53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Alimentos

TÍTULO: PRODUÇÃO DE AGUARDENTE A PARTIR DA CASCA DE MANGA-ROSA (Mangifera Indica L.)

AUTORES: Rezende, T.C. (IFAL) ; Avelino, D.O.S. (IFAL) ; Silva, V.N.T. (IFAL)

RESUMO: A aguardente é reconhecida como uma bebida tipicamente brasileira, tendo maior valorização em ocasiões que o sabor e aroma específicos das frutas utilizadas são mantidos após o processamento. O presente trabalho trata de uma pesquisa experimental que tem por objetivo a produção de aguardente a partir de variadas frutas comum à área nordestina, sendo este especificamente a partir da casca da manga-rosa. Sendo necessário preservar e valorizar a cultura nacional da legítima bebida brasileira, cada variedade é produzida visando sua particularidade de aromas e de acordo com as especificações de cada fruta. Apesar da tradicionalidade e alta aceitação da aguardente de cana-de-açúcar, a aguardente de manga-rosa também obtém sua credibilidade devido, principalmente, à excentricidade de seu aroma.

PALAVRAS CHAVES: aguardente; manga-rosa; Nordeste

INTRODUÇÃO: ‘’Aguardente de fruta é a bebida com graduação alcoólica de trinta e seis a cinquenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida de destilado alcoólico simples de fruta ou pela destilação de mosto fermentado de fruta’’, de acordo com o decreto 6.871, de 4 de Junho de 2009. No presente trabalho foi utilizada como matéria-prima a casca de manga, por ser uma fruta que possui grande adaptação e produção em solo brasileiro, principalmente em Pernambuco. Sendo a casca a matéria-prima primordial para o processamento a seguir, foi escolhida a manga-rosa como variedade a ser utilizada por ser a de maior rendimento e casca madura em tons que variam entre amarelo, laranja e vermelho rico em fibras que favorecem o bom funcionamento do intestino. A autêntica aguardente, tipicamente reconhecida como um produto original brasileiro, não tem sido devidamente valorizado, tampouco apreciada de maneira correta. O verdadeiro fim da aguardente industrial e artesanalmente produzida é favorecer e preservar a cultura brasileira de se apreciar perfeitamente os diversos aromas e sabores da matéria-prima utilizada, mantidos mesmo após o término do processamento. Desta forma, está sendo desenvolvida atualmente por este grupo uma atividade experimental que visa produzir diferentes variedades da bebida, sempre buscando valorizar as características e corretas apreciações da bebida perdidas com o tempo, a partir de frutas típicas da região Nordeste que resultem em um produto refinado e originalmente brasileiro.

