ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Caracterização química do óleo das sementes de atemoia ‘Gefner’
AUTORES: Soares da Cruz, L. (DQI/UFLA) ; Aparecida Alves Bastos, V. (DQI/UFLA) ; Peron Castro, R. (DEG/UFLA) ; Tarsinari, T. (DEG/UFLA) ; Duarte Corrêa, A. (DQI/UFLA) ; Castro Neto, P. (DEG/UFLA) ; de Matos Alves Pinto, L. (DQI/UFLA)
RESUMO: A atemoia é um fruto híbrido derivado do cruzamento entre a fruta-do-conde, (Annona squamosa L.), com a cherimoia (Annona cherimola Mill.). O objetivo deste trabalho foi caracterizar quimicamente o óleo das sementes de atemoia ‘Gefner’, comparando dois tipos de extrações do óleo das sementes: por prensagem e por solvente; determinar o índice de acidez (IA), saponificação (IS) e éster (IE) no óleo das sementes de atemoia ‘Gefner’. As análises apresentaram valores considerados bons, mostrando que as duas extrações são excelentes e não interferem nos índices analisados. A semente de atemoia mostrou-se uma fonte de óleo de boa qualidade com relação à outras sementes que são fonte de óleos para diversas aplicações como: biodiesel, indústria de cosméticos ou alimentícia.
PALAVRAS CHAVES: Óleo de atemoia; Extração física e química; Indice acidez, èster
INTRODUÇÃO: A atemoia é um fruto híbrido derivado do cruzamento entre a fruta-do-conde, mais conhecida como ata (Annona squamosa L.), com a cherimoia (Annona cherimola Mill.). Cerca de mil hectares de atemoia são plantados no Brasil (Caxito, 2009).
Esse híbrido pode reunir características desejáveis e relevantes vindas das duas espécies que participaram do seu cruzamento, sendo importante determinar os constituintes químicos que viabilizariam a utilização do óleo das sementes de atemoia.
O óleo de sementes tem potencial para ser aproveitado como cosméticos e produtos farmacêuticos, como óleo comestível, em indústrias de verniz, etc. Sendo assim, é importante se desenvolver uma extração tecnológica efetiva e uma caracterização da composição físico-química dos óleos de sementes (Roy et al., 1996).
Os lipídios podem ser definidos como biomoléculas insolúveis em água de estrutura química diversificada e que podem ser extraídos por solventes não-polares (Campbell, 2000). O IA é uma importante avaliação do estado de conservação do óleo. Um processo de decomposição, seja por hidrólise, oxidação ou fermentação, altera quase sempre a concentração dos íons hidrogênio (Mendonça et al, 2008). O IS é importante para demonstrar a presença de óleos ou gorduras com alta proporção de ácidos graxos de baixo peso molecular (Lutz, 1985). O IE representa a diferença entre o índice de saponificação e o índice de acidez e mostra a quantidade de triglicerídeos presentes no óleo, representando a qualidade do óleo (Cocks; Van Rede, 1966).
Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar quimicamente o óleo das sementes de atemoia ‘Gefner’, comparando dois tipos de extrações do óleo das sementes: por prensagem e por solvente. Também foram determinados os IA, IS e IE no óleo destas sementes.
MATERIAL E MÉTODOS: O trabalho foi conduzido no Departamento de Química (DQI) e no Departamento de Engenharia (DEG) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). O pomar, onde a atemoia foi cultivada, está situado no município de Jaíba, MG. Os frutos adquiridos foram colhidos no estágio de vez, acondicionados em caixas de papelão e enviados, via terrestre, para Lavras, MG. As sementes de cada uma das três repetições foram separados dos frutos. Essas sementes foram embaladas à vácuo e armazenadas à temperatura próxima de -10ºC até a realização das extrações e posteriormente às análises. As sementes foram secas em estufa de circulação forçada de ar, utilizando temperatura em torno de 40ºC até que atingissem aproximadamente 10% de umidade (AOCS, 2005).
As extrações foram feitas por prensagem e por solvente. A prensagem do óleo foi realizada em uma prensa contínua tipo Expeller. Para a extração do óleo foi utilizado 1Kg de sementes secas para cada repetição. A célula extratora foi limpa antes e depois de cada extração. O óleo foi extraído das sementes moídas em um extrator Soxhlet utilizando como solvente o hexano (68ºC). Esses óleos foram coletados em recipientes de vidro âmbar e armazenados à temperatura de aproximadamente -20ºC para evitar alterações oxidativas incontroláveis. As determinações analíticas do óleo foram realizadas em triplicata. O IA foi determinado pela quantidade de hidróxido de sódio utilizado para neutralizar os ácidos graxos livres em 1 g de óleo, sendo o resultado expresso em ácido. O IS foi determinado pela quantidade de hidróxido de potássio necessário para neutralizar os ácidos graxos, resultantes da hidrólise de um grama da amostra (Lutz, 1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O teor de óleo na extração química é de 25,92 g 100g-1, valor maior que o obtido pela prensagem que foi de 20, 04 g 100g-1. Freire (2001) determinou o teor de óleo bruto em sementes de mamona, com extração química encontrando 48,6 g 100 g-1 MS. O teor de óleo das sementes de atemoia foi inferior ao da mamona, entretanto, as duas extrações possuem um teor significativo, pois ambos os valores representam uma grande quantidade de óleo encontrado nas sementes quando comparados a outras sementes que são fontes de óleos utilizados em diversas aplicações.
O IA na extração química foi pouco maior que na extração física, sendo uma diferença pouco significativa entre as extrações realizadas. Comparando-se com os resultados de Silva (2005) que encontrou o IA de 1,87 no óleo de andiroba, observa-se que o valor encontrado na andiroba é maior do que no óleo de sementes de atemoia que foi de 1,20 na prensa e 1,41 na extração química. Essa acidez é considerada elevada, pois segundo Cnakci & Van Gerpen (2001) uma acidez elevada pode neutralizar um catalisador básico numa transesterificação sendo necessária uma maior quantidade de catalisador para a reação se processar com eficiência.
A diferença entre o IS das duas extrações também foi pouco significativo, sendo 151,55 na prensa e 148,13 na extração química. Esses valores foram inferiores aos encontrados no trabalho de Silva (2005) que obteve o valor de 193,84 para o óleo de andiroba. Os valores encontrados foram altos mostrando que os óleos possuem um alto teor de material saponificável.
O IE mostrou uma boa qualidade do óleo com valor maior que 99% de éster nas duas extrações tornando-os apropriados para a transesterificação.
Extração (g 100g-1), Acidez, Saponificação e Éster do Óleo de atemoia.
Rendimento de extração física e química(g 100g-1), Índice de Acidez, Índice de Saponificação e Índice de Éster do Óleo de sementes de atemoia ‘Gefner’
CONCLUSÕES: Nas duas extrações foram obtidos resultados muito semelhantes e as diferentes técnicas não interferiram de forma significativa nos índices analisados. A semente de atemoia mostrou ser uma grande fonte de óleo de boa qualidade com relação às outras sementes como mamona, soja, babaçu, oliva que são fontes de óleos. Subprodutos como as sementes de vegetais costumam ser descartados pela indústria e consumidores, mas poderiam ser aproveitados e ser aplicados com segurança na produção do biodiesel, indústria de cosméticos ou alimentícios.
AGRADECIMENTOS: Agradeço à Capes e Fapemig.
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