Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Alimentos
TÍTULO: AVALIAÇÃO DE NUTRIENTES EXISTENTES EM FARELOS OBTIDOS DO MESOCARPO DO FRUTO DO MARIZEIRO (GEOFFROEA SPINOSA)
AUTORES: Silva, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Silva, E.E.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA) ; Silva, L.P.F.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Santos, M.S.A. (UNIDERC) ; Souza, A.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Souza, A.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Araujo, A.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE)
RESUMO: Buscando o resgate de alimentos regionais e saudáveis, o fruto do Marizeiro (Geoffroea spinosa), apresenta-se como uma fonte alternativa no nordeste brasileiro, região conhecida por ter poucos recursos hídricos, aliado a uma considerável escassez de alimentos. Nesta proposta, evidencia-se a obtenção e caracterização físico-química do farelo do mesocarpo do fruto do Marizeiro, a fim de utilizá-lo como fonte de nutrição de baixo custo e em futuras formulações em substituição ou complementação de farináceos comercializados atualmente. Este estudo permitiu avaliar que as amostras apresentam boas fontes de proteínas e açúcares e baixo teor de lipídios, gerando redução no conteúdo energético contribuindo em formulações dietéticas.
PALAVRAS CHAVES: mesocarpo; caracterização ; Geoffroea spinosa
INTRODUÇÃO: Característica da região nordeste do Brasil, a Caatinga é considerada a quarta maior formação vegetacional, sendo reconhecida como uma das 37 grandes áreas naturais do planeta (LEITE et al, 2009). O bioma caatinga segundo o IBAMA é o principal ecossistema existente na região nordestina, estendendo-se pelo domínio de climas semi-áridos, numa área de 73.683.649 ha, representando cerca de 6,3% do território nacional, podendo ser encontrado nos estados da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Maranhão e Minas Gerais. Nesta região encontramos a espécie Geoffroea spinosa objeto de nosso estudo que é popularmente conhecido como Mari ou Marizeiro, tendo ocorrência natural em matas ciliares e ambiente inundável, como lagoas e áreas depressionárias, em vastas áreas do semi-árido e ecossistemas associados (SOUZA et al, 2011). O fruto do Mari apresenta forma oval, medindo de dois a quatro centímetros, pele fina que envolve uma massa oleosa, doce e comestível quando cozida. No centro da fruta encontramos um caroço, cuja semente ou amêndoa também serve de alimento. Da polpa faz-se farinha para mingau por ocasião das secas ou mesmo em tempos normais nas áreas do sertão (SILVA, 2013). Porém, até então não existe estudos sobre a qualidade deste fruto, que leva a avaliar a sua potencialidade como alimento, sendo assim, este trabalho tem por objetivo analisar as características físico-químicas do farelo obtido do mesocarpo do fruto do Marizeiro (Geoffroea spinosa).
MATERIAL E MÉTODOS: Os frutos do Marizeiro (Geoffroea spinosa) foram coletados nas cidades de Pombal e Lagoa no estado da Paraíba. Os frutos foram acondicionados em caixas plásticas e transportados para o Laboratório de Análise Química do Centro Vocacional Tecnológico do CCTA/UFCG. As amostras foram submetidas à lavagem, sanitização, depois separados em dois lotes, um destinado ao processamento in natura e o outro para cozimento. Após esta fase, isolaram-se os mesocarpos, que foram submetidos à secagem em estufa a 65 ºC e moídas em moinho de facas para se obter um farelo in natura (FMI) e cozido (FMC).
Os parâmetros físico-químicos analisados foram: acidez, pH, umidade, cinzas, teor de cloretos, lipídios e proteínas de acordo com IAL (2008) e açúcares solúveis, açúcares redutores, teor de amido, valor energético segundo Yemn e Willis (1954) Miller (1959), Hodge (1962), Anvisa (2003) respectivamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os dados de acidez, pH, umidade e cinzas obtidos nos farelos da amêndoa do fruto do Marizeiro estão expostos na Tabela 01 e na Tabela 02 os dados de proteínas, lipídios, açúcares solúveis e redutores, teor de cloretos e amido e valor energético. A Legislação brasileira não estabelece padrão para a acidez e pH de farelos do mesocarpo de Mari, mas algumas farinhas apresentam valor de acidez determinado, como é o caso da farinha de mandioca e de trigo com valores de 2,0% e 3,0% e os estudos de Dias (2006), mostram que a farinha de mandioca tem pH 4,2 a 6,1 e segundo ICTA/UFRGS (2012), a farinha de trigo tem pH entre 6,1 e 6,8. A ANVISA (1996) estabelece que o teor de umidade das farinhas não deve ultrapassar 15% e o teor máximo de cinzas entre 2,0 e 2,5%. Desta forma, os farelos do mesocarpo do Mari estão dentro dos padrões de farináceos normalmente encontrados no mercado.
A ANVISA não estipula limite para o teor de cloretos, lipídios, açúcares solúveis e redutores, mas segundo Amorin (2007), os valores de cloretos em farinha de mandioca estão entre 0,095 a 1,55%. Para Dias et al (2006) e Chisté (2010) os lipídios encontrados em farinha de mandioca foram de 1,39% e 1,02% e os dados obtidos por Dias et al (2006) para açúcares solúveis e redutores deste mesmo produto foi de 0,26 a 3,35% e 0,2%. A Legislação adota valores de teor de proteínas para as farinhas de trigo e de mandioca de 7% e de 1,5% respectivamente, enquanto para os teores de amido e valor energético não existe limite, mas em estudos Chisté (2010) obteve 50,58% de amido e Dias et al (2006) encontrou nível de 346 kcal/100g de valor energético em farinha de mandioca. Todos esses dados mostram a qualidade do farelo do mesocarpo do fruto do Marizeiro quando comparado com os farináceos atualmente comercializados.
Tabela 01: Dados de acidez, pH, umidade e cinzas das amostras
Dados de acidez, pH, umidade e cinzas das amostras de farelos do mesocarpo do fruto do marizeiro
Tabela 02: Outros dados físico-químicos obtidos em FMC e FMI
Dados de Proteínas,teor de cloretos, lipídios, açúcares solúveis e redutores, teor de amido e valor energético das amostras FMC e FMI.
CONCLUSÕES: O processo de cozimento do fruto para a obtenção dos farelos ocasionou interferências relevantes nas propriedades físico-químicas analisadas, podendo ser considerado um procedimento aconselhável para obtenção deste material. Os valores obtidos para os parâmetros analisados mostraram-se dentro dos limites estabelecidos pela legislação vigente, além de serem boas fontes de proteínas e açúcares e baixo teor de lipídios que gera redução no valor energético, contribuindo para formulações alimentícias com redução calórica, ou na substituição e complementação da farinha de trigo ou mandioca.
AGRADECIMENTOS: Ao Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar (CCTA) e ao Centro Vocacional
Tecnológico (CVT) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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