Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: DEBATES SOBRE RISCOS QUÍMICOS DOMÉSTICOS: UMA EXPERIÊNCIA FORA DA SALA DE AULA
AUTORES: Pires, R.O. (IFRJ) ; Messeder, J.C. (IFRJ)
RESUMO: Esta pesquisa é um dos resultados que compõe um Trabalho de Conclusão de Curso de
Licenciatura em Química, que prevê discutir o tema riscos químicos em ambientes
domésticos através da análise da prática de ensino realizada em espaços fora da
sala de aula. A investigação foi feita através de questionários e pela avaliação
das discussões geradas entre os grupos participantes. Os resultados encontrados
demonstram que existe um grande distanciamento entre os atuais objetivos do Ensino
de Química e a conscientização sobre os riscos para saúde causados por produtos
domissanitários, sendo importante que o professor de química reflita sobre sua
realidade escolar, trazendo um ensino mais contextualizado. É essencial que o
licenciando tenha a oportunidade de ressignificar a química em seu cotidiano.
PALAVRAS CHAVES: prática de ensino; riscos químicos; saneantes domissanitários
INTRODUÇÃO: O atual currículo mínimo da disciplina Química no Ensino Médio apresenta muita
distância entre as reais necessidades do conhecimento desta ciência para o
cidadão e as propostas que os documentos oficiais oferecem. Quando falamos de
riscos químicos em ambientes domésticos, percebemos a dimensão deste abismo. Um
aluno que termina hoje a Educação Básica, provavelmente não reconhece o risco
que há na mistura de água sanitária e amoníaco, mas é possível que saiba
escrever tal reação (SANTOS, 2006; KRASILCHIK & MARANDINO, 2007). A Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, através de estudos regionais, revela o
crescimento de casos de intoxicação humana por saneantes domissanitários,
correspondendo à metade dos casos quando comparados com os medicamentos, que
apresentam sempre o maior número de acidentes (registros de 2010, na região
Sudeste). Ainda segundo este estudo, os produtos de limpeza são tratados pela
população como inofensivos e seguros, devendo ser identificados para que os
cidadãos saibam como se prevenir dos produtos de limpeza clandestinos (ANVISA,
2003). Esse fato chamou a atenção para o trabalho aqui apresentado, que se
iniciou com uma discussão em aulas de metodologias de ensino, na formação de
professores de Química, sobre a periculosidade e toxicidade dos materiais que
utilizamos no dia-a-dia. Na busca por investigar a realidade das populações
vizinhas do IFRJ/Nilópolis, optamos por uma pesquisa participativa fora da sala
de aula, em locais como instituições beneficentes, postos de saúde, ONG, dentre
outros. Esses espaços para debates nos possibilitam levantar as concepções
prévias dos envolvidos e permitem que possamos contribuir para a conscientização
desta temática. Este trabalho pretende relatar os resultados obtidos em uma das
visitas realizadas.