MATERIAL E MÉTODOS: Balança semi-analítica, refratômetro ABBE 1,300-1,72nD E 0-95%Brix, pHmetro digital de bancada modelo DM-22, densímetro sacarímetro de Brix com escala 0/30 e limite de erro ±0,2, termômetro, chapa elétrica, caldeirões de aço-inox 15L, alambique de cobre 14L, fermento biológico comercial (Saccharomyces Cerevisiae), cascas de manga-rosa, açúcar, fosfato de amônia, sulfato de potássio ou magnésio. O mosto produzido a partir da casca da manga-rosa foi preparado com polpa na proporção de 1:2, sendo casca de manga triturada com água mineral, acrescidos de fermento biológico, fosfato de amônia e sulfato de magnésio. Após ser feito o cálculo para ajuste de Brix (15º a 16º), utilizando o método de cruz de cobenze, foi adicionado açúcar ao mosto. A fermentação do mosto a partir da manga é um pouco mais demorada que a fermentação de um mosto tradicional preparado a partir de caldo de cana-de-açúcar, por exemplo, levando cerca de uma semana. Após determinado tempo o brix do mosto se encontrava em 4°, sendo portanto o momento ideal para se realizar a destilação. A primeira porcentagem de líquido que se obtém da destilação é a cabeça da aguardente, sendo descartada por alto teor toxinas prejudicial ao ser humano, assim como a porcentagem final do destilado conhecida como cauda. Através das primeiras quantidades do coração do destilado obtido, foi realizada a medição de teor alcoólico com o sacarímetro, obtendo-se como resultado 58ºGL. Novamente através do método de cruz de cobenze, foi realizado cálculo de proporção para dissolução do vinho(mosto fermentado) a fim de ajustar o teor alcoólico para 40ºGL, graduação alcoólica permitida por lei. Ao término do processo foi feita a devida embalagem e rotulagem para identificação da aguardente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O êxito a ser obtido no resultado final da produção de aguardente depende de toda e qualquer parte do processo, desde o cultivo da fruta a ser utilizada até a destilação do fermentado. As frutas utilizadas foram devidamente selecionadas, higienizadas e tornada livre de impurezas. Os primeiros resultados analíticos foram obtidos através das análises físico-químicas do mosto realizadas durante a fermentação. Através dos dados analíticos demonstrados no gráfico 1, pode-se observar o quão satisfatório foi o resultado da fermentação do mosto de manga- rosa. A porcentagem de acidez em ácido acético subiu o mínimo e aceitável para o produto. O pH se manteve relativamente estável no início e conforme o leve aumento de acidez, houve uma queda natural no valor do pH, nada além do esperado e aceitável. O Brix do mosto significa a porcentagem em massa de sólidos solúveis na solução, em sua maioria a sacarose. O brix inicial estava no grau ideal para início de fermentação (14º-16º), assim como o brix final (4º-6º), além de a fermentação ter sido bem sucedida e dentro da média esperada de sete dias com a diminuição do grau brix e aumento de teor alcoólico, que ao fim da fermentação se encontrava em 9,8ºGL. Além disto, a fermentação aconteceu em condições favoráveis de temperatura com variação entre 28º e 29ºC. Após o término da fermentação, a etapa realizada foi a destilação. Esta ocorreu em perfeitas condições com um tempo total de 90 minutos, descartando-se a cabeça e cauda do destilado por conta de toxinas, cerca de 20% da bebida obtida, e obtendo para a armazenagem apenas o coração do destilado. A verificação de teor alcoólico do destilado demonstrou valor acima do permitido por lei para aguardente, sendo necessária a diluição do mesmo para que ficasse com o teor ideal de 40ºGL.

Figura 1 - Alambique de cobre

Alambique de cobre com capacidade de 14L utilizado nas destilações dos vinhos (mostos fermentados).

Gráfico 1 - Análises físico-químicas do mosto.

Gráfico dos dados analíticos diários do mosto durante a fermentação, visando controle e acompanhamento das condições em que ocorre.

CONCLUSÕES: O processo de produção da aguardente foi eficaz e resultou em um padrão de qualidade positivo ao produto final. A fermentação ocorreu em condições favoráveis à formação de etanol, a aguardente obtida possuía baixo teor de cobre derivado do alambique e o aroma especialmente excêntrico da manga-rosa tornou a bebida singular e apreciável. Portanto, a casca de manga-rosa rendeu em um produto tipicamente brasileiro e com grande aceitação, apesar da tradicionalidade da aguardente de cana. Tal eficácia nos incentiva a gerar, comparar e continuar com a apreciação da aguardente de frutas brasileiras.

AGRADECIMENTOS: Ao Instituto Federal de Alagoas pela disponibilidade de laboratórios e equipamentos, tornando possível a conclusão do projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: 1. BRASIL. Decreto n. 6.871, de 04 de Junho de 2009. Dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. In: MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2. QUAL a diferença entre cachaça e aguardente. Mapa da Cachaça, São Paulo, set.2011. 3. Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Métodos físico-químicos para análise de alimentos. Coordenadores Odair Zenebon, Neus Sadocco Pascuet e Paulo Tiglea -- São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. p. 1020