53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Materiais

TÍTULO: ESTUDO DA VIABILIDADE DO USO DE ÓLEOS VEGETAIS COM FLUIDO DE CORTE INTEGRAL NO PROCESSO DE RETIFICAÇÃO

AUTORES: Morais, H.L.O. (CEFET-MG) ; Silva, L.R. (CEFET-MG) ; Calado, C.R. (CEFET-MG) ; Moreira, M.R. (CEFET-MG) ; Figueiredo, C.X.G. (CEFET-MG) ; Paula, N.M. (CEFET-MG) ; Barbosa, E.J.A. (CEFET-MG) ; Bicalho, I.S. (CEFET-MG) ; Braga, C. (CEFET-MG)

RESUMO: Este trabalho visa analisar a viabilidade de utilização dos óleos de soja, milho e canola e misturas com óleo mineral como possíveis substitutos para o fluido de corte integral no processo de retificação. Avaliação do processo foi realizada pelos ensaios de: rugosidade, temperatura, formação de fumaça, espuma e odor. A caracterização dos óleos foi realizada pelo índice de acidez e corrosão à lâmina de cobre. Os resultados mostram que o fluido de corte apresentou-se agressivo ao processo e corrosivo à peça. Já para os óleos vegetais, mostraram-se menos agressivo ao processo e peça. O óleo de soja 100% e a combinação canola + milho obteve rugosidades próximas ao do mineral. Estes resultados indicam potencialidades do uso de óleos vegetais como alternativas para os fluidos de corte.

PALAVRAS CHAVES: manufatura ecológica; óleos vegetais; retificação

INTRODUÇÃO: Fluidos de corte são substâncias utilizadas nas indústrias metal-mecânicas durante a usinagem dos materiais. O processo de retificação geralmente é utilizado como operação final da linha de produção de componentes de alta precisão (XIÃO et al., 1992). A capacidade lubrificante e refrigerante são de grande importância, pois reduzem a ocorrência de danos térmicos na zona de corte (IRANI, 2005). Os fluidos de corte são, na grande maioria à base de óleo mineral, devido principalmente à relação entre o custo e características as técnicas necessárias ao processo. No entanto, estes fluidos de corte são compostos por substâncias geradoras de poluição, apresentando elevado potencial toxicológicas ao homem e baixa biodegradabilidade (ALVEZ; OLIVEIRA, 2008). Em busca de técnicas de produção menos agressivas ao meio ambiente e ao operador, o uso de óleos vegetais no processo de usinagem constituem uma alternativa. Eles apresentam bom contato para lubrificação, elevado índice de viscosidade, alto ponto de fulgor e baixa volatilidade (CAMPANELLA et al., 2010). Além disso, o Brasil é um dos maiores produtores deste tipo de óleo, principalmente o de soja, o que favorece ainda mais a sua utilização (FOFANA et al., 2010). Devido às vantagens de serem de fonte renovável é crescente o estudo para o desenvolvimento de fluidos de corte ambientais amigáveis tendo como base diversos óleos vegetais (SINGH, 2006). O objetivo deste trabalho é estudar a viabilidade de utilização dos óleos de soja, milho e canola como possíveis substitutos para o fluido de corte integral de base parafínica no processo de retificação. O estudo foi realizado mediante avaliação e comparação das propriedades físicas, químicas e mecânicas dos óleos vegetais e mineral.

