53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: ESTUDO QUIMIOTAXONÔMICO DE LIQUENS DA ANTÁRTICA

AUTORES: Rivarola, C.R.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL) ; Spielmann, A.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL) ; Honda, N.K. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL)

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi analisar a composição química de duas espécies de liquens coletadas na Antártica, visando complementar as informações para fins taxonômicos. Os talos dos liquens Cladonia sp. e Placopis sp., foram triturados e o pó obtido foi tratado com acetona à temperatura ambiente e de modo exaustivo. Os extratos concentrados foram analisados por ccd, RMN de 1H e 13C e por microcristalização. O perfil cromatográfico, a análise dos espectros de RMN e a análise por microcristalização, indicaram a presença de atranorina e do ácido fumarprotocetrárico no extrato de Cladonia sp. e do ácido girofórico em Placopsis sp. Essas informações associadas com a análise morfológica permitiram a identificação das espécies.

PALAVRAS CHAVES: Liquens; Antártica; Quimiotaxonomia

INTRODUÇÃO: Liquens, estruturas resultantes da simbiose entre um fungo e uma ou mais algas estão presentes em praticamente todos os habitats, desde o nível do mar até as montanhas mais altas (NASH 1996). Podem, também, ser encontrados em desertos onde a temperatura é bastante variável, e em regiões polares, com temperaturas extremamente baixas. Seu limite de tolerância às oscilações climáticas é superior a qualquer outro vegetal (KAPPEN 1973). A presença de liquens nos mais variados habitats e micro-habitats depende da disponibilidade de fatores físicos e climáticos que proporcionam as condições necessárias para seu desenvolvimento (BRODO 1973). O continente Antártico possui uma superfície aproximada de 13.500.000 Km2, a qual se encontra coberta em sua maior parte por uma camada de gelo. Nesse ambiente os liquens são praticamente a forma de vida dominante, perdendo lugar apenas para comunidades de musgos, algas e cianobactérias que habitam os locais chuvosos e úmidos próximos ao mar (REDON 1985). Os liquens, independente da região onde se desenvolvem, produzem inúmeros compostos, predominando aqueles de natureza fenólica sintetizados pela via do acetato-polimalonato. Esses compostos são os mais importantes nos trabalhos de quimiotaxonomia e as reações de coloração no talo são as mais utilizadas pelos liquenologistas e podem, em geral, fornecer informações suficientes, que somadas àquelas da análise morfológica, conduzem à identificação de uma dada espécie. Técnicas adicionais como a microcristalização e a análise cromatográfica são também muito utilizadas e mais recentemente a análise por RMN também tem sido aplicada. Essas técnicas garantem resultados mais precisos sobre a composição química dos espécimes para fins de elucidação taxonômica.

