53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: O USO DO PORTFÓLIO COMO INSTRUMENTO AVALIATIVO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE QUÍMICA

AUTORES: Santos, L.L. (UFPE) ; Laranjeira, J.M.G. (UFPE)

RESUMO: O objetivo principal desse trabalho foi investigar as concepções construídas pelos discentes sobre o uso do portfólio como instrumento de autorregulação e avaliação na prática docente, no ensino superior de Química. O portfólio foi introduzido como instrumento de avaliação na prática pedagógica de uma disciplina eletiva num curso de Licenciatura em Química pelo papel singular e sua importância significativa numa perspectiva transformadora do processo avaliativo e da sua práxis. A partir das representações sociais do portfólio enquanto instrumento de avaliação pode-se concluir sobre a sua superioridade em relação aos métodos tradicionais de avaliação.

PALAVRAS CHAVES: Avaliação da aprendizagem; Instrumentos avaliativos; Portfólio

INTRODUÇÃO: A avaliação do processo de ensino-aprendizagem tem ganhado espaço significativo no cenário das discussões educacionais, devido entre outros fatores, ao numero crescente de estudos relacionados com instrumentos avaliativos mais eficazes (ALLEN 2000, BARBERÁ 1999, BROWN et al. 2003, DE KETELE 2006 e PADILLA 2002). No entanto, mesmo diante das diversas propostas sobre novos instrumentos avaliativos, algumas com resultados satisfatórios (SOUZA e BORUCHOVITCH 2010, BERBEL et al. 2001, VASCONSELOS 2002 e LOPES, 2007) ainda se observa uma predominância do caráter classificatório, excludente e somativo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem no cenário educacional brasileiro. Segundo Costa et al. (2010) pensar em avaliação da educação superior nos permite vislumbrar diferentes concepções como diagnóstico, medida, julgamento, regulação da qualidade. Ou ainda, um conjunto de processos complementares, formativos, e por vezes somativos, que podem induzir negociações, transformações, ressignificação da vida acadêmica, num movimento contínuo capaz de potencializar o desenvolvimento de uma instituição, melhor posto, da comunidade que a compõe em sua globalidade. De acordo com Birgin e Baki (2007), um dos métodos alternativos que vem sendo utilizado e que permite avaliar o processo e o desenvolvimento cognitivo dos discentes, de forma individual ou coletiva, é o portfólio, que tem assumido um papel singular e de importância significativa, oportunizando ao docente perceber, numa visão ampla, o desempenho e as fragilidades do aprendiz. Nessa perspectiva, este trabalho apresenta uma análise das concepções dos discentes sobre o uso o do portfólio como instrumento de autorregulação e avaliação na prática docente, no ensino superior de Química.

MATERIAL E MÉTODOS: O estudo, com caráter semiqualitativo, foi ancorado no suporte teórico da Teoria das Representações Sociais enfatizada por Moscovice (1961, 1978, 2003). E também se respaldou nas idéias de Anadon e Machado (2001), que trazem reflexões teórico-metodológicas que auxiliam na investigação das possíveis diferenças significativas observadas nas representações sociais do portfólio enquanto instrumento de avaliação. Adotou-se a análise de conteúdo, proposta por BARDIN (1977), como técnica de interpretação dos dados coletados. O grupo de investigação foi composto pelos discentes do curso de Licenciatura em Química de uma Instituição de Ensino Superior situada no Agreste de Pernambuco, que cursaram regularmente à disciplina “Introdução à Química Nuclear”. O instrumento de coleta de dados foi um questionário semi-estruturado, com questões subjetivas e objetivas, que permitiram delinear o perfil sócio- educacional dos sujeitos da pesquisa e das suas concepções sobre a significação do portfólio e da sua representação social como instrumento de avaliação. Foram respeitadas as Diretrizes e Normas Regulamentadoras das Pesquisas envolvendo Seres Humanos (Resolução 196/96-CNS/MS, 1996), com a garantia do sigilo quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa, bem como o direito a liberdade de se recusar a participar ou de retirar o seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização e sem prejuízo ao seu vínculo institucional. O instrumento de coleta de dados foi encaminhado via correio eletrônico, acompanhado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cuja anuência dos sujeitos da pesquisa foi formalizada através do encaminhamento do questionário com as respostas, também por correio eletrônico, para os pesquisadores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A grande maioria dos pesquisados são do sexo feminino, com faixa etária predominante de 21 anos, destacando-se o fato de não exercerem qualquer atividade laboral e dedicando-se integralmente ao seu processo de formação. Observou-se uma maior representatividade de discentes egressos do ensino médio da rede pública, residentes em municípios circunvizinhos aquele em que cursam o ensino superior e que dispõem do transporte público como meio de locomoção para a Universidade. A maioria tem acesso à internet no seu domicílio, mas faz referência à Instituição onde cursa o ensino superior como sendo o local prioritário para acessar a rede mundial de computadores. Estes dados demonstram a importância da política de interiorização do Ensino Superior que tem favorecido o aprofundamento da inclusão educacional dos discentes oriundos da rede pública de ensino no Agreste de Pernambuco. Os dados levantados permitiram concluir que a avaliação somativa tem sido vivenciada pela maioria dos discentes pesquisados ao longo do seu processo de escolarização, verificando-se o uso de instrumentos avaliativos puramente classificatórios, seletivos e excludentes. Foi constatado ainda que o processo de formação acadêmica dos sujeitos da pesquisa vem favorecendo a percepção dos mesmos sobre um novo paradigma do processo avaliativo, que não seja pontual e que não esteja limitado apenas a informar, situar e classificar os erros. Por meio de associações livres, os discentes ressaltaram os seguintes significados referentes ao uso do portfólio: aprendizado, pesquisa, reflexões, construção, trabalho, tempo, organização, avaliação, discussão, interação docente-discente. A partir destes significados pode-se concluir sobre a superioridade do portfólio em relação aos métodos tradicionais de avaliação.

