53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: OTIMIZAÇÃO MULTIVARIADA DO SISTEMA DE PRÉ-CONCENTRAÇÃO E EXTRAÇÃO SELETIVA DE ARSENATO POR PONTO NUVEM EMPREGANDO GFAAS

AUTORES: Costa, B.E.S. (UFG) ; Coelho, L.M. (UFG) ; Coelho, N.M.M. (UFU)

RESUMO: Neste estudo, foi desenvolvido um procedimento altamente sensível e seletivo para determinação de arsênio por espectroscopia de absorção atômica eletrotérmica em forno de grafite após extração por ponto nuvem. O procedimento é baseado na formação do complexo de As(V) com molibdato em meio de ácido sulfúrico 50,0 mmol/L e ácido ascórbico 0,1 mmol/L. O complexo formado foi extraído para a fase micelar do surfactante Triton X-114 0,06% m/v, utilizando NaCl 0,008% m/v como eletrólito para indução do ponto nuvem sem a necessidade de aquecimento. As variáveis que afetam a formação do complexo, a extração e a separação das fases foram otimizadas empregando planejamento fatorial e metodologia de superfície de resposta, tornando o método proposto uma ferramenta promissora na especiação de arsênio.

PALAVRAS CHAVES: arsênio; extração por ponto nuvem; GFAAS

INTRODUÇÃO: As fontes de arsênio no ambiente podem envolver a ocorrência natural em minerais, solo e água. Arsênio pode ser encontrado em vários estados de oxidação (-3, 0, +3 e +5), como resultado de sua participação em processos biológicos, antropogênicos, químicos e aplicações industriais, podendo estar tanto na forma inorgânica como orgânica. As formas inorgânicas incluem o meta arsenito trivalente, As(III), e o arsenato pentavalente, As(V). As formas orgânicas mais comuns são os metabólitos metilados como o ácido metilarsênico e o ácido dimetilarsênico (Santos, 2004; Stanley, 2000). O potencial tóxico e a disponibilidade de arsênio no meio ambiente dependem de vários fatores, incluindo o potencial redox e o pH. Os compostos inorgânicos são 100 vezes mais tóxicos que as formas metiladas (Barra et al., 2000). Para proteger a saúde humana torna-se necessário desenvolver metodologias eficientes capazes de determinar a concentração desse elemento, que geralmente está presentes em níveis traço (Santos, 2004). Dentro desse contexto a extração por ponto nuvem (CPE) vem se destacando como uma técnica bastante versátil e promissora na separação e pré-concentração de várias substâncias apresentando várias vantagens, em vista da simplicidade de operação, baixo custo, emprego de reagentes de baixa toxicidade, proporcionando altos fatores de pré-concentração. A CPE torna possível a determinação segura de elementos presentes em níveis traço ou ultra-traço, livre das interferências da matriz quando aliada às técnicas espectrométricas de detecção, como o absorção atômica em forno de grafite (GFAAS). O método é ainda mais aprimorado quando se estabelece um programa de temperatura apropriado para um extrato orgânico em atuação conjunta com modificadores, capaz de oferecer excelente sensibilidade

