53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: FORMAÇÃO PELA PESQUISA: INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA ENVOLVENDO A EXPERIMENTAÇÃO NO ÂMBITO DA INCLUSÃO

AUTORES: Xavier, L.L.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Silva, P.H.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Castro, I.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Ferreira, R.K.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Benite, A.M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Benite, C.R.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)

RESUMO: Partindo do pressuposto de que é nos saberes teóricos e práticos que o saber profissional se constitui, esta pesquisa se apresenta com elementos de uma pesquisa participante, que têm como objetivo o estudo da formação docente em química no âmbito da inclusão escolar. Por meio da disciplina de Estágio supervisionado, a relação teoria-prática se concretizou, e permitiu a observação e o diagnóstico das dificuldades encontradas pelos professores em atuarem com a diversidade presente em sala de aula, como etapas da pesquisa. Desta forma, este trabalho analisa o desenvolvimento de intervenções pedagógicas de professores de química em formação inicial no contexto da surdez. As atividades foram desenvolvidas em aulas de química a partir da temática “Cosméticos” em turmas de ensino médio.

PALAVRAS CHAVES: Educação inclusiva; Estágio Supervisionado; Formação de professores

INTRODUÇÃO: Atualmente, os alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) estão cada vez mais presentes nas salas de aula. Entretanto, segundo os professores o despreparo tem sido uma das maiores dificuldades encontradas no processo de ensino, uma vez que, sua formação acadêmica na maior parte das vezes, não contempla estas discussões (Benite et al, 2009). É necessário ponderar a formação do professor de química para a inclusão escolar como parte integrante do processo de formação geral e não como um complemento dos seus estudos (Pereira et al, 2011). Considerando uma proposta de formação de professores prático-reflexivos (Schön, 1992), que considera os aspectos referentes à prática, analisando-os a partir de um referencial teórico orientado por profissionais mais experientes, é que o curso de Química Licenciatura da Universidade Estadual de Goiás (UEG), estruturado em semestres com disciplinas específicas de química permeadas pelas disciplinas de ensino, busca integração dos conteúdos e quebra da visão dicotômica do conhecimento teórico e da ação docente. O Estágio Supervisionado (ES) serve como espaço de reflexão teórica conjunta (formador/formação inicial) da ação, centrada na formação pela pesquisa no primeiro contato do futuro professor com a escola. A abordagem de necessidade formativa de professores para a inclusão escolar surgiu porque, atualmente, todas as escolas públicas do estado de Goiás são inclusivas por efeito de lei (Benite, 2011). Nesse sentido, esta investigação discute brevemente uma intervenção pedagógica desenvolvidas por professores em formação inicial (PFI’s) como estratégia de formação inicial durante a disciplina de ES. É importante ressaltar que, experimentos e materiais adaptados foram utilizados nas aulas a partir da temática “Cosméticos”.

