muitas ainda não foram estudadas e de acordo com as pesquisas, são matérias primas promissoras para o isolamento de novas substâncias químicas com diferentes atividades farmacológicas (ABAD et al., 1995; PASCUAL et al., 2001; STASHENKO, JARAMILLO & MARTÍNEZ, 2003). A ciência que estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas sobre organismos vivos é a toxicologia e seus principais objetivos são identificar os riscos associados a uma determinada substância e determinar em quais condições de exposição esses riscos são induzidos (ZAKRZEWSKI, 1994). A ocorrência, natureza, incidência, mecanismo e fatores de risco associados às substâncias tóxicas são parâmetros experimentalmente investigados pela toxicologia. Ela não serve somente para proteger os seres vivos e o ambiente dos efeitos deletérios causados pelas substâncias tóxicas, mas também para facilitar o desenvolvimento de agentes químicos nocivos mais seletivos, tais como drogas clínicas e pesticidas (HODGSON, 2004). Os testes de toxicidade são geralmente elaborados visando avaliar ou prever os efeitos tóxicos nos sistemas biológicos e dimensionar a toxicidade relativa das substâncias (FORBES e FORBES, 1994). São ensaios laboratoriais realizados sob condições experimentais específicas, utilizados para estimar a toxicidade de substâncias, efluentes industriais e amostras ambientais. Artemia salina é uma espécie de microcrustáceo utilizada normalmente como bioindicador (MEYER, 1982).

MATERIAL E MÉTODOS: Foi preparada uma salmoura artificial com pH ajustado a 9. A solução de salmoura artificial foi transferida para um recipiente de 2L adaptado com sistema de oxigenação adequada. No recipiente foram colocados os ovos de Artemia salina. Após 24 horas as larvas eclodiram e a salmoura, contida no compartimento escuro (sem larvas), foi filtrada para o preparo da solução-mãe (MEYER et al., 1982; VINATEA, 1994). Para o ensaio foi usada amostra do óleo essencial das folhas de Lippa origanoides previamente processadas e analisadas em GM-MS pela equipe de pesquisadores do Laboratório de Produtos Naturais da UFPA. A análise apresentou os compostos majoritários (E)-nerolidol (29%), (E)-cinamato de metil (16%), α-pineno (7%), 1,8-cineol (6%). Foi pesado 0,005g de óleo de Lippia origanoides, 3800μL de água da salmoura, 200μL do solubilizante dimetilsulfóxido (DMSO). Posteriormente foram diluídas alíquotas da solução-mãe para as concentrações de 1, 5, 10, 25, 50 e 100 μg/mL, onde foram dispostos as larvas nas referidas concentrações do óleo. Os testes foram realizados em triplicata. As culturas de A.salina foram incubadas a 28ºC, sendo feita a leitura do número de sobreviventes e mortos após 24 e 48 horas. Aoós esse tempo foi calculado o percentual de mortalidade. Foi determinada o percentual de mortalidade para cada concentração e a dose letal 50% (DL50). Os dados de porcentagem de larvas de A. salina mortas após contato com o óleo de L. origanoides, foi extraida de uma equação linear simples, a qual foi utilizada para estimar a concentração do óleo responsável por matar 50% das artemias, valor representativo da DL50. Utilizou-se método gráfico de análise para obtenção da DL50.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A DL50 foi calculada através da conversão da porcentagem de mortalidade das larvas em valores Probitos. A equação da reta foi traçada em escala semi-logarítimica para os grupos A, B e C, como representado na figura 1 (FINNEY, 1971). O Probito com valor igual a 5 representa a mortalidade de 50%. Este valor foi substituido na equação da reta e assim determinada a DL50 em μg/mL. A Tabela 1 apresenta as larvas (vivas/mortas) em diferentes concentrações do óleo. A média referentes aos valores da DL50 para o óleo de L. origanoide no bioensaio foi 8,15μg/mL, inferindo que se trata de um óleo pouco tóxico quando em contato com o microcrustáceo A. salina. De acordo com Meyer et al.,(1982), amostras de óleos e extratos de plantas são considerados tóxicos quando os valores de DL50 (Dose-Letal) situam-se abaixo de 1000μg/mL.

