53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: Efeito da Temperatura na Extração e Integridade Estrutural de Colágenos Písceos (Cynoscion acoupa)

AUTORES: Calvet, A.P.S. (UFMA) ; Pereira, L.S. (UFMA) ; Bezerra, C.W.B. (UFMA)

RESUMO: O colágeno písceo possui características peculiares, tais como facilidade de extração, custo reduzido, ausência de doenças conhecidas que comprometam a sua qualidade, etc.) e baixa temperatura de desnaturação. Sendo o Maranhão um Estado com intensa atividade pesqueira, este trabalho propôs a verificação do efeito da temperatura (4°C e 25°C) na extração e qualidade estrutural do colágeno obtido a partir da pele e da bexiga natatória da Pescada Amarela (Cynoscion acoupa). Os resultados indicaram que o rendimento da extração é favorecido a baixa temperatura e é maior para bexigas natatórias que para peles; de acordo com a espectroscopia vibracional na região do infravermelho, tanto o colágeno extraído a 4°C, quanto a 25°C, e para ambas as fontes,apresentam a mesma integridade estrutural.

PALAVRAS CHAVES: Colágeno; Cynoscion acoupa; Bexiga natatória

INTRODUÇÃO: O colágeno é uma das estruturas proteicas essenciais do corpo, sendo de peculiar ocorrência em tecidos conjuntivos. É bastante empregado nas indústrias química e farmacêutica, e matéria-prima para diversos produtos tecnológicos e cirúrgicos. O colágeno pode ser extraído de muitas fontes, tais como: peles e tendões de bovinos, suínos, aves e peixes, além de bexigas natatórias (SENA, L.A.; 2004). Apesar da importância de todas estas fontes, o colágeno písceo apresenta algumas peculiaridades que têm merecida a atenção de pesquisadores e comerciantes. Dentre elas, citamos: facilidade de extração, ausência nos peixes de doenças que desvalorizariam o produto (como a Encefalopatia espongiforme bovina, gripe aviária, etc.), temperatura de desnaturação e custo. Como no litoral do Estado do Maranhão são bastante comercializados peixes que apresentam bexigas natatórias, este trabalho se propõe a investigar o efeito da temperatura no rendimento da extração e na qualidade estrutural do colágeno obtido a partir da pele e da bexiga natatória do peixe Pescada Amarela (Cynoscion acoupa).

MATERIAL E MÉTODOS: O colágeno foi extraído a duas temperaturas distintas, 25°C e 4°C, empregando-se soluções de ácido acético 0,5 mol/L, deixadas em contato por 24 e 48 horas. As peles e bexigas natatórias foram lavadas com bastante água corrente, cortadas em pedaços pequenos e submersas em soluções de ácido acético 0,5 M, em diferentes proporções massa:volume. Os resultados aqui apresentados são para relação 10g: 500 ml. As amostras colocadas em temperatura ambiente ficaram em contato por 24 h, enquanto que as amostras colocadas a temperatura a 4°C necessitaram de um tempo maior (48 a 72 h). O colágeno foi precipitado pela adição de NaCl 2 mol/L. As amostras foram centrifugadas, durante 30 minutos, e o precipitado recolhido e lavado por várias vezes consecutivas até a ausência de íons cloreto, constatada a partir de testes no filtrado com adição de AgNO3. O material obtido foi seco em dessecador, durante 2 dias, e macerado para a obtenção do pó. A caracterização do material foi feita pelos espectros vibracionais na região do infravermelho, obtidos utilizando-se o espectrofotômetro Shimadzu, com transformada de Fourier.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A 25°C, provavelmente em virtude da menor viscosidade do meio, a extração foi bastante facilitada. A relação tecido:solvente pode, portanto, ser favorecida em função da menor quantidade de solvente necessária à extração. Em condições de baixa temperatura, o líquido torna-se viscoso, comprometendo a continuidade do processo extrativo. Em ambos os casos, após a maceração do material, os colágenos apresentaram idêntica coloração (esbranquiçada). A obtenção do colágeno a partir da bexiga natatória apresentou um maior rendimento. Ainda que este tecido seja bastante rico nesta proteína, a julgar por trabalhos anteriores, nem todos os peixes o possuem, sendo limitadas as espécies que apresentam interesse comercial para este mercado. Ao contrário, as peles, as quais muitas vezes findam por parar em lixões, representam fonte interessante para exploração de colágenos. Com relação a temperatura, observamos que a cinética de extração a 25ºC é mais rápida, entretanto, a precipitação a 4°C, por ser mais eficiente, garante um rendimento maior ao processo realizado a baixa temperatura. Os espectros vibracionais na região do infravermelho (Figuras 1 e 2) apresentaram bandas em 1654 cm-1, 1543 cm-1, 1454 cm-1 e 1238 cm-1, as quais são características da Amida(I), Amida(II), Anéis pirrolidínicos e Amida(III), respectivamente. São estes agrupamentos que nos dão evidências da preservação da estrutura tridimensional do colágeno obtido (PEDROSO, M.G.V.; 2009). As razões entre as transmitâncias dos espectros da pele e bexiga natatória deram valores próximos de um (0,99 – 1), confirmando que não houve alteração nas suas estruturas secundárias proteicas e, portanto, viabilizando o modo de extração a temperatura maior, o que representa redução de custos operacionais.

Figura 1

Espectros vibracionais do colágeno obtido a partir do colágeno da bexiga natatória, a 4°C e 25°C.

Figura 2

Espectros vibracionais do colágeno obtido a partir do colágeno da pele, a 4°C e 25°C.

CONCLUSÕES: A temperatura tem um efeito significativo nas etapas de extração e precipitação/lavagem do material colagenoso. A 25ºC, a extração é favorecida, entretanto, apresentou menores rendimentos. Todavia, as extrações em ambas as temperaturas não modificam a tripla hélice ou a integridade estrutural do colágeno obtido.

AGRADECIMENTOS: UFMA, FAPEMA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: PEDROSO, M.G.V., Estudo comparativo de colágeno hidrolisado e comercial com adição de PVA. 2009. 37-39p. São Paulo, 2009. SENA, L.A. Produção e caracterização de compósitos hidroxiapatita-colágeno para aplicações biomédicas. 2004. 11-13p. Rio de Janeiro, 2004.