53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: Índice de acidez dos óleos de copaíba comercializados nas feiras livres de Ji-Paraná, Rondônia, Brasil

AUTORES: Silva, J. (IFRO) ; Mendonça, A. (IFRO) ; Oliveira, A. (IFRO) ; Ferreira, R. (IFRO) ; Rosa, J. (IFRO) ; Araújo, M.E. (IFRO)

RESUMO: O uso medicinal do óleo de copaíba é comum pela população da Amazônia. Na região norte, a demanda é atendida por diversas espécies que, muitas vezes, têm seus óleos misturados antes da comercialização. O óleo é comercializado em feiras livres, contudo pouca atenção é dada a qualidade desse produto. Portanto, objetivo foi avaliar o índice de acidez dos óleos de copaíba comercializados nas feiras livres de Ji-Paraná, Rondônia. Foram compradas três amostras de óleos, denominadas de “A”, “B” e “C”. O índice de acidez foi determinado de acordo com a metodologia Adolfo Lutz. Os óleos de copaíba tiveram altos índices de acidez (25,86 a 33,11 mg.g-1 de KOH). Os óleos estavam acondicionados em embalagens de plástico transparentes sem rotulagem adequada comparado as exigências da legislação vigente.

PALAVRAS CHAVES: COPAIFERA; ÓLEOS VEGETAIS; AMAZÔNIA

INTRODUÇÃO: A extração de óleo de diversas espécies de copaíba é uma prática comum nas comunidades do interior da Amazônia (SHANLEY e MEDINA, 2005). O óleo apresenta propriedades medicinais, sendo empregado pela população local contra infecções, como cicatrizante e antisséptico das vias urinárias (BALZON et al.; 2004). Tem utilidade ainda na indústria de cosméticos e de vernizes. A árvore de copaíba pertence à família Fabaceae, do gênero Copaifera, sendo comumente encontrada na América Latina e África Ocidental. No Brasil há ocorrência de 20 espécies localizadas nas regiões sudeste, centro-oeste e amazônica (FRANCISCO, 2005; PIERI et al., 2009). A e extração do óleo se dá por meio da perfuração do tronco. O óleo apresenta uma heterogeneidade de cor variando do amarelo ao marrom e apresenta cheiro forte, sabor amargo e acre. Na Amazônia, a demanda é atendida por diversas espécies que, muitas vezes, têm seus óleos misturados antes da comercialização (VEIGA JUNIOR & PINTO, 2002). O óleo é comumente comercializado em feiras livres, ervanários e lojas de produtos naturais (ROMERO, 2007). As feiras livres são importantes espaços onde as pessoas desenvolvem relações comerciais entre populares urbanos e rurais (GUERRA e SOUZA, 2010). Deve-se ressaltar que a disponibilidade do óleo de copaíba no comércio local é limitado, principalmente quanto aos aspectos de qualidade e regularidade de oferta (HOMMA, 1993). Há necessidade de cuidados ao longo da cadeia, principalmente com a identificação das espécies, acondicionamento do óleo em embalagens adequadas e ainda por espécie explorada e ainda armazenamento em ambiente ao abrigo do calor e da luz. Portanto, o objetivo do trabalho foi avaliar a qualidade dos óleos de copaíba comercializados nas feiras livres de Ji-Paraná, Rondônia.