Figura 1

Graficos da equação da reta em escala semi-logarítimica para cálculo da DL50 para os grupos A, B e C (FINNEY, 1971) (Figura 1)

Tabela 1

Contagem (mortalidade/vivacidade) de larvas em diferentes concentrações do óleo.

CONCLUSÕES: O bioensaio com Artemia salina foi satisfatório. A toxidade do óleo essencial das folhas de Lippia origanoides foi baixo. Os testes de toxicidade são importantes para avaliar o potencial de risco ambiental dos contaminantes, uma vez que somente as análises químicas não possibilitam esse tipo de avaliação. Além disso, análises de toxicidade já vêm sendo exigidas por leis ambientais no Brasil.

AGRADECIMENTOS: Ao ICMBio pela autorização de coleta na Floresta Nacional de Carajás.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ABAD, M.J.; SÁNCHEZ, S.; BERMEJO, P.; VILLAR, A.; CARRASCO, L. Antiviral activity of some medicinal plants. Methods and Findings, v.17, p.108, 1995.

FINNEY, D. L. Em Probit Analisis; 3ª ed., Cambridge University Press: Cambridge, 1971, 76.

FORBES, V. E.; FORBES, T. L. Ecotoxicology in theory and practice. Londres: Chapman and Hall, 1994. 247 p.

HODGSON, E. Em A Textbook of Modern Toxicology; Hodgson, E., ed.; 3ª ed., John Wiley & Sons: New Jersey, 2004, cap. 1.

MAIA, J.G.S.; ANDARDE, E.H.A. Database of the Amazon aromatic plants and their essential oils. Quimica Nova 32 (3): 595-622, 2009.
MAIA, J.G.S.; TAVEIRA, F.S.N.; ANDRADE, E.H.A.; SILVA, M.H.L.; ZOGHBI, M.G.B. Essential oils of Lippia grandis Schau. Flavour and Fragrance J. 18: 417-420, 2003.

McLAUGHLIN, J.L. Crown gall tumours on potato discs and Brine shrimp lethaly. Two simple bioassay for higher plants screeing and fraction. Methods in Plants Biochemistry. V.6, p. 2-27, 1982.

MENDONÇA, M.C.S. Efeito do ácido indolbutírico no enraizamento de estacas de alecrim-pimenta (Lippia sidoides Cham.). Dissertação (Mestrado em Agronomia), Universidade Federal do Ceará, 1997.

MEYER, B. N., FERRIGNI, N. R., PUTNAN, J. E., JACOBSEN, L. B., NICHOLS, D. E., Mcl. AUGHLIN, J. Brine shrimp: A convenient general bioassay for active plant constituents. Journal of Medical Plant Research, v. 45, n.1, p. 31-34, 1982.

PASCUAL, M.E.; SLOWING, K.; CARRETERO, M E.; VILLAR, A. Lippia: tradicional uses, chemistry and pharmacology: a review. Journal of Ethnopharmacology, v.76, p. 201-214, 2001.

RIBEIRO, A.F & RIBEIRO, F. Observações pessoais. Belém, 2011.

SALIMENA, F.R.G. Novos sinônimos e tipificação em Lippia sect. Rhodolippia (Verbenaceae). Hickenia
3:145-149. 2002.

SILVA, R. J. Estudo Químico das Propriedades biológicas dos óleos essenciais e extratos de espécies de Piper da Amazônia Oriental. UFPA, Tese de Doutorado, 2010.

STASHENKO, E. E.; JARAMILLO, B. E.; MARTÍNEZ, J. R. Comparación de La composición química y la actividad antioxidante in vitrode los metabolitos secundários volátiles de plantas de la família Verbenaceae. Revista de la Academia Colombiana de Ciencias Exactas, Físicas y Naturales, Bogota, v.27, n. 105, p. 579-597,2003.

VINATEA, L. E. Artemia um ser vivo excepcional. Panorama da aqüicultura. v. 4 nº 25, p. 8-9, 1994.

ZAKRZEWSKI, S. F.; Principles of Environmental Toxicology, American Chemical Society: Washington, 1994.