MATERIAL E MÉTODOS: Os líquens Cladonia sp. e Placopis sp. foram coletados na Ilha Rei Jorge, Ilhas Shetland do Sul, na Antártica. Os talos foram submetidos à limpeza, e em seguida triturados em almofariz. O pó obtido foi tratado com acetona à temperatura ambiente de modo exaustivo e os extratos foram evaporados e cromatografados em camada delgada de sílica gel GF254 (0.20 mm, Macherey-Nagel). Foram utilizadas as misturas eluentes: I) tolueno: acetato de etila: ácido acético 6:4:1 v/v/v; II) hexano: éter etílico: ácido fórmico 5:4:1 v/v/v; III) tolueno: ácido acético 85:15 v/v. A visualização cromatográfica foi feita sob luz UV254 seguida de aplicação de solução de metanol/ácido sulfúrico 9:1 v/v seguido de p-anisaldeído/ácido sulfúrico seguido de aquecimento. A composição dos extratos foi avaliada também pela técnica de microcristalização, conforme metodologia de Asahina e Shibata (1954). Foram utilizadas as soluções de glicerina: ácido acético 1:3 e 3:1 v/v (GE); glicerina: etanol: água 1:1:1 v/v/v (GAW) e glicerina: etanol: o-toluidina 2:2:1 v/v/v (GAoT). As estruturas cristalinas foram observadas em microscópio e comparadas com aquelas desenvolvidas por substâncias usadas como referência ou com fotos da literatura (HUNECK e YOSHIMURA 1996). Os espectros de RMN de 1H, 13C e DEPT-135 foram obtidos em aparelho Bruker, modelo DPX300, em DMSO-d6 e os deslocamentos químicos foram calibrados usando o sinal do solvente como referência. Os dados obtidos foram comparados com aqueles já reportados na literatura (KÖNIG e WRIGHT 1999; SU et al., 2003; NARUI et al., 1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os espectros de RMN de 1H e 13C do extrato de Cladonia sp. mostraram conjuntos de sinais, indicando diferença de proporção entre as substâncias presentes. O espectro de 1H mostrou sinais de δ em 2,0; 2,3; 2,4; 3,87; 6,40; 6,5 e 10,2 ppm, que correspondem a 3 ArCH3, 2 ArH, um –OCH3 e um H de –CHO. Além desses, outros em 2,4; 2,45; 5,25; 6,8 e 10,6 ppm indicaram 2 ArCH3, 2 H metilenicos, 2 H metínicos e um H de –CHO. Os sinais de δ no espectro de 13C em 9,3; 21,0 e 21,1 confirmam 3 –ArCH3, 1 sinal em 52,3 (-OCH3); 2 sinais em 108,9 e 115,6 (2Ar-H), 193,8 (-CHO), além de outros, sugerem um esqueleto de depsídeo derivado do ácido β-metil orselínico. Sinais em 14,3; 21,1; 57,0; 116,9 e 191,9 ppm sugerem um esqueleto de depsidona derivada do ácido β-metil orselínico. Dois sinais em 132,3 e 134,6 ppm indicam carbonos metínicos. Outros sinais presentes nos espectros foram atribuídos ao esqueleto estrutural de depsídeo e de depsidona e a análise desses dados associados com o resultado da análise por CCD e microcristalização, confirma a presença do depsídeo atranorina e da depsidona ácido fumarprotocetrárico no extrato de Cladonia sp. A análise dos espectros do extrato de Placopsis sp. mostrou sinais de δ correspondentes a 5 ArH, 4 ArCH3 e outros sinais indicando tratar-se de um tridepsídeo. A atribuição dos valores de δ, a análise por CCD e microcristalização, confirmam a presença do tridepsídeo ácido girofórico no extrato de Placopsis sp. Essas informações aliadas à análise morfológica permitiram concluir a análise taxonômica desses dois espécimes – Cladonia phyllophora Hoffm. e Placopsis contortuplicata I.M. Lamb.

CONCLUSÕES: As reações de coloração no talo, técnicas de CCD e microcristalização são ferramentas importantes que permitem identificar, na maioria das vezes, a composição química de liquens. A análise por RMN vem sendo utilizada recentemente para fins taxonômicos, pois permite um resultado mais preciso na identificação dessas substâncias. No presente estudo as análises por RMN, CCD e microcristalização permitiram a identificação das substâncias presentes nos liquens e através dos resultados obtidos concluiu-se a análise taxonômica das espécies em estudo.

AGRADECIMENTOS: À FUNDECT/MS, Sesu/MEC, PET/Instituto de Química-UFMS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ASAHINA, Y.; SHIBATA, S. 1954. Chemistry of Lichen Substances. Japan Society from the promotion of Science. Tokyo.

BRODO, I. M. Substrate Ecology. HALE, M. E. (Ed.). In The Lichens; Ahmadjian, V. New York: Academic Press, 1973. 696p.

HUNECK, S.; YOSHIMURA, Y. 1996. Identification of Lichen Substances. Springer-Verlag, Berlin, 493p.

KAPPEN, L. Response to Extreme Environments. Hale, M. E. (Ed.). In The Lichens; Ahmadjian, V. New York: Academic Press, 1973. 696p.

KÖNIG, G. M.; WRIGHT, A. D. 1999. 1H and 13C-NMR and biological activity investigations of four lichen-derived compounds. Phytochemistry Annals. 10: 279-284.

NARUI, T.; SAWADA, K.; TAKATSUKI, S.; OKUYAMA, T.; CULBERSON, C. F.; CULBERSON W. L.; SHIBATA, S. 1998. NMR assigments of depsides and tridepsides of the lichen family Umbilicariaceae. Phytochemistry. 48: 815-822.

NASH III, T.H. Introduction. Nash III, T.H. (Ed.). In Lichen Biology. 1st. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. 303p.

REDON, J. F. 1985. Liquenes Antarticos. Instituto Antártico chileno INACH. Santiago de Chile, 123p.

SU, B-N.; CUENDET, M.; NIKOLIC, D.; KRISTINSSON, H.; INGÓLFSDÓTTIR, K.; BREEMEN, R. B.; FONG, H. H. S.; PEZZUTO, J. M.; KINGHORN, A. D. 2003. NMR Study of fumarprotocetraric acid, a complex lichen depsidone derivative from Cladonia furcate. Magnetic Resonance in Chemistry. 41: 391-394.