CONCLUSÕES: O resultado dessa investigação apontou que a avaliação somativa tem sido vivenciada pela maioria dos discentes ao longo do seu processo de escolarização e que a introdução do portfólio enquanto instrumento de autorregulação e avaliação mostrou superioridade aos métodos tradicionais de avaliação, estruturados numa perspectiva classificatória, seletiva e excludente, tendo propiciado aos discentes uma reflexão sobre o processo avaliativo e uma análise da realidade atual do seu nível cognitivo, na perspectiva de desenvolver novas ações para e efetivação do processo de ensino-aprendizagem.

AGRADECIMENTOS: A Universidade Federal de Pernambuco-Centro Acadêmico do Agreste, ao Núcleo de Formação Docente e aos alunos que se dispuseram a participar da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALLEN, D. La evaluación de los aprendizajes de los estudiantes. Una herramienta para el desarrollo profesional de los docentes. Barcelona, Paidós, ed. (2000).

ANADON, M. MACHADO, P.B. Reflexões teórico-metodológicas sobre as representações sociais. Salvador: UNEB, 2001.

BARBERÁ, E. Evaluación de la enseñanza, evaluación del aprendizaje. Barcelona, Edebé (1999).

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. [L’analyse de contenu] Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1977.

BERBEL, Neusi Aparecida Navas et al. Avaliação da aprendizagem no ensino superior: um retrato em cinco dimensões. Londrina: Eduel/Comped/Inep, 2001.

BIRGIN, O. BAKI, A. The use of portfolio to assess student’s performance, 2007. Disponível em: http://www.tused.org/internet/tufed/arsiv/v4/i2/metin/tusedv4i2s6.pdf; Acessado em: 20/05/2013.

BIRGIN, O. Investigation of the Application Level of a Computer Based Portfolios (2003).

BROWN, S., GLASNER, A. Evaluar en la universidad. Problemas y nuevos enfoques. Madrid, Narcea, ed. (2003).

DE KETELE, J.M. Caminhos para a Avaliação de Competencias. Revista Portuguesa de Pedagogia, 40, 3, 135-147 (2006).

LOPES, B.J.S. O mapa conceitual como ferramenta avaliativa. 2007. 164f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Londrina, 2007.

MOSCOVICI, S. La Psychanalise: Son image et son public 2ª Ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1961.

_____. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
_____. Representações sociais: Investigação em psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

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SOUZA, N.A., BORUCHOVITCH, E. Mapas conceituais: estratégia de ensino/aprendizagem e ferramenta avaliativa. Educação em revista. Belo Horizonte, v.26, n.03. p.195-218, dezembro de 210.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança por uma práxis transformadora. 6. ed. São Paulo: Libertad, 2003.