Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Alimentos
TÍTULO: Efeito do processamento industrial sobre o teor de ácidos anacárdicos na amêndoa de castanha de caju
AUTORES: Cavalcante, J.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Lima, M.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Brito, E.S. (EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL)
RESUMO: O ácido anacárdico é um composto fenólico presente no caju que vem sendo
associado a atividades biológicas específicas. O objetivo é avaliar o efeito do
processamento industrial na concentração de ácido anacárdico em amêndoa de
castanha de caju (ACC). As amostras de ACC selecionadas foram: A - In Natura; B
- armazenada e classificada; C - umidificada; D - cozida; E - inteira, após a
secagem; F - inteira, após a despeliculagem; e G - selecionada. As amostras
foram submetidas à secagem, moagem e extração lipídica. A fração apolar foi
analisada em cromatógrafo líquido acoplado a espectrômetro de massas. O teor de
ácido anacárdico variou de 9 a 82 mg/g de óleo de ACC. O ácido anacárdico estava
presente em todas as amostras e sua concentração foi afetada pelo processamento
industrial.
PALAVRAS CHAVES: Alquilfenóis; Anacardium occidentale; Espectrometria de Massas
INTRODUÇÃO: O cajueiro, Anacardium occidentale L., é uma árvore de aparência exótica,
troncos tortuosos, folhas glabras, flores masculina, her¬mafroditas, fruto
reniforme e cresce nos trópicos das Américas, África e Ásia (CHITARRA &
CHITARRA, 2004).
O fruto do cajueiro, o caju, é formado por um pedúnculo comestível, ou
pseudofruto, que se forma junto à castanha, o verdadeiro fruto. A amêndoa de
castanha de caju está localizada na parte mais interna da castanha constituída
de dois cotilédones carnosos e oleosos, que compõem a parte comestível do fruto,
revestida por uma película (MAZZETO et al., 2009; FRUTICULTURA, 2010).
O ácido anacárdico é um composto fenólico presente no caju e em algumas plantas
medicinais que vem sendo associado a uma série de atividades farmacológicas
específicas, mas que em e que em concentração de 5-10% (m/v) apresenta
propriedade irritante quando em contato com a pela e mucosas (AGOSTINI-COSTA et
al., 2005).
Em 2011, o Brasil produziu 230 mil toneladas de castanha de caju, ocupando a
quinta posição em produção mundial e ficando atrás de Vietnã, Nigéria, Índia e
Costa do Marfim (FAOSTAT, 2013). O Ceará foi o Estado com a maior participação
na produção nacional, 48% (CONAB, 2013). Entre janeiro e setembro de 2012, a
amêndoa de castanha de caju foi o produto mais exportado para os Estados Unidos
pelo Ceará com uma comercialização envolvendo 58 milhões de dólares
(EXPORTAÇÕES, 2012).
Dentro deste contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito do
processamento industrial na concentração de ácido anacárdico em amêndoa de
castanha de caju.
MATERIAL E MÉTODOS: Foi utilizada a amêndoa de castanha de caju (ACC), proveniente de sete etapas do
processamento industrial de uma empresa localizada em Fortaleza/CE. A
codificação para as amostras foram:
• A - ACC de caju In natura;
• B - ACC armazenada e classificada, calibragem;
• C - ACC submetida à umidificação;
• D - ACC cozida;
• E - ACC bruta inteira, após a operação de secagem;
• F - ACC inteira, após a etapa de despeliculagem;
• G - ACC inteira selecionada.
As amostras foram submetidas à secagem, moagem e extração lipídica com hexano.
Em seguida, aproximadamente 1,0 g da fração apolar foi diluída em 10,0 mL de
metanol.
O ácido anacárdico foi analisado em cromatógrafo líquido acoplado a
espectrômetro de massas (CL-EM) Varian. Foi utilizada uma coluna analítica
Symmetry C18 (5 µm, 4.6 mm x 250 mm), com um fluxo de 600 mL/mim, um volume de
injeção de 20 µL e um tempo total de corrida de 40 minutos. A fase móvel
utilizada foi água / ácido fórmico 0,1% e acetonitrila / ácido fórmico 0,1%
(v/v). As análises foram realizadas em duplicata.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: As amostras de ACC obtidas em minifábricas analisadas por Agostini-Costa et al.
