Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4
ÁREA: Alimentos
TÍTULO: HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (HPAS) PODEM EXISTIR EM GRÃOS DE GUARANÁ (Paullinia cupana) ?
AUTORES: Souza, S.L.Q. (IFRJ) ; Raices, R.S.L. (IFRJ) ; Veiga, L.L.A. (IFRJ) ; Campello, H.P. (IFRJ) ; Freitas, J.M.M. (IFRJ) ; Silva, N.G.V. (IFRJ)
RESUMO: Atualmente existe uma enorme preocupação com a segurança dos alimentos, e neste
cenário destaca-se a cultura do guaraná, realizada de forma muito artesanal,
podendo ocorrer a contaminação dos grãos de guaraná por formação de
Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs). Este trabalho teve como objetivo
a
determinação de HPAs em semente de guaraná torrada e em amostras de guaraná
comercializadas no mercado brasileiro, através do uso da técnica de CLAE-DAD-FL.
As amostras de semente de guaraná apresentaram a presença de naftaleno (Naf) e
dentre as dez amostras de guaraná em pó comerciais analisadas, apenas duas (A e
C)
obtiveram a predominânica dos HPAs: naftaleno e fenantreno.
PALAVRAS CHAVES: Guaraná; HPA; CLAE-FL
INTRODUÇÃO: O guaranazeiro, planta da qual se obtém o guaraná (Paullinia cupana) é uma
planta da família Sapindaceae, originária da região Amazônica (Souza et al.,
2011). O Brasil é praticamente o único produtor de guaraná do mundo, excetuando-
se algumas pequenas áreas plantadas na Amazônia venezuelana e peruana (SUFRAMA,
2010).
Os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) são compostos orgânicos
fluorescentes, gerados a partir da queima incompleta ou pirólise de matéria
orgânica, como combustíveis fósseis, incêndios, queima de madeira, lixo, sendo
considerados importantes contaminantes ambientais (Purcaro et al., 2012; Rey-
Salgueiro et al., 2008a;b). As possíveis fontes de HPAs nos alimentos são a
poluição ambiental (WHO, 2005) e, principalmente, o processamento de alimentos
(secagem, torrefação) e cozimento (assar, grelhar e fritar) (Zhang et al.,
2010).
O processamento dos frutos do guaraná pode ser uma fonte potencial de HPAs, na
medida em que semente passa por diversas etapas, entre elas secagem, torrefação
e, em alguns casos, defumação. A pirólise direta de nutrientes do grão de
guaraná e deposição direta da fumaça produzida por meio da combustão incompleta
de diferentes agentes térmicos pode contribuir de forma potencial para geração
destes compostos carcinogênicos e mutagênicos, os quais por sua vez podem ser
introduzidos na semente de guaraná (Camargo e Toledo, 2002; Camargo et al.,
2006; Rey-Salgueiro et al., 2008a,b).
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi a determinação da concentração de
HPAs em grãos de guaraná através do uso da técnica de cromatografia líquida de
alta eficiência (HPLC) com detector de fluorescência (FL) em semente de guaraná
torrado e em amostras de guaraná comercializados em diferentes regiões do
Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram coletados aleatoriamente cerca de 2 Kg de semente de guaraná referente às
safras 2010/2011 e 2011/2012 na Fazenda Santa Helena na cidade de Maués no
estado do Amazonas. Amostras de guaraná em pó também foram adquiridas no
comércio de diferentes cidades do Brasil totalizando 10 marcas diferentes. Da
região Norte, foram analisadas as amostras E, F e G de Manaus (AM) e H de
Itacoatiara (AM); da região Nordeste, as amostras C de Olinda (PE) e D de
Ituberá (BA) e da região Sudeste as amostras, A de Juiz de Fora (MG); B de
Carangola (MG); I de Cachoeiro de Macacu (RJ) e J de Osasco (SP). Todas as
amostras foram analisadas em duplicata.
As amostras de semente de guaraná foram moídas em moinho (Marconi, Modelo MA
020).
A extração e a purificação foram adaptadas do método descrito por Camargo et
al., 2006.
Um volume de 100 mL de KOH 1 mol L-1 foi adicionado a 20 g de amostra de
guaraná, a qual ficou em repouso por 12 h e levada ao ultrassom por 1h. Após
saponificação, o material foi filtrado, transferido para um funil de separação
de 500 mL e extraído com 120 mL de ciclohexano e concentrada em rotaevaporador a
40°C. A concentração extraída foi ressuspensa em 1,5 mL de acetonitrila e
acondicionada em vails. A quantificação dos analitos no guaraná foi realizada
por CLAE-DAD/FL (Dionex, modelo Ultimate 3000, DAD 3000 e FLD 3100). Os dados
foram registrados e analisados utilizando o software Chromeleon.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Podem ser observadas as concentrações de HPAs obtidas nas amostras de guaraná na
Tabela 1.
