Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: Alimentos Transgênicos: concepções de alunos do Ensino Médio antes e após uma sequência de vídeo, pesquisa e debate.
AUTORES: Borges, M.N. (INSTITUTO DE QUÍMICA- PPECN/PGLEC-UFF) ; Villas Bôas, B.S. (1COLÉGIO BATISTA DE LARANJAL - PGLEC- UFF)
RESUMO: O tema gerador produção e o consumo de alimentos transgênicos foi utilizado em
aulas de Química no Ensino Médio numa abordagem de diversos conteúdos de forma
contextualizada e interdisciplinar em uma perspectiva CTSA (Ciência-Tecnologia-
Sociedade-Ambiente). Usando vídeos e textos com propagandas pró e contra o uso
de transgênicos, a professora das turmas, mediou debates nas classes que
culminaram em argumentações que transcenderam o uso do senso comum, evidenciando
que os estudantes buscaram o conhecimento científico para se posicionar de forma
crítica a respeito do tema. Ao final das atividades, os alunos foram unânimes em
responder que o projeto realizado despertou neles a consciência sobre a
importância da pesquisa, do conhecimento e da criticidade para a formação de
opinião.
PALAVRAS CHAVES: alimentos transgênicos; CTSA; debate
INTRODUÇÃO: Os PCN´s enfatizam que o trabalho educacional deva ser direcionado enfocando a
realidade e as necessidades da comunidade escolar e da sociedade. Por isso a
abordagem de novos conteúdos via contextualização de temas sociocientíficos
envolve cognitivamente os estudantes e despertam para a necessidade de
aprendizagem de novos conceitos científicos. Nesse contexto a transversalidade
de temas também expande o universo do estudante para que ele passe a ver a
ciência como algo mutável, feita por seres humanos sujeitos a influência de
pressões políticas e econômicas, como qualquer cidadão comum.
Buscando uma abordagem em uma perspectiva CTSA (Ciência-Tecnologia-Sociedade-
Ambiente) usou-se como tema gerador em aulas de Química no Ensino Médio a
produção e o consumo de alimentos transgênicos. Embora a discussão sobre o
assunto requeira em princípio um conhecimento de conteúdos formais relacionados
à Biologia, Takahashi et al.(2008) observaram, que o tema é um bom articulador
de diversas áreas do conhecimento, inclusive a Química. Por se tratar de um
assunto bastante polêmico que aparece com frequência na mídia, entendemos que os
discursos pró e anti transgênicos estimulem diálogos que influenciem a formação
discursiva científica dentro do ambiente escolar(BRUNELLI, 2011; MAINGUENEAU,
1997), de maneira que os estudantes se sintam estimulados a buscar o
conhecimento (no mais amplo sentido), como forma de expressar opinião usando
argumentações fundamentadas, que extrapolem o senso comum.
Assim, esse trabalho teve como objetivo, usar o tema “alimentos transgênicos”,
para despertar nos alunos o gosto pela aprendizagem da Química e das ciências em
geral ao dar significado a conhecimentos que subsidiem a tomada de decisão.
MATERIAL E MÉTODOS: O projeto de pesquisa foi realizado no Colégio Batista de Laranjal em duas
turmas de segundo e terceiro ano do Ensino Médio com um total de 77 alunos. A
metodologia de pesquisa com a turma buscou inicialmente entender como as
concepções dos alunos sobre o tema transgênicos se formavam em função dos
discursos pró e anti o uso de transgênicos e as implicações da formação de
opinião com base na educação científica. Para essa abordagem, usou-se
principalmente a linguagem audiovisual, de maneira a aumentar o envolvimento
cognitivo dos jovens educandos, “leitores de imagens”, segundo Martin-Barbero
(1995).
Elaborou-se uma sequência de atividades que seguiram as seguintes etapas: 1)
questionário diagnóstico sobre o consumo de alimentos transgênicos; 2) exibição
de dois vídeos de curta duração com posição pró e contra ao uso de alimentos
transgênicos e tomada de opinião sobre o consumo de alimentos transgênicos após
a exibição de cada vídeo;3) Pesquisa e leitura de textos sobre o assunto,
articulando o conhecimento químico e biológico. 4) Realização de debate final e
questionário avaliativo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Inicialmente os alunos responderam um questionário a respeito de suas concepções
prévias sobre o tema transgênico. O resultado mostrou que só 35% sabiam o que
era um alimento transgênico, mas destes, só 17 % eram capazes identificá-los num
alimento pela simbologia apropriada. Após assistirem ao primeiro vídeo, que era
uma propaganda pró alimentos geneticamente modificados, os alunos em sua ampla
maioria se posicionaram de maneira favorável aos alimentos transgênicos: um dos
alunos disse que era a solução para a agricultura no país, repetindo o discurso
científico usado (BRUNELLI, 2011; MAINGUENEAU, 1997) e foi acompanhado pelos
outros. Em seguida, eles assistiram ao segundo vídeo, com posição contrária ao
primeiro e começaram a rever suas opiniões, principalmente por causa dos
possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente. Tendo a professora da turma como
mediadora, eles resumiram no quadro os aspectos positivos e negativos mais
relevantes sobre o assunto e perceberam que não poderiam se posicionar sobre um
tema tão polêmico sem uma pesquisa mais profunda.
O questionário avaliativo realizado no final da sequência de atividades, mostrou
que 9% dos alunos não se importam com o tema e vão continuar consumindo qualquer
tipo de alimento. Para 14% dos alunos, apesar de se preocuparem com o assunto, a
questão econômica predomina e eles priorizam o alimento que tenha o custo mais
baixo. Já 21% não pretendem mudar seus hábitos de consumo alimentar, mas afirmam
que ficarão atentos às publicações nos meios de comunicação sobre o assunto e
realizarão pesquisas para aprimorar seus conhecimentos. Finalmente, 56% dos
alunos pretendem conhecer a origem do alimento com relação a presença de
transgênicos e estariam dispostos a rever seus hábitos, se for necessário.
CONCLUSÕES: O uso do tema “alimentos transgênicos” na sala de aula contribuiu favoravelmente
no processo de dar significados às concepções prévias construídas antes pelos
alunos, sem questionamentos. Também mostrou como as argumentações científicas
podem ser usadas para induzir a opinião da sociedade cosumidora e, finalmente,
percebeu-se que os vídeos, revelaram-se como excelentes recursos para instigar os
debates nas turmas.
AGRADECIMENTOS: Aos alunos do Colégio Batista de Laranjal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRUNELLI, A. F. A polêmica sobre os transgênicos: Monsanto vs. MST.(2011.) Bakhtiniana. 1 (5), 166-182.
MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise do discurso.(1997)3. Ed.Campinas: Pontes & Editora da UNICAMP.
MARTIN-BARBERO.MARTIN-BARBERO, J. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social. In: Sousa, M. W. (org). Sujeito, o lado oculto do receptor.(1995). São Paulo: USP Brasiliense.
SANTOS, W. L. P. e R. P. SCHNETZLER. Educação em química: compromisso com a cidadania.(2003) 3. ed. Ijuí: Unijuí.
TAKAHASHI et al. Questões Tecnológicas Permeando o Ensino de Química. (2008) Química Nova na Escola. 30 (29), 3-7.