Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: Formação de Professores de Química na Perspectiva Sócio-Histórica: A Experiência do Parfor/Ufba
AUTORES: Moradillo, E.F. (UFBA) ; Carvalho, J.R.M.C. (UFBA) ; Anunciação, B.C.P. (UFBA) ; Lima, C. (UFBA) ; Messeder-neto, H.S. (UFBA) ; Pimentel, H.O. (UFBA) ; Sá, L.V. (UFBA) ; Santos, M.S. (UFBA) ; Santos, P.F.S. (UFBA) ; Silva, R.J. (UFBA)
RESUMO: O Parfor é um Programa do Governo Federal que tem como objetivo principal a formação de professores da rede pública de educação básica. Na Licenciatura em Química/Parfor/Ufba criamos um Projeto Político-Pedagógico que traz como fundamentos a Pedagogia Histórico-Crítica, a Psicologia Histórico-Cultural e o trabalho como princípio educativo, aliados aos debates contemporâneos sobre ética, política, economia e ambiente, com o objetivo de superar o referencial empírico-analítico dominante nos cursos de formação de professores de química. As mudanças curriculares aconteceram, levando os alunos a ter outro trato com o conhecimento e alterando a sua prática pedagógica.
PALAVRAS CHAVES: Parfor; Formação de Professores; Ensino de Química
INTRODUÇÃO: O Parfor é um Programa do Governo Federal, coordenado pelo MEC/Capes, em parceria com os Estados, Municípios e as Instituições de Educação Superior – IES. Tem como objetivo principal a formação de professores — 1ª ou 2ª licenciatura — da rede pública de educação básica, para que estes profissionais possam obter a formação exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, proporcionando assim, a melhoria da qualidade da educação básica no País. A Ufba iniciou esse programa em agosto de 2010, com oito cursos e dentre eles o de Licenciatura em Química. Nesse momento estamos no último semestre do curso, 2013.1.
A formação de professores de ciências e em especial de química tem sido, predominantemente, baseada na perspectiva empírico analítica, com todos os seus desdobramentos na concepção de homem, natureza, sociedade, conhecimento, educação e ciência. A crítica tem sido feita a esse tipo de formação pela comunidade de educadores e novas abordagens têm sido propostas.
Entendemos que a formação de professores tem carecido de um projeto político-pedagógico que radicalize na análise da realidade social, onde o lógico e o histórico se entrelaçam e se articulam, ou melhor, onde o contexto sócio-histórico — no seu movimento, tempo e espaço — seja o pano de fundo para as nossas análises educacionais. Com o objetivo de romper com essa formação empírico-analítica temos atuado nos nossos cursos utilizando como referenciais teórico-metodológicos a pedagogia histórico-crítica, a psicologia histórico-cultural e o trabalho como princípio educativo.
Nesse trabalho iremos expor as concepções gerais que adotamos, dentro da perspectiva sócio-histórica, para a organização do currículo do Parfor, além dos resultados preliminares alcançados.
MATERIAL E MÉTODOS: O curso de Licenciatura em Química/Parfor foi concebido em seis semestres, com aulas concentradas em uma semana por mês, de 7/19h, ocupando os doze meses do ano.
Nesse curso partimos do pressuposto que a realidade social é histórica, contingente e transitória e que só pode ser abordada do ponto de vista material ou da luta dos seres humanos pela existência, isto é, tendo o trabalho como fundante do ser social (MARX, 2006; LESSA, 2007).
Assim, para dar conta desse pressuposto, temos trabalhado com a Pedagogia Histórico-Crítica, a Psicologia Histórico-Cultural e o trabalho como principio educativo. Na dimensão prática do currículo criamos oito componentes curriculares, num um total de 544h, que tratam das questões mais gerais e do ensino de química. Nas questões gerais abordamos: o trabalho como fundante do ser social; correntes epistemológicas e sua consequência na produção do conhecimento científico; o papel da história no ensino de ciências; relações entre ciência, tecnologia e sociedade; discussões sobre ética e ambiente na sociedade contemporânea; as relações entre as formas de produzir conhecimento, bens materiais e relações sociais. Nas questões do ensino de química abordamos: o ensino de química como práxis, a história e a epistemologia como próprias do ensino de química, o papel da experimentação e a contextualização no ensino de química; além das discussões relativas aos aspectos éticos, políticos, econômicos e ambientais provenientes da apropriação e utilização dos conhecimentos científicos e em particular da química, dentro de relações capitalistas de produção e reprodução da vida (MORADILLO, 2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Como resultados podemos indicar algumas mudanças nos alunos que consideramos significativas. A compreensão que só é possível entender os problemas educacionais na sua relação reflexiva com o contexto sócio-histórico foi uma delas. Essa compreensão levou alguns alunos a afirmar a necessidade de se construir efetivamente uma práxis pedagógica, estimulando-os a interferir no projeto político-pedagógico da escola e no planejamento das aulas. Percebemos também com relação à concepção de conhecimento um avanço: saindo de uma concepção de conhecimento como produto de prateleira de supermercado — algo pronto e acabado, pronto para ser consumido — para algo relacional, multideterminado e que muda com o contexto sócio-histórico. De uma forma geral percebemos uma superação na concepção ingênua dos processos de ensino e de aprendizagem, principalmente com relação à afirmação de que o professor não ensina e é apenas um “estimulador” da relação do aluno com o conhecimento — o que temos denominado de concepção ingênua de ensino ou construtivismo ingênuo.
Desta forma, o currículo pautado na perspectiva sócio-histórica tem propiciado aos alunos incorporarem na sua formação os referenciais filosóficos da ontologia do ser social; da história social do homem, da educação e das ciências; das questões epistemológicas envolvendo a produção do conhecimento científico; das questões éticas e ambientes provenientes das relações capitalistas de produção e reprodução da nossa existência; da pedagogia histórico-crítica e da psicologia histórico-cultural.
CONCLUSÕES: Podemos afirmar que o novo currículo criou uma identidade própria e aumentou a auto-estima dos alunos do Parfor. Os aspectos históricos, filosóficos e pedagógicos passaram a fazer parte da prática dos acadêmicos e estão sendo incorporados nas suas análises do ensino de química, da educação e da realidade social, assim como das suas aulas; superando o referencial empírico-analítico que vinha predominando na formação de professores de química.
Assim, entendemos que é possível formar professores indo além dos conhecimentos específicos da sua área de atuação — sem perda da qualidade dos conhecimentos específicos da área e sem ampliação do tempo de formação —, tendo sempre como objetivo a formação integral e a emancipação humana.
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: LESSA, S. Para compreender a ontologia de Lukács. 3. ed. rev. e ampl. Ijuí: Unijuí, 2007.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. 1. ed. reimpressa. São Paulo: Boitempo, 2006.
MORADILLO, E. F. A dimensão prática na licenciatura em química da UFBA: possibilidades para além da formação empírico-analítica. Tese (Doutorado em Ensino, Filosofia e História das Ciências), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.