A Figura 1 apresenta os cromatogramas das amostras de semente de guaraná e de
uma amostra comercial em pó (A). Nas amostras de semente de guaraná verificou-se
a presença de naftaleno, principalmente na amostra de casca da semente de
guaraná (Figura 1.1, safra 2011/2012), que obteve resultado mais alto (ΣHPAs =
0,78 μg kg-1), quando comparado com a amostra contendo as cascas (ΣHPAs = 0,13
μg kg-1) (Figura 1.2) e a sem casca (ΣHPAs = 0,02 μg kg-1) (Figura 1.3). Desta
forma, supõe-se que a maior concentração de HPAs fica contida na casca.
Das dez amostras de guaraná em pó comerciais analisadas, apenas as amostras A
(ΣHPAs = 1,60 μg kg-1) e C ((ΣHPAs = 0,39 μg kg-1) obtiveram a predominânica dos
HPAs: naftaleno e fenantreno (Figura 1.4). Verifica-se que o somatório de HPAs
encontrado na amostra A é 4,1 vezes superior ao obtido na amostra C.
Provavelmente, essa variação se deve as diferentes formas de processamento a que
o guaraná é submetido. Cabe ressaltar, que de acordo com Purcaro et al. (2012),
a ocorrência de HPAs em alimentos se deve principalmente pelo processamento
tecnológico, o contato do alimento com óleo mineral que não é de grau
alimentício (food-grade), por embalagens contaminadas e pela contaminação
ambiental (deposição de partículas sobre a superfície), fato este, que na região
de estudo, pode ser oriundo das queimadas que ocorrem com frequência na região
amazônica.
Tabela 1
Tabela contendo as concentrações de HPAs dos
diferentes tipos de amostra e safra de guaraná
Cromatogramas
Cromatograma da amostras da casca 2011(1), semente
de guaraná com casca 2010(2), semente de guaraná sem
casca 2011(3) e amostra(4) por CLAE-FL
CONCLUSÕES: Foram encontrados HPAs na semente de guaraná torrada (naftaleno) e nas amostras de
guaraná em pó (naftaleno e fenantreno). A maior concentração foi encontrada na
casca da semente de guaraná, o que corrobora o fato que a exposição do vegetal ao
ambiente contaminado ou mesmo com o processo de aquecimento, podem favorecer a
contaminação dos alimentos por HPAs. Sendo assim, é necessária uma investigação do
processo de produção, desde o plantio até o processamento final. Ressalta-se que
os valores de HPAs encontrados são inferiores ao valor estabelecido pela CE
835/2011 para alimentos.
AGRADECIMENTOS: Ao IFRJ pela infra-estrutura e auxílio financeiro (PROCIÊNCIA/IFRJ).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Camargo, M. C. R. & Toledo, M. C. de F. (2002). Chá-mate e café como fontes de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) na dieta da população de Campinas. Revista Ciência Tecnologia de Alimentos, 22, 1, 49-53.
Camargo, M. C. R., Tfouni, S. A. V., Vitorino, S. H. P., Menegário, T. F. & Toledo, M. C. de F. (2006). Determinação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAS) em guaraná em pó (Paullinia cupana). Revista Ciência Tecnologia de Alimentos, 26, 1, 230-234.
Purcaro, G., Moret, S. & Conte, L.S. in press. Overview on polycyclic aromatic hydrocarbons: Occurrence, legislation and innovative determination in foods. Talanta. (article in press).
Rey-Salgueiro, L., García-Falcón, M. S., Martínez-Carballo, E. & Simal-Gándara, J. (2008a). Effects of toasting procedures on the levels of polycyclic aromatic hydrocarbons in toasted bread. Food Chemistry, 108, 607–615.
Rey-Salgueiro, L., García-Falcón, M. S., Martínez-Carballo, E. & Simal-Gándara, J. (2008b). Effects of a chemical company fire on the occurrence of polycyclic aromatic hydrocarbons in plant foods. Food Chemistry, 108, 347–353.
Souza, S. A., Alves, S. F., Paula, J. A. M. de, Fiuza, T. S., Paula, J. R. & Bara, M. T. F. (2010). Determinação de taninos e metilxantinas no guaraná em pó (Paullinia cupuna Kunth, Sapindacea) por cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Brasileira de Farmacognosia, 20, 6, 866-870.
SUFRAMA (2010). Superintendência da Zona Franca de Manaus. http://www.suframa.gov.br/.
WHO (2005). World Health Organization. Summary and conclusions of the sixty-fourth meeting of the joint FAO/WHO expert committee on food additives. Rome, 18p. http://hero.epa.gov/index.cfm?action=reference.details&reference_id=224279
Zhang, H. Xue, M. & Dai, Z. (2010). Determination of polycyclic aromatic hydrocarbon in aquatic products by HPLC-fluorescence. Journal of Food Composition and Analysis, 23, 5, 469-474.