MATERIAL E MÉTODOS: O fluido de corte integral comercial utilizado para a comparação com os óleos vegetais foi do tipo mineral Mecafluid 14SC da marca Petronas Lubrificantes do Brasil. Ele apresenta base parafínica e contém aditivos sulfoclorados inativos indicados para operações de corte em geral. Os óleos vegetais analisados foram: de canola - Brassica campestris, de soja - Glycine max e de milho - Zea mays, todos adquiridos no mercado local sem realização de tratamento adicional. Foi realizada a avaliação do comportamento dos óleos vegetais 100% (sem mistura) e combinados (50% v.v-1) durante a retificação dos corpos de prova no aço ABNT 4340 temperado e revenido com dureza média de 52 HRc na retificadora Sulmecânica RPH 600. A temperatura atingida pela peça foi medida após o corte por meio de um termômetro de infravermelho, do fabricante Minipa modelo MT-390. A análise da formação de fumaça, de espuma e de odor marcante foi realizada de forma comparativa e atribuiu-se notas de 1 a 5, sendo 1 elevado e 5 baixo ou ausente. O acabamento superficial da peça foi definido pelo parâmetro Ra, procedimento baseado nas normas JIS 2001 e DIN 4776 utilizando o rugosímetro Mitutoyo, modelo SJ-301. A caracterização dos óleos vegetais e fluido de corte mineral foi realizada pelas análises de índice de acidez e de corrosão à lâmina de cobre. O índice de acidez foi determinado por método titrimétrico mediante neutralização com hidróxido de potássio 0,1 mol L-1 e fenolftaleína como indicador. A corrosividade devido à presença de compostos de enxofre foi verificada pela imersão de lâminas de cobre com dimensões especificadas pela norma nas amostras de óleos. Os frascos com as amostras foram borbulhados com nitrogênio por um minuto e mantidos por 19 horas em estufa a 140 ºC, conforme descrito na NBR 10505.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Tabela 1 são apresentados os resultados obtidos para a análise do comportamento dos óleos 100% e combinados durante a retificação. O valor total obtido pela soma das notas atribuídas a cada parâmetro indicou que os óleos vegetais 100% apresentaram melhor desempenho do que o óleo mineral e combinado. Os valores da temperatura na zona de corte foram próximos para todos os fluidos, em torno de 32°C. Na retificação com óleo mineral e suas combinações observou fumaça e odor. Em nenhum dos fluidos testados houve formação de espuma. Os óleos: mineral, milho + canola e soja 100% apresentaram peças com menor valor de rugosidade. Já as combinações dos óleos vegetais com o mineral obteve rugosidade superior a do mineral. Os resultados obtidos para a caracterização dos fluidos são apresentados na Tabela 2. A Figura 1 apresenta os aspectos da corrosividade. Os valores do índice de acidez para as amostras de óleo vegetal foram próximos. Para óleos vegetais este índice indica a quantidade de ácidos graxos livres. Já para o óleo mineral, composto em grande parte de compostos parafínicos, acredita-se que o resultado seja devido aos aditivos. Segundo Muniz (2008), quanto maior o índice de acidez, maior a probabilidade de haver corrosão nas peças. Os resultados encontrados confirmam esta afirmação. O óleo mineral apresentou maior índice de acidez e causou maior corrosão às peças de cobre. Analisando os resultados apresentados nas Tabelas 1 e 2, observou-se que o óleo de soja 100% exibiu eficiência próxima ao do fluido mineral com vantagem de não se observar formação de fumaça e a liberação de odor. Além disso, a menor acidez dos óleos vegetais proporcionou uma menor corrosão à peça. Dessa forma, o óleo de soja 100% apresenta grande potencialidade como substituto ao óleo mineral.

Tabela - 2 Caracterização dos fluidos

Resultados obtidos para as análises de índice de acidez e de corrosão à lâmina de cobre.

Tabela - 1 Avaliação do comportamento dos óleos no processo

Valores atribuídos para as análises de temperatura, formação de fumaça e espuma, odor e rugosidade durante a retificação com os óleos 100% e combinado

CONCLUSÕES: Os óleos de soja, milho e canola no processo de retificação apresentaram no geral melhor desempenho do que o óleo mineral. Os óleos vegetais mostraram-se menos agressivo ao processo e não corrosivo à peça. Em relação à rugosidade, o óleo de soja e a combinação canola + milho apresentaram resultados próximos ao mineral. Os resultados indicam os óleos vegetais como uma alternativa para substituição do uso de óleos minerais. Características como menor toxicidade, fontes renováveis e biodegradabilidade, somadas as apresentadas na pesquisa, vem endossar sua utilização no processo de retificação.

AGRADECIMENTOS: Ao CNPq, FAPEMIG e CEFET-MG pelo apoio financeiro de auxílio à pesquisa e pelas bolsas de Produtividade em Pesquisa, Mestrado e de Iniciação Científica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10505:2006. Determinação de enxofre corrosivo. Rio de Janeiro, 2006.

ALVES, S.M.; OLIVEIRA, J.F.G. Vegetable based cutting fluid: na environmental alternative in the grinding process. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL CIRP EM ENGENHARIA CICLO DE VIDA, 15., Sydney, 2008. Anais... . Sydney: CIRP. p. 664-668. 2008.

CAMPANELLA, A.; RUSTOY, E.; BALDESSARI, A.; BALTANÁS, M.A. Lubrificants from chemically modified vegetable oils. Bioresource Technology. 2010.

FOFANA, I.; HEMMATJOU, H. FARZANEH, M. Low temperature and moisture effects on polarization and depolarization currents of oil paper insulation, Electric Power Systems Research, v. 80, p. 91-97. 2010.

IRANI, R. A.; RAUER, R. J.; WARKNTIN, A. A review of cutting fluid application in the grinding process. International Journal of Machine Tools e Manufacture, p. 1696-1705. 2005.

MUNIZ, C. A. S. Novas formulações de fluido de corte: otimização, propriedades e recuperação do óleo usado. 2008. 177f. Tese (Doutorado). Centro de Ciências Exatas e da Terra. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal. 2008.

SINGH AK, et al. Metal working fluids from vegetable fluids. Journal Synth Lubr, p.123-76, 2006.

XIÃO, G; MALKIN, S; DANAI; K. Intelligent control of cylindrical plunge grinding. ACC/WA11, p. 391-399. 1992