Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: ADAPTAÇÕES DOS CONTEÚDOS DE QUÍMICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO PROCESSO DE INCLUSÃO
AUTORES: Guimaraes, I.S. (FAESA) ; Mello, M.R. (FAESA)
RESUMO: A presente pesquisa teve como objetivo desenvolver um processo de observação,
reflexão e ação na formação inicial dos licenciandos de Química do Instituto
Superior de Educação (FAESA) acerca de metodologias para o efetivo processo de
ensino aprendizagem dos alunos com deficiência visual. A partir das atividades
realizadas e dos questionários aplicados aos alunos é possível constatar que
existe a possibilidade de ressignificar o processo de ensino, através da
construção de recursos que podem ser adaptados de forma simples e criativa, além
de despertar em cada futuro professor a necessidade de uma prática voltada para
uma educação inclusiva.
PALAVRAS CHAVES: Ensino de Química; Recursos Didáticos; Deficiente Visual
INTRODUÇÃO: A inclusão de alunos deficientes visuais (DV) nas salas de ensino regular é uma
realidade nas escolas brasileiras, amparada pelos documentos legais que, durante
as últimas décadas, buscaram as mudanças necessárias para a implementação e
manutenção de uma escola inclusiva (BRASIL, 1996; BRASIL 2011).
Os alunos DV representam um grande desafio na educação inclusiva, principalmente
no que tange ao desenvolvimento de materiais didáticos adequados para uma
participação igualitária no processo de ensino-aprendizagem (BERTALLI, 2010). A
situação se torna ainda mais desafiadora quando nos referimos ao ensino da
Química, pois trata-se de uma disciplina muitas vezes abstrata, atrelada ao
estímulo visual e que utiliza uma linguagem própria, com fórmulas e símbolos
fundamentais ao seu aprendizado (BRITO, 2005).
A falta de formação dos professores das classes regulares para atender esses
sujeitos constitui um sério problema na implantação da escola inclusiva. A
realidade de grande parte dos currículos dos cursos de licenciatura é
preocupante, pois a preparação do professor vai muito além de cursar uma
disciplina específica.
Durante a realização da disciplina Estágio Supervisionado em Ensino I,
acompanhamos o dia-a-dia de uma escola estadual no Município de Vitória, no
estado do Espírito Santo, na qual estava inserida uma aluna cega. A experiência
na sala de aula e as dificuldades da aluna no aprendizado da Química motivaram a
realização do presente estudo. Portanto, o objetivo desta pesquisa foi
desenvolver um processo de observação, reflexão e ação na formação inicial dos
licenciandos de Química da FAESA, a partir de adaptações de alguns recursos
didáticos articulados aos conteúdos da disciplina com o intuito de possibilitar
o efetivo processo de aprendizagem.
MATERIAL E MÉTODOS: O modelo teórico-metodológico adotado nesse estudo foi o modelo de pesquisa
qualitativa, que se baseou em pesquisas bibliográficas, observações e
questionários. A proposta de trabalho fez parte da disciplina Políticas
Educacionais e Organização da Educação Brasileira e contou com a participação de
27 alunos, do quarto período do curso de Licenciatura em Química da FAESA.
O projeto consistiu no planejamento de uma aula para o ensino regular, com
práticas
voltadas para a educação inclusiva de deficientes visuais, sobre um tema
específico, distribuído aleatoriamente, na forma de sorteio, de conteúdos de
Química do 2º ano do ensino médio.
Primeiramente os licenciando participaram de uma palestra com dois professores
especialistas na educação de pessoas com DV. Foi realizada uma
exposição sobre histórias, práticas e relatos sobre o processo de inclusão do
deficiente visual. Posteriormente, foi aplicado um questionário aos estudantes
de Química acerca das percepções desta proposta de trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A partir das atividades propostas percebeu-se que a temática experimentação foi
um tópico abordado pela maioria dos grupos. A experimentação constitui uma
ferramenta valiosa no ensino de Química, assim, os grupos procuraram utilizar
experimentos simples, que não precisam de salas especiais, podendo ocorrer em
salas de aula regulares. Preocupação relevante, principalmente quando pensamos
no ensino público em que diversas escolas não possuem laboratórios
especializados. Um exemplo de experimento simples foi demonstrado pelo grupo 4
que utilizou comprimidos efervescentes inteiros e em pedaços, comprados na
farmácia, para verificar a influência da superfície de contato na velocidade das
reações, com o auxílio de um cronometro.
Abordou-se também a adaptação de recursos didáticos, com a confecção de gráficos
utilizando materiais baratos e atóxicos, além da presença de legendas em
Braille. Foi possível perceber que os licenciados preocuparam-se em confeccionar
recursos para a utilização tanto dos deficientes visuais quanto dos
normovisuais.
Ao final da atividade foram distribuídos questionários acerca das dificuldades
encontradas para o planejamento das aulas e sobre o papel do professor na
educação inclusiva. A maioria dos estudantes declarou pensar que era
“impossível” ensinar Química para estes alunos e que durante a licenciatura
nunca pensaram na educação dos deficientes visuais. Foi possível notar ainda que
os licenciandos desmistificaram a educação inclusiva e compreenderam que os
recursos didáticos precisam ser explorados e o professor deve utilizar a
criatividade, a integração e a participação de todos na sala de aula para
proporcionar um processo igualitário de aprendizagem.
CONCLUSÕES: Após a atividade com os licenciandos verificamos que, com uma formação inicial
pautada na discussão e vivência dos desafios que os mesmos podem encontrar na sala
de aula, estamos corroborando para a formação de professores críticos e capazes de
adotar práticas voltadas para a educação inclusiva. Almeja-se que as reflexões e
abordagens iniciadas com essa pesquisa possam continuar a partir de outros estudos
que colaborem com práticas cada vez mais significativas ao processo ensino
aprendizado dos alunos com DV.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos aos alunos que participaram dessa pesquisa e os profissionais
envolvidos nesse projeto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BERTALLI, Jucilene Gordin. Ensino de Geometria Molecular, para Alunos Com e Sem Deficiência Visual, Por Meio de Modelo Atômico Alternativo. Dissertação(Mestrado em Ensino de Ciências). Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010.
BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de Novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7611.htm#art11> Acesso em: 11/07/2013
BRASIL. Lei nº 9.394, de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDB). São Paulo, p.103. 2000.
BRITO, Lorena Gadelha de Freitas. A Tabela Periódica: Um Recurso Para A Inclusão De Alunos Com Deficiência Visual. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências Naturais e da Matemática). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2005.