MATERIAL E MÉTODOS: Este trabalho contém elementos de uma pesquisa participante (PP), pois conta com a participação e intervenção de um pesquisador em um grupo pesquisado (Demo, 2000). Esta investigação se constituiu das seguintes etapas: a) primeira etapa – identificação do problema: o ensino de química para alunos com necessidades educacionais especiais; b) segunda etapa – formulação de estratégias: reflexão teórico-prática conjunta entre professor formador da disciplina de ES e professor em formação inicial para atuar na inclusão de acordo com a especificidade encontrada na sala de aula – a surdez; c) terceira etapa – levantamento dos recursos disponíveis: planejamento e elaboração das aulas de apoio em química com material adaptado para uma sala de aula inclusiva contendo alunos surdos; d) quarta etapa – solução do problema: aulas ministradas gravadas em áudio e vídeo para posterior análise e compreensão do problema. O trabalho foi realizado numa escola pública situada na cidade de Anápolis-GO. Discutiremos neste uma intervenção pedagógica sobre a temática “Cosméticos”; que foi elaborada com o apoio da intérprete (I) e realizada numa turma de 2ª série do ensino médio contendo três alunas surdas (AS). No experimento, foi usada uma esponja contendo três camadas com texturas e cores diferentes (Figura1) para aplicação de hidrante e protetor solar com intuito de simular a capacidade de absorção dos produtos pelas camadas da pele. Os PFI’s objetivaram a apropriação do conhecimento envolvendo a absorção dos cosméticos pela pele humana. Segundo as Orientações Curriculares de Química a abordagem de temas sociais pode ser acompanhada por atividades experimentais discutidas teoricamente e que sejam relevantes para os alunos e não instrumentos ilustrativos e motivadores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Referindo-nos aos alunos surdos, verificamos que o aprendizado incide de forma precária, sobretudo quando os professores recorrem somente à língua portuguesa para intermediar a apresentação da cultura científica. Uma das dificuldades dos AS aprenderem química está relacionada ao fato de que a linguagem oral (o português falado) é, praticamente, a única utilizada pelos educadores em sala de aula. Os futuros professores de química devem planejar suas aulas com o apoio de intérpretes abordando a linguagem visuo-espacial, como alternativa para um ensino mais igualitário (Mantoan, 2010), como no diálogo a seguir. (PFI2): O que são hidratantes e protetores solar? Qual o objetivo de sua utilização?(I): Ela falou que são produtos que passamos na pele para proteger (resp. da AS1).(PFI2): Trouxemos uma representação da nossa pele feita com esponjas coloridas(...). A parte de cima representa a epiderme, a parte do meio a derme e a de baixo é a hipoderme. Vamos passar o protetor solar(...). O que acontece ao espalharmos?(A2): É absorvido pela pele.(PFI1): O que acontece quando exposto ao sol?(I): Mas do que são feitos os protetores? (pergunta da AS2)(PFI2): Os protetores inorgânicos são os que mais protegem. São feitos de óxido de zinco (ZnO) e dióxido de titânio (TiO2). Essas substâncias absorvem e espalham a radiação ultravioleta que é prejudicial à nossa pele.(I): Ela disse que entendeu! Fig.1: Representação das camadas da pele. A simulação macroscópica foi útil para explicar como os protetores solares atuam na pele e porque são classificados em orgânicos e inorgânicos. Baseados nas Orientações Curriculares de Química, temas sociais devem ser acompanhados por experimentos discutidos teoricamente e que sejam relevantes para os alunos e não instrumentos ilustrativos e motivadores.

Figura 1

Fig.1: Representação das camadas da pele.

CONCLUSÕES: A validade da inserção escolar de indivíduos com necessidades educacionais especiais é inquestionável, considerando que o aluno interage com o meio de maneira específica, com suas possibilidades e limitações. Entretanto, um dos obstáculos para ensinar química é a necessidade de práticas pedagógicas que contribuam para a compreensão de sua linguagem simbólica carregada de abstração. Orientados por professores mais experientes, o professor em formação inicial deve elaborar sua aula partindo de uma perspectiva visual/espacial, visando a interação linguística (Libras–intérprete/professor–Química).

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BENITE, A.M.C.; PEREIRA, L.L.S.; BENITE, C.R.M.; PROCÓPIO, M.V.R; FRIEDRICH, M.(2009). Formação de professores de ciências em rede social: uma perspectiva dialógica na educação inclusiva. Revista Brasileira de Pesquisa em Ensino de Ciências, 9(3), pp. 1-21.
BENITE, C.R.M.(2011). Formação do professor e docência em química em rede social: estudos sobre inclusão escolar e o pensar comunicativo. Tese do Programa Multiinstitucional de Doutorado em Química UFG/UFU/UFMS – Goiânia, GO, Brasil.
DEMO, P.(2000) Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo: Atlas.
MANTOAN, M.T.E.(2010). Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna.
PEREIRA, L.L.S.; BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.(2011) Aula de química e surdez: Sobre interações pedagógicas mediadas pela visão. Química Nova na Escola, 33(1), pp.47-56.
SCHÖN, D. A.(1992) Formar Professores como profissionais Reflexivos. In: NÓVOA, A. (org.), Os Professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote.