53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Físico-Química

TÍTULO: AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DO EFEITO DA OXIDAÇÃO NA INTERAÇÃO GALVÂNICA ENTRE CALCOPIRITA E GALENA.

AUTORES: Idelfonso, M.I.A. (UEZO) ; Junior, C.R.F.A. (UEZO)

RESUMO: A eletroquímica dos sulfetos minerais é objeto de muitas pesquisas devido as suas propriedades semi-condutoras e da possibilidade de extração de metais a eles associados O objetivo deste trabalho foi avaliar à luz da eletroquímica o efeito da oxidação sobre a interação galvânica entre amostras de calcopirita (CuFeS2) e galena (PbS). Nesse estudo a calcopirita não sofreu alteração na presença da galena, porém esta teve seu comportamento alterado, assemelhando-se ao daquela. Já na interligação das amostras previamente oxidadas os potenciais de calcopirita e galena foram exatamente iguais durante todo o experimento. Portanto, pode-se inferir que, na presença de oxidação das superfícies, a interação galvânica faz com que a superfície da galena comporte-se como a da calcopirita, assim como reduz os valores de potenciais de ambas.

PALAVRAS CHAVES: Calcopirita; Galena; Interação Galvânica

INTRODUÇÃO: Os sulfetos minerais são fontes primárias da maioria dos metais. Assim, as reações de oxidação, adsorção e redução entre sulfetos minerais em soluções aquosas tem papel importante no processamento mineral durante as operações de flotação (processo de separação de misturas que consiste na introdução de bolhas de ar a uma suspensão de partículas) e lixiviação (processo de extração de um constituinte solúvel de um sólido pelo emprego de um solvente). Além das reações supracitadas, ressalta-se ainda o fenômeno da interação galvânica (Ralston, 1991). A interação galvânica é um fenômeno ocorrido entre dois minerais causado por seus diferentes potenciais de eletrodo, que levam a reatividades eletroquímicas distintas. A química de superfície de sulfetos é muito complexa, se comparada à dos metais e dos óxidos (Gonçalves, 2003). O conhecimento do potencial de repouso é de fundamental importância para a avaliação de um mineral. Com esse valor, é possível obter várias informações sobre um mineral referentes a seu comportamento isolado ou associado a outros minerais. Em qualquer processo industrial envolvendo minerais, ocorrem reações químicas, em sua maioria de oxirredução, que exercem influência marcante nas etapas que compõem tal processo. Quando os minerais estão em contato, formam uma célula galvânica e ocorrem reações de oxirredução devido às diferenças entre seus potenciais de repouso.

MATERIAL E MÉTODOS: A fim de se obter medidas de potencial de repouso desses sulfetos, foram preparados eletrodos de minerais obtidos a partir de amostras naturais maciças de calcopirita e galena. Cada amostra foi conectada a um fio de cobre com uma cola condutora à base de prata e embutida numa resina epóxi não-condutora, com um dos lados do mineral exposto à solução. Fora também utilizada uma célula de formato retangular feita de acrílico, fechada com uma tampa do mesmo material. O eletrólito foi uma solução de KCl 10-3mol.L-1. As medidas de potencial dos minerais interligados eletricamente, em relação a um eletrodo de calomelano saturado (ECS; E0=0,242V), foram tomadas com o auxílio de multímetros digitais, durante um período total de 120 minutos em intervalos de 5 em 5 minutos. Além dessas, também foram tomadas medidas de potenciais das amostras interligadas eletricamente previamente oxidadas durante 10 minutos em solução de peróxido de hidrogênio (H2O2) P.A. 10% v/v.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Conforme mostrado na Figura 1, interligando os eletrodos da calcopirita e da galena, nota-se que o potencial da calcopirita aumentou fortemente nos 10 minutos iniciais. Ao mesmo tempo, o potencial da galena sofreu uma acentuada diminuição. A partir daí, os valores dos potenciais de ambos os minerais aumentaram, mantendo-se praticamente iguais até o final das medições. Com esses resultados foi possível observar que a calcopirita sofreu oxidação formando villamaninita (CuS2) conforme a reação abaixo proposta por Richardson (1995): CuFeS2 + 3H2O ↔ CuS2 + Fe(OH)3 + 3H+ + 3e- Cabe ressaltar ainda que a oxidação da calcopirita promove a conversão de íons Fe2+ em Fe3+ e posterior precipitação deste na forma de hidróxido férrico sobre a superfície mineral, não apresentando alteração significativa em seu comportamento na presença de interligação elétrica com a galena. Porém, a galena teve seu comportamento alterado, assemelhando-se ao comportamento da calcopirita. Segundo Guy e Trahar (1985), isso se deve a influência de íons de cobre derivados da calcopirita. Já na Figura 2, os potenciais de calcopirita e galena foram exatamente iguais durante todo o experimento. Portanto, pode-se inferir que, na presença prévia de oxidação das superfícies, a interação galvânica faz com que a superfície da galena comporte-se como a da calcopirita durante todo o experimento, assim como reduz os valores de potenciais de ambas, a superfície da galena pode estar saturada com enxofre devido à interação com átomos de oxigênio, de acordo com a reação (Plante e Sutherland, 1948): PbS + O(superfície) + H2O ↔ Pb2+(aq) + S(PbS) + 2OH-(aq) Logo, pode-se inferir que a interação galvânica entre esses minerais faz com que a superfície da galena comporte-se eletroquimicamente como a da calcopirita.

Interligação elétrica entre calcopirita e galena não oxidadas.

Variação do potencial de calcopirita e galena na presença de interligação elétrica entre elas em relação ao tempo.

Interligação elétrica entre calcopirita e galena previamente oxidadas.

Variação do potencial de calcopirita e galena previamente oxidadas na presença de interligação elétrica entre elas em relação ao tempo.

CONCLUSÕES: - O fenômeno da interação galvânica não provocou na calcopirita alteração em seu comportamento eletroquímico. - A galena, na presença de interligação elétrica sem prévia oxidação, comportou-se de maneira semelhante à calcopirita, o que foi confirmado pelos valores de potencial de repouso de ambos,a influência de íons de cobre derivados da calcopirita pode ser a explicação para tal comportamento. - O efeito da oxidação sobre a interação entre calcopirita e galena fez com que os minerais se comportassem como se fossem um único mineral, o que foi comprovado por seus potenciais de repouso.

AGRADECIMENTOS: À FAPERJ e à Pro-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UEZO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: GONÇALVES, K.L.C. Efeito da oxidação superficial na flotação do minério de cobre e ouro do Salobo. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais. , 136 p., 2003.

GUY,P.J.,TRAHAR,E.J. The effect of oxidation and mineral interaction on sulphide flotation. In: Developments in Mineral Processing, Flotation of Sulphide Minerals, Ed. K.E.S. Forssberg, Elesevier Science Publishers B. V.6 ,p.91-110,1985.

PLANTE, E.C., Sutherland, K.L., (1948) AIME Techn. Publ. 229p.

RALSTON, J. Eh and its consequences in sulphide mineral flotation. Minerals Engineering, v. 4, n. 7-11, pp. 859-878, 1991.

RICHARDSON, P.E. Surface chemistry of sulfide flotation. In.: Mineral Surfaces. Vaughan, D.J. ,& Pattrick, R.A.D. (editores), Chapman & Hall, Cambridge, p.261-302,1995.