MATERIAL E MÉTODOS: Foi utilizado um espectrômetro de absorção atômica com atomização eletrotérmica em forno de grafite Varian SpectrAA-240Z equipado com corretor de fundo por efeito Zeeman, e auto-amostrador acoplado. A aquisição do sinal analítico foi por meio de absorbância integrada (área de pico). Foi utilizado argônio de alta pureza como gás de purga. Tubos de grafite com plataforma de L'vov integrada modificados permanentemente com irídio foram empregados como atomizadores eletrotérmicos, sendo injetado um volume total de 0,02 mL da amostra. Aplicou-se um programa de temperatura adequado para meio orgânico, construído da seguinte forma: temperaturas de secagem em 3 estágios: 85ºC (5 s); 95ºC (40 s) e 120ºC (10,0 s); temperatura de pirólise: 1148ºC (8s); temperatura de atomização: 2155ºC (5,0 s); temperatura de limpeza do tubo: 2600º C (2,0 s). Em todas essas etapas, o fluxo de argônio foi mantido em 0,3 L/min, exceto durante a etapa de atomização, em que o fluxo foi interrompido. Para a extração por ponto nuvem, alíquotas de 10 mL da solução padrão de As(V) foram colocados em frascos de centrífuga juntamente com 0,400 mL de ácido sulfúrico 1,25 mol/L, 0,566 mL de molibdato de amônio 0,015 mol/L e 0,100 mL de ácido ascórbico 0,01 mol/L para a formação do complexo azul de molibdato. A mistura foi agitada durante cinco minutos sendo adicionado em seguida 2,00 mL de Triton X-114 0,3% m/v e 0,133 mL de NaCl 0,6% m/v. A mistura foi centrifugada em 3000 rotações por minuto durante 10 minutos e após a separação das fases, o sobrenadante foi cuidadosamente removido e descartado. A viscosidade da fase rica em surfactante foi reduzida com a adição de 0,100 mL de uma solução diluente de ácido nítrico 0,1 mol/L em metanol. O conteúdo foi então levado para detecção de arsênio por meio do GFAAS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A reação de formação do complexo reduzido azul de molibdato, seletiva para As(V), ocorre em meio ácido, em que o pH deve ser necessariamente ajustado com ácido sulfúrico. Como o pH exerce forte influência na eficiência de extração, foi realizado um estudo inicial compreendendo a faixa entre 1,5-4,5. Foi verificado que o sinal analítico é mais favorecido em pH 1,0. Este valor foi considerado como pH ótimo, correspondendo à 0,05 mol/L de H2SO4. Neste pH, a espécie As(III) não é eficientemente extraída. Fixando este pH, foi realizada a triagem das variáveis a serem otimizadas através de planejamento fatorial completo de 2 níveis para 4 fatores: concentrações do complexante molibdato [Molib], do agente redutor do complexo ácido ascórbico [HAsc], do surfactante [Triton X-114] e do eletrólito [NaCl] para verificar a influência da força iônica. Os níveis inferiores (-1) e superiores (1) investigados são mostrados na tabela 1. Foi verificado que [Molib], [NaCl] e a interação [Molib]x[HAsc] foram significativas ao nível de 95% de confiança, conforme mostra a figura 1, sendo essas variáveis exploradas na modelagem de uma superfície de resposta por meio de planejamento composto central. [Triton X-114] também apresentou efeito significativo com a formação de um pequeno volume de fase rica, mantendo fixo o nível indicado pelo gráfico de Pareto (Fig. 1). A superfície de resposta apresentou um ponto crítico relacionado à maximização do sinal, correspondendo aos valores ótimos: [Molib] 0,85 mmol/L; [HAsc] 0,1 mmol/L e [NaCl] 0,008% m/v. Os resultados foram tratados por meio de análise de variância (ANOVA), sendo que o modelo de regressão quadrática ofereceu bom ajuste para superfície de resposta com porcentagem explicada de 93%, podendo-se obter um fator de pré-concentração de 78,3.

Tabela 1

Níveis dos fatores estudados no planejamento fatorial.

Figura 1

Gráfico de Pareto obtido a partir do planejamento fatorial para otimização da extração de As(V) por ponto nuvem.

CONCLUSÕES: O método otimizado de extração seletiva de As(V) por ponto nuvem proporcionou aumento expressivo na sensibilidade de detecção por GFAAS, podendo levar ao alcance de limites de detecção e quantificação extremamente baixos. O uso de planejamentos multivariados forneceu informações essenciais para que os parâmetros analíticos de mérito para essa metodologia possibilitem a determinação de arsênio nos mais variados tipos de amostras dentro dos valores normatizados por agências regulamentadoras. O método é simples, de baixo custo e apresenta potencialidade para ser aplicado em estudos de especiação.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem à CAPES, ao Instituto de Química da UFU - MG e ao Departamento de Química da UFG - Campus Catalão-GO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARRA, C. M.; SANTELLI, R. E.; ABRAO, J. J.; GUARDIA, M. G. Especiação de arsênio - uma revisão. Química Nova, vol. 23, No. 1, 58-70, 2000. SANTOS, L. M. G. Avaliação e otimização de metodologias de determinação do arsênio total, As(III) e As(V) em amostras de água e alimentos e a relevância dos riscos por ingestão. Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária / INCQS, 2004.