ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Avaliação da influência de solvente e processo extrativo sobre a atividade antifúngica de extratos brutos obtidos de espécies vegetais presentes no Nordeste brasileiro
AUTORES: Ferreira, M.R.A. (UFPE) ; Santiago, R.R. (UFRN) ; Ribeiro, J.S. (UEM) ; Mello, J.C.P. (UEM) ; Svidzinsk, T.I.E. (UEM) ; Soares, L.A.L. (UFPE)
RESUMO: Para avaliar a influência do solvente e métodos extrativos sobre a atividade
antifúngica de 3 plantas tradicionalmente usadas como antimicrobianas, foram
produzidos 6 extratos brutos utilizando dois solventes e dois métodos extrativos
e, estes foram submetidos à teste in vitro contra cepas Candida spp. Os extratos
de E. uniflora, L. ferrea e P. guajava apresentaram atividade contra as
leveduras avaliadas, com valores CIM entre 15,62 e 250 µg/mL. Por fim, os
resultados permitiram afirmar que melhor atividade foi observada para os
extratos obtidos utilizando turbólise e a mistura acetona:água, e entre as
espécies vegetais, E. uniflora apresentou comportamento promissor no que diz
respeito a ação antifúngica.
PALAVRAS CHAVES: Atividade antifúngica; extratos vegetais; Candida spp
INTRODUÇÃO: Durante as últimas décadas, a incidência de infecções causadas por leveduras
sofreu um aumento, especialmente em pacientes com o sistema imune comprometido.
O interesse nas espécies de Candida não albicans, como C. krusei e C. glabrata,
tem se tornado mais evidente, pois elas se favorecem pelo aumento do número de
pacientes imunocomprometidos e uso de medicamentos antifúngicos de maneira
indiscriminada (CHANG et al., 2003; KUHN et al., 2003; WISPLINGHOFF et al.,
2004). Isso tem criado uma necessidade por novos agentes antifúngicos, pois
vários dos medicamentos disponíveis apresentam limitações, tais como espectro de
ação e toxicidade (ARAÚJO et al., 2005). Neste contexto, os produtos de origem
vegetal atuam como uma importante e promissora fonte para a descoberta de novos
agentes antifúngicos (CALIXTO, 2005). Portanto, o estudo destes produtos recebe
atenção especial, pois correspondem a uma prática amplamente difundida na
medicina tradicional e apresenta relatos de eficácia terapêutica (ISHIDA et al.,
2006). Porém, antes de adotar os produtos de origem vegetal, os quais muitas
vezes são utilizados de maneira empírica, é necessária a comprovação
experimental das propriedades biológicas, que pode estar relacionada à presença
de determinados compostos ou grupo de compostos, e o estabelecimento de
especificações que permitam o controle de qualidade, de maneira que a eficácia e
a segurança sejam mantidas. Nesse contexto, a fim de avaliar a influência dos
solventes e processos extrativos sobre a atividade antifúngica, a Concentração
Inibitória Mínima (CIM) de extratos brutos (EB) obtidos de três espécies
vegetais presentes no Nordeste brasileiro foi determinada frente a quatro cepas
ATCC de Candida spp.
MATERIAL E MÉTODOS: Os materiais vegetais, E. uniflora (folhas de pitangueira), L. ferrea (cascas de
pau ferro) e P. guajava (folhas de goiabeira), foram coletados e as exsicatas
depositadas sob os números 11763 (UFRN), 86678 (IPA-PE) e 8214 (UFRN),
respectivamente. As soluções extrativas foram preparadas a 10% (m/v), utilizando
como solventes: água e mistura acetona:água (7:3, v/v) e dois métodos
extrativos: “refluxo” e “turbólise”. Em seguida, foram filtradas sob vácuo e
aqueles extratos preparados com a mistura acetona:água foram concentrados em
rotaevaporador para completa eliminação do solvente orgânico. Por fim, todos os
extratos foram congelados com nitrogênio líquido e submetidos à liofilização
obtendo assim os Extratos Brutos por Refluxo (EBR) e os Extratos Brutos
Turbolisados (EBT). Para avaliar as influências que poderiam ser exercidas pelo
solvente e processo extrativo sobre a atividade antifúngica dos extratos, estes
foram testados contra cepas de Candida spp. No ensaio da atividade antifúngica
in vitro, foram utilizadas cepas padrão de Candida spp. da American Type Culture
Collection (ATCC): C. albicans (90028), C. dubliniensis (7289), C. glabrata
(2001) e C. krusei (6258). A determinação da CIM foi baseada no protocolo M27-A2
do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2003) e foram realizadas
adaptações para produtos naturais. As leituras foram realizadas após o período
de incubação (48 h), observando-se o crescimento nas respectivas diluições
através de comparação visual por reflexão em espelho. A CIM foi considerada a
menor concentração de EB capaz de inibir 100% do crescimento de cada cepa,
tomando como referência o respectivo controle positivo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com o objetivo de extrair maior quantidade de polifenóis, visto que alguns
compostos desta classe apresentam relação com atividade antifúngica (ISHIDA et
al., 2006), estabeleceu-se o rendimento da liofilização e observou-se que maior
rendimento em sólidos foi obtido quando foi utilizada a mistura acetona:água,
independente da espécie vegetal. Além disso, a mistura acetona:água é mais
apropriada para maximizar a extração de polifenóis e isto ocorre pois a presença
da água junto solventes orgânicos aumenta o rendimento da extração de compostos
fenólicos e acetona bloqueia a interação tanino-proteína, fazendo a extração se
tornar maior (MELLO et al., 1996; BUENO, 2011). Assim, os resultados mostraram
que os EB de E. uniflora apresentaram mesmo perfil para a cepa de C.
dubliniensis independente do processo extrativo; porém em relação ao solvente, o
EB obtido com acetona:água apresentou menores valores de CIM para C.
dubliniensis e C. krusei (15,62 μg/mL). Os EBR apresentaram CIM um pouco maior
contra C. albicans e C. glabrata, independente do solvente. Em relação a L.
ferrea, a CIM de ambos os tipos de extratos e solvente não apresentou variação
para a cepa de C. glabrata (31,25 μg/mL), sendo o EBR mais ativo frente à cepa
de C. krusei CIM = 15,62 μg/mL, e os demais extratos, apresentaram valor de CIM
superior a 62,5 μg/mL. Os EBT das folhas de P. guajava apresentaram incremento
nas CIMs, com exceção do EB obtido com a mistura acetona:água frente à C.
albicans e C. glabrata; em relação a C. dubliniensis e C. krusei, o tanto o EBT
quanto o EBR (acetona:água) apresentaram CIM = 31,25 μg/mL. Segundo Aligiannis e
colaboradores (2001), a atividade inibitória de produtos pode ser forte com CIM
de até 500, moderada até 1500 e fraca maior que 1500 µg/mL.
CONCLUSÕES: De modo geral, os resultados mostraram que melhor atividade foi observada para os
extratos obtidos utilizando a metodologia de turbólise e empregando a mistura
acetona:água (7:3, v/v). Além disso, foi possível observar importante atividade
antifúngica dos extratos em relação às espécies de Candida não albicans,
principalmente a espécie vegetal E. uniflora. Nesse sentido, são resultados
promissores, uma vez que as espécies são consideradas resistentes em relação à
maioria dos antifúngicos comercialmente disponíveis.
AGRADECIMENTOS: Aos Laboratórios de Farmacognosia e Micologia Médica da Universidade Estadual de
Maringá pela parceria neste estudo. A CAPES e CNPq pelo financiamento.
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