(2005), utilizando espectrofotometria, apresentaram teores de ácido anacárdico
entre 140 e 1820 mg/kg. O presente estudo apresentou teores entre 9 e 82 mg/g de
óleo de ACC (TABELA 1).
Considerando o teor lipídico de aproximadamente 46 % em ACC cozida (MELO et al.
1998) que foi semelhante ao do presente estudo (TABELA 1), o teor de ácido
anacárdico em óleo de ACC obtido por Agostini-Costa et al. (2005) variou de 0,30
a 4,04 mg/g, fato este que pode ser explicado pela variedade da matéria-prima,
técnica analítica utilizada e/ou a utilização do líquido da casca da castanha de
caju (LCC) durante o cozimento.
A matéria-prima, variedades de cajueiros, e o tempo de armazenamento afetam
diretamente na concentração de ácido anacárdico na ACC. Um provável motivo para
o aumento da concentração durante a estocagem (A→B) pode ser a migração de LCC
da casca para a amêndoa. De acordo com Agostini-Costa et al. (2005) a presença
de ácido anacárdico na amêndoa se deve à transferência do composto fenólico
presente em abundância no LCC. O que pode explicar o aumento do composto
fenólico na amostra C, favorecimento da migração por afinidade apolar, quando
comparado com as demais amostras. O baixo teor de ácido anacárdico, após a etapa
D, deve-se a sua conversão em cardanol por reação de descarboxilação (MAZZETO et
al., 2009).
Em relação às amostras E, F e G, a diferença no conteúdo de ácido anacárdico se
deve muito provavelmente a variedade da matéria-prima, aderência da película na
amêndoa e/ou quantidade de etapas na operação de despeliculagem.
Tabela 1. Rendimento de extração de óleo e teores de ácido anacárdico
Rendimento de extração de óleo e teores de ácido
anacárdico em amêndoa de castanha de caju
provenientes de sete etapas do processamento
industrial
CONCLUSÕES: O ácido anacárdico estava presente em todas as amostras e sua concentração é
afetada durante o processamento industrial.
O conhecimento sobre o teor de ácido anacárdico em amêndoa de castanha de caju é
de suma importante no controle de qualidade do produto.
AGRADECIMENTOS: FUNCAP, UFC, EMBRAPA e CIONE.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AGOSTINI-COSTA, T. S.; JALES, K. A.; OLIVEIRA, M. E. B. GARRUTI, D. S. 2005. Determinalção espectrofotométrica de ácido anacárdico em amêndoas de castanha de caju. Brasília: Embrapa. (Comunicado técnico, 122).
CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. 2006. Pós-colheita de Frutas e Hortaliças: Glossário. Lavras: UFLA.
CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/>. Acesso em: 4 jul. 2013.
EXPORTAÇÕES, Depois da crise, valor agregado é o que conta. O Povo. Fortaleza, Economia, p. 31, 18 nov. 2012.
FAOSTAT. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Disponível em: <http://faostat.fao.org/>. Acesso em: 4 jul. 2013.
FRUTICULTURA, Caju. Brasília: Fundação Banco do Brasil, Série cadernos de propostas para atuação em cadeias produtivas, v. 4, set. 2010.
MAZZETO, S. E.; LOMONACO, D.; MELE, G. 2009. Óleo da castanha de caju: oportunidades e desafios no contexto do desenvolvimento e sustentabilidade industrial. Química Nova, 32, 732-741.
MELO, M. L. P.; MAIA, G. A.; SILVA, A. P. V.; OLIVEIRA, G. S. F.; FIGUEIREDO, R. W. 1998. Caracterização Físico-química da amêndoa de castanha de caju (Anacardium occidentale L.) crua e tostada. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 18, 184-187.