53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Estudo Fitoquímico da Fração Hexânica do Extrato Etanólico do Alburno de Vatairea Guianensis.

AUTORES: Marinho, V.H.S. (IFPA) ; Souza, R.F. (UEPA) ; Brito, R.C. (IFPA) ; Santos Neto, O. (UFPA) ; Santos, K.I.P. (UEPA) ; Tavares, L.C. (UFPA)

RESUMO: A espécie vegetal V. guianensis Aulb é conhecida na região amazônica como “fava- de-bolacha”. As favas e as cascas do caule desta espécie são comumente utilizadas por comunidades tradicionais da Amazônia, para o tratamento de micoses superficiais. Neste trabalho 1,5 g do alburno de V. guianensis foram fracionados em coluna cromatográfica em misturas de eluentes, buscando-se assim definir o perfil fitoquímico dos metabólitos secundários presentes no alburno de V. guianensis bem como o isolamento e identificação dos mesmos, através da análise dos espectros de RMN de 1H e 13C e comparados com dados da literatura.

PALAVRAS CHAVES: V. guianensis; alburno; triterpeno

INTRODUÇÃO: O gênero Vatairea, pertencente à família Fabaceae, compreende somente a sete espécies de árvores, as quais são difundidas no Brasil, Guiana e nas regiões litorais atlânticas da America Central e do México (SCHONGART et al., 2007). Quanto às espécies florestais amazônicas pertencentes a esse gênero destacam-se, a V. guianensis, V. fusca, V. erythrocarpa, V. paraensis e V. sericeae. Outras espécies do gênero habitam as matas de encosta como V. heteroptera. Já no sul do México e América Central destaca-se a espécie V. lundelli (LIMA, 1982). A espécie Vatairea guianensis é uma árvore encontrada na região Amazônica tanto em áreas inundadas como em áreas não inundadas (PAROLIN et al., 1998). É conhecida popularmente pelos nomes “fava-de-impigem”, “fava-de-bolacha”, “faveira-amarela”, (LIMA, 1982). A população da região do médio e baixo Amazonas utiliza as favas de espécies do gênero Vaitarea, principalmente as de V. guianensis, contra diversos tipos de micoses superficiais, como impigem (Tinea corpórea) e pano branco (pitiriase visicolor) sob a forma de tintura alcoólica de suas “amenduas” maceradas. Existem relatos de investigações fitoquímicas somente para os frutos e as cascas do caule. Visando contribuir para o conhecimento e caracterização química da espécie, o presente trabalho teve como objetivo isolar e identificar os constituintes químicos da fração hexânica do alburno de Vatairea guianensis.

MATERIAL E MÉTODOS: A fração hexânica do alburno (1,5 g) foi fracionada em coluna filtrante, utilizando como eluentes misturas de hexano (Hex), acetato de etila (AcOEt) e metanol (MeOH) em ordem crescentes de polaridade, onde foram coletadas 7 alíquotas (FHex-ALB-1 a 7) de 165 mL cada, as quais foram analisadas por CCD e RMN de 1H e 13C . Assim, conseguiu-se um perfil cromatográfico e espectrométrico das frações obtidas. Através das análises espectrométricas de RMN 1H das frações FHex-ALB-3, FHex-ALB-4 e FHex-ALB-7, observou-se que essas continham substâncias majoritárias e que precisaram serem apenas purificadas, o que foi obtido pelo método da recristalização, rendendo as substâncias S1, S2 e S3, respectivamente. Quando foi testada a solubilidade da fração FHex-ALB-6 em acetonitrila, verificou-se a formação de um precipitado, o qual foi intensificado com gotas de água. O precipitado obtido foi analisado por CCD e RMN de 1H, o que possibilitou a identificação de uma mistura de esteróides S4+ S5.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O estudo do alburno de Vatairea guianensis levou ao isolamento de um triterpeno pentacíclico, conhecido como ácido betulínico (S3) cuja estrutura é mostrada na figura 1. O espectro de RMN 1H de (S3) mostrou vários sinais entre 0,64 -1,29 ppm, referentes a grupos metílicos; um tripleto largo em 3,06 ppm (J 8,1Hz) referente ao hidrogênio oximetínico H-3 do triterpeno. Quanto aos hidrogênios olefínicos, são observados dois simpletos largos em 4,54 e 4,60 ppm, atribuídos aos hidrogênios do grupo vinilidênico em triterpenóide de esqueleto lupano. Também é observado um simpleto em 1,82 ppm, relativo aos hidrogênios do grupo metila, característico do grupo isoprenil. Essa informações aliadas à análise dos espectros de RMN 13C e comparação com valores da literatura permitiram determinar a estrutura de (S3) como 3β-hidroxil-lup-20(29)-eno-28-oico. O ácido betulínico, um triterpeno de esqueleto tipo lupano, está sendo relatado pela primeira vez nesta espécie. Esta informação se constitui em um dado novo para a planta. Além dessa substância relata-se o isolamento de duas antraquinonas: fisciona (S1) e crisofanol (S2) e uma mistura de sitosterol (S4) e estigmasterol (S5) cujas estruturas são apresentadas na figura 2.

Figura 1

Estrutura do ácido betulínico (S3)

Figura 2

Estruturas de fisciona (S1), crisofanol (S2), sitosterol (S4) e estigmasterol (S5).

CONCLUSÕES: Neste estudo fitoquímico do alburno de Vatairea guianensis Aubl foi possível isolar um triterpeno de esqueleto tipo lupano, o ácido betulínico as antraquinonas crisofanol e fisciona e uma mistura dos esteróides sitosterol e estigmasterol.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: LIMA, H. C. de. Revisão Taxonômica do Gênero Vatairea Aublet (Leguminosa Faboideae). Arquivos do jardim Botânico do Rio de Janeiro: v. 26, n.3, p.173- 203.1982.
PAROLIN, P.; FERREIRA, L.V. Are there differences in specific wood gravities between trees in varzea and igapó (Central Amazonia). Ecotropica, 4: 25-32. 1998.
SCHONGART, J.; JUNK, W.J.J. Forecasting the flood-pulse in Central Amazonia by ENSO-indices. Journal Hydrology, 335: 124-132. 2007.