ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: ATIVIDADE MOLUSCICIDA DO EXTRATO DE FLORES DE Moringa oleifera SOBRE EMBRIÕES E ADULTOS DE Biomphalaria glabrata
AUTORES: Rocha-filho, C.A.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Pontual, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Albuquerque, L.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Silva, L.R.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Coelho, L.C.B.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Melo, A.M.M.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Napoleão, T.H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) ; Paiva, P.M.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO)
RESUMO: Este trabalho investigou o extrato de flores de M. oleifera (EF) quanto ao efeito sobre adultos e embriões de Biomphalaria glabrata. Caramujos adultos foram incubados com EF (0,1, