53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Química Inorgânica

TÍTULO: SÍNTESE SOLVOTERMICA E CARACTERIZAÇÃO DA REDE METALORGÂNICA La-BDC

AUTORES: Leite, A.K.P. (UFRN) ; Barros, B.S. (UFRN) ; Kulesza, J. (UFRN, UFPE) ; Campos, V.O. (UFRN) ; Alves Jr., S. (UFPE)

RESUMO: Redes metalorgânicas são classificadas como materiais híbridos cristalinos formados por íons ou clusters metálicos conectados por ligantes orgânicos politópicos. Neste trabalho reportamos à obtenção de uma nova rede metalorgânica a base de íons La3+ e acido isoftálico. O sólido obtido, na forma de microcristais foi caracterizado por difração de raios-x, espectroscopia de infravermelho, microscopia eletrônica de varredura e análise termogravimétrica. Os resultados de difração de raios-x e espectroscopia de infravermelho foram comparados com analises realizados em amostras de ácido isoftálico puro e confirmaram a desprotonação e a coordenação aos íons lantanídeos, dando origem a uma nova rede metalorgânica.

PALAVRAS CHAVES: Redes metalorgânicas; lantânio; ácido isoftálico

INTRODUÇÃO: Redes Metalorgânicas (do inglês Metal Organic Frameworks-MOFs) são híbridos inorgânico-orgânicos formados por íons ou clusters metálicos e por ligantes de natureza orgânica em ponte (JAMES, 2003). Estes materiais apresentam propriedades tanto da parte inorgânica quanto da orgânica (KUPLLER et al. 2009), sendo em geral insolúveis (PAZ et al., 2012) e apresentando alta porosidade e elevadas áreas superficiais. Outra importante característica das redes metalorgânicas é a significativa variabilidade estrutural (YAGHI et al. 2004), a qual confere uma gama considerável de diferentes propriedades, fazendo destes materiais excelentes alternativas para o armazenamento de gases, catálise, entrega e armazenamento de drogas, agente de contraste em ressonância magnética (RMN), entre outras aplicações (ZHOU et al., 2012). Os MOFs ou polímeros de coordenação são normalmente sintetizados a partir de uma solução de um sal metálico e de um ligante orgânico, a uma determinada razão molar. No entanto, existem vários métodos de síntese que vem sendo empregada para a obtenção de redes metalorgânicas, tais como, difusão lenta, síntese hidrotérmica, eletroquímica, micro-ondas, solvotérmica, sendo que está ultima é caracterizada pelo uso de solventes orgânicos. Uma das grandes vantagens de se trabalhar com solventes orgânicos reside na solubilidade da maioria dos ligantes, ao contrario do que é observado com a água. Desta forma, a preparação dos polímeros de coordenação não precisa ser feita em condições supercríticas de temperatura e pressão, como ocorre na síntese hidrotérmica. Diante do exposto este trabalho tem como objetivo a síntese e caracterização de uma nova rede metalorgânica “MOF” a base de íons lantanídeos (La3+) e de um ácido dicarboxílico (1,3-BDC).

MATERIAL E MÉTODOS: Para obtenção do material híbrido foi utilizado 1mmol(433mg) de nitrato de lantânio hexa-hidratado (La(NO3)3.6H2O), 1 mmol (166mg) de ácido isoftálico (1,3- BDC), o solvente utilizado foi 10ml de dimetilformamida, ao misturar todos os reagentes os mesmos foram colocados em um tubo de ensaio. A síntese foi realizada em uma estufa a uma temperatura de 90º C durante 4 dias. Formou um precipitado branco com aspecto gelatinoso, que foi filtrado e lavado 3 vezes com etanol. Depois de filtrado e lavado com DMF o material foi para estufa a uma temperatura de 60°C durante 24 horas para secar, em seguida, o material foi caracterizado por Difração de Raios-X (DRX), Infravermelho (FTIR), Analises térmicas (TG/DTA) e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Fig. 1 podemos observar no espectro do ligante puro uma banda de absorção a 1689 cm-1, esse estiramento é característico do grupo carbonila (C=O) presente no ácido isoftálico. Porém, este mesmo estiramento aparece deslocado para 1657 cm-1 no espectro do material sintetizado. Esse deslocamento ocorre devido à ligação do metal com o ligante ou a desprotonação, causando a diminuição da constante de força da carbonila. Isto sugere que houve coordenação ao íon central (La3+) pelo grupamento carbonila (C=O) do ligante orgânico. Os resultados obtidos por DRX também indicam a formação de uma rede metalorgânica, uma vez que não se observam picos de difração característicos do ligante (1,3- BDC) no difratograma da do material sintetizado, ou de nenhum produto da decomposição do nitrato de lantânio, tais como oxinitratos ou oxido de lantânio. Observou-se no MEV que os microcristais em forma de bastões apresentam tamanhos entre 5 a 20 μm. Outro forte indicio da formação de uma rede cristalina metalorgânica foi obtido com base nos resultados de TG/DTG. Os experimentos realizados na faixa de 25-800 °C evidenciaram que a decomposição do ligante puro 1,3-BDC ocorre entre 240 e 340 °C. Por outro lado, para o material produzido foram identificados pelo menos cinco eventos de perda de massa, o primeiro e segundo relacionados à água adsorvida na superfície dos microcristais (31– 66 °C / 75 – 96 °C, exotérmico), o terceiro se refere ao DMF coordenado (198 – 206 °C, exotérmico), o quarto evento é atribuído a decomposição do ligante 1,3-BDC (559 – 589 °C, endotérmico) e também esta associado a cristalização de uma nova estrutura, provavelmente de um carbonato de lantânio, o qual no quinto evento começa a se decompor liberando CO2, formando o óxido de lantânio.

Figura1: Espectros de Infravermelho do 1,3-BDC e da MOF La-BDC.

Na Fig.1 são apresentados os espectros de infravermelho do ligante orgânico puro (vermelho) e do material sintetizado (preto).

Figura 2: Difratogramas do 1,3-BDC e da MOF La-BDC



CONCLUSÕES: A análise dos espectros de infravermelho e dos difratogramas de raios-X sugerem fortemente que houve a coordenação entre o íon La3+ e o ácido isoftálico formando uma rede metalorgânica. Os microcristais da MOF obtida apresentam morfologia na forma de bastões entre 5 e 20 μm. Os resultados das analises térmicas mostraram que o ligante orgânico coordenado apresenta uma maior temperatura de decomposição, o que também sugere a formação da rede metalorgânica.

AGRADECIMENTOS: CNPQ e LAMMEN.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: JAMES, S. L. Metal-organic frameworks. Chemistry Society Reviews, 32, 276–288, 2003.
KUPPLER. R.J.; TIMMONS. D.J. et al. Potencial applications of metal-organic frameworks. Coordination Chemistry Reviews, 253, 3042-3066, 2005.
PAZ, F. A. A.; KLINOWSKI, J.; VILELA, S. M. F.; TOMÉ, J. P. C.; CAVALEIRO, S.; ROCHA, J. Ligand desing for functional metal-organic frameworks. Chemistry Society Reviews, 41, 1088-1110, 2012.
YAGHI, O. M.; ROWSELL, J. L. C. Metal–organic frameworks: a new class of porous materials. Microporous and Mesoporous Materials, 73, 3–14, 2004.
ZHOU, H; LONG, J. R; YAGHI, O. M; C.Y. Introduction to Metal-organic frameworks. Chemical Reviews, 112, 673-674, 2012.