MATERIAL E MÉTODOS: Para avaliar quais as carências reais da população que se pretende trabalhar é
necessário avaliar a prática-teoria-prática a fim de contribuir para a relação
dialética em turma (MARANDINO, 2003), pois não há necessidade de discutir
realidades que não existam na região onde a escola está inserida. Seguindo essa
linha metodológica, o relato aqui descrito, teve uma etapa de investigação em um
espaço cedido pela prefeitura da cidade de Nilópolis (RJ), onde são se oferecem
atividades físicas gratuitas, com professores de educação física, para
população. Estas atividades são realizadas numa quadra desportiva, na Praça
Matheus Vieira do Amaral, no bairro Olinda. Antes de iniciar a discussão, um
questionário foi preenchido pelo público, com a intenção de verificar a rotina
deste com produtos de limpeza e suas atitudes diante de acidentes. Os dados
utilizados no debate foram modificados a partir da palestra do Dr. Afrânio Gomes
P. Junior (Disponível em http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/modVII.htm) e de
outros domínios da Internet, onde as imagens foram exibidas em PowerPoint®. Ao
longo de toda apresentação do material, os discursos foram anotados para
posterior avaliação, uma vez que o questionário não é capaz de colher as emoções
e expressões do público. Desta forma as experiências do grupo puderam ser
debatidas e argumentadas por todos, gerando um processo de ensino-aprendizagem
instigado pelo próprio público. As questões postas nos questionários foram
retomadas durante a apresentação como dinâmica de grupo, para que a descontração
pudesse levá-los a participar efetivamente da construção destes saberes. Desta
forma foi possível também perceber que algumas respostas escritas no
questionário foram influenciadas pelos outros participantes quando aquele
indivíduo tinha dúvidas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O público, de 16 pessoas, era composto exclusivamente por mulheres na faixa de
54 a 67 anos. Destas senhoras aposentadas, 75% exercem somente a função do lar,
o que nos proporcionou diversos relatos de casos de acidentes com saneantes
domissanitários. Quando questionadas sobre os primeiros socorros em caso de
ingestão de produtos como água sanitária, 40% das entrevistadas recomendaram
beber leite, revelando que a questão dos antídotos caseiros ainda está muito
presente no discurso popular. Do público presente 70% presenciou casos de
ingestão de saneantes, principalmente por crianças, e ninguém do grupo soube
informar se existe algum serviço especializado para tratamento em caso de
intoxicação. Também houve confusão ao classificar os números de emergência como
o do Corpo de Bombeiros e o do Serviço Móvel de Urgência (SAMU). Quanto a outros
tipos de intoxicação, o público não foi capaz de relacionar os vapores destes
produtos com possíveis irritações nos olhos ou nas vias respiratórias, uma vez
que a maioria classificou como acidente quando houvesse contato direto com o
corpo. Uma senhora, no entanto, revelou que usava “máscara do tipo guarda pó”
quando usava produtos como “pinho” e água sanitária, pois um médico havia
aconselhado, porém, na prática ela não sentia diferença, o que possivelmente a
fez crer que não havia nenhuma medida preventiva para estes casos. As dermatites
causadas pelos detergentes e sabões geraram grande discussão no público, a
maioria afirmou que notaram o ressecamento na mão, mas associavam os sintomas de
descamação à idade, logo não usavam luvas ao lavar a louça. Percebemos que uso
de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), é encarado como algo usado somente
para serviços realizados em empresas de limpeza e dispensável em atividades
domésticas.
CONCLUSÕES: Pode-se verificar que relação entre Química e Sociedade possibilita que o futuro
professor perceba, por exemplo, as estratégias de marketing, os aspectos
econômicos e éticos que permeiam a fabricação de um produto domissanitário. Torna-
se significante a inserção do tema riscos químicos em ambiente domésticos em
espaços extramuros da escola, sendo fundamental entender os reais saberes da
população a fim de realizar um trabalho direcionado e significativo. Com isso, as
práticas de ensino preconizadas agregarão, de fato, a democratização dos
conhecimentos gerados nas licenciaturas em Química.
AGRADECIMENTOS: Agradecimento à iniciativa da instituição de fomento à pesquisa, FAPERJ, pelo
financiamento do projeto principal do qual esse trabalho faz parte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANVISA – Agência de Vigilância Sanitária.Orientações para os consumidores de saneantes. Brasília: ANVISA, 2003. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/saneantes/cartilha.htmhttp://www.anvisa.gov.br/saneantes/cartilha.htm> Acesso em 09/07/2013.
KRASILCHIK, M.; MARANDINO, M. Ensino de Ciências e Cidadania, 2. ed. São Paulo: Moderna, 2007.
MARANDINO, M. A Prática de Ensino nas Licenciaturas e a Pesquisa em Ensino de Ciências: Questões Atuais. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 20, n.2, p. 168-193, 2003.
SANTOS, W.L.P. Letramento em Química, Educação Planetária e Inclusão Social. Química Nova; SBQ. São Paulo, vol. 29, n. 3, p 611-620, 2006.