MATERIAL E MÉTODOS: Foi realizado um levantamento do índice de acidez dos óleos de copaíba comercializados nas feiras-livres em Ji-Paraná, Ronônia. Na cidade existem apenas quatro feiras-livres que ocorrem durante a semana: feira do 2 de abril, feirão do produtor, feira da T-1 e feira da T-14. Em cada feira livre tem apenas uma barraca que vende óleos vegetais. Nas quatro feiras apenas em três tinham óleo de copaíba para comercialização. Foi comprado um litro de óleo de copaíba em cada barraca da feira. As amostras de óleo foram denominadas de “A”, “B” e “C”. A qualidade do óleo de copaíba comercializado foi avaliada por meio do índice de acidez em triplicata de acordo com a metodologia descrita por ADOLFO LUTZ (2005). A análise foi realizada no Laboratório de química geral do Instituto Federal de Rondônia, Câmpus Ji-Paraná. O índice foi comparado com o descrito na Resolução 270 de 2005 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) (BRASIL, 2005). Em cada barraca visitada foi observado à forma de acondicionamento do óleo, a exposição do produto ao sol, as descrições no rótulo e a procedência do óleo, a fim de identificar os fatores que podem influenciar na qualidade do óleo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os óleos de copaíba comercializados nas feiras livres tiveram o índice de acidez variando de 25,86 a 33,11 mg.g-1 de KOH, considerado alto pela legislação vigente (BRASIL, 2005). Apenas os óleos “B” não estavam expostos ao sol, resultando em menores índices de acidez (Tabela 1). Os feirantes compram os óleos de Manaus em embalagens de plástico reutilizados de refrigerantes transparentes de 2 litros e fracionavam para garrafas de plástico menores. Os feirantes não souberam responder sobre as diferentes espécies do gênero Copaifera. Notou-se também que os óleos são comercializados sem rotulagem adequada conforme a legislação vigente. SHANLEY et al (1998) indicaram que a qualidade dos óleos vegetais nas feiras livres em Santarém, Belém e Manaus é avaliada de maneira empírica pela cor, odor e ainda a viscosidade, o que justifica as embalagens transparentes. Estudo realizado por SOUZA (2010) em Rondônia encontrou índice de acidez de 9,4 mg.g-1 de KOH para Copaifera multijulga e de 48,9 mg.g-1 de KOH considerado alto para a Copaifera piresii. O padrão visual adotado pelos feirantes não é confiável, pois há variações nas características físicas dos óleos de copaíba decorrentes de atributos genéticos e ambientais das diferentes espécies do gênero Copaifera (RIGAMONTE-AZEVEDO et al., 2006; CASCON, 2004). Além disso, as características químicas dos óleos podem ser alteradas pelo processo de extração, no caso, pela mistura de óleos de diferentes espécies, acondicionamento e exposição à luz e ao calor. O padrão de qualidade de um óleo define o seu uso industrial, por exemplo, um óleo mais fino, menos ácido tem maior fração de óleos essenciais e pode ser destinado a indústria farmacêutica ou utilizado como fixador de perfumes em empresas de cosméticos (BARBOSA et al.; 2009).

Tabela 1

Índice de acidez das amostras de óleo de copaíba comercializadas nas feiras-livres em Ji-Paraná, Rondônia.

CONCLUSÕES: A exposição ao sol e o fracionamento do óleo em embalagens de plástico transparentes colaboraram com a oxidação dos óleos de copaíba comercializados nas feiras livres em Ji-Paraná. O acondicionamento do óleo em embalagens transparentes, apesar de não aconselhável é mantido, pois a qualidade do óleo é avaliada popularmente pela cor e odor. Uma alternativa viável para melhorar a qualidade dos óleos de copaíba vendidos nas feiras é a capacitação dos produtores sobre as espécies de copaíba que ocorrem na região bem como técnicas de acondicionamento do óleo de acordo com a legislação vigente.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao Instituto Federal de Rondônia e ao CNPq por meio do edital 058/2010 pelas bolsas concedidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BALZON DR, SILVA JCGL, Santos AJ. Aspectos mercadológicos de produtos não madeireiros - Análise retrospectiva [online]. Floresta 2004; 34(3):363-371. Available from: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/ floresta/article/view/2422/2024.

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SHANLEY, P. e MEDINA, G. Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica. Belém: CIFOR, Imazon, 300 p. 2005.

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VEIGA JÚNIOR, V. F.; PINTO, A. C. O gênero copaifera L. Química Nova, v.25, n.2, p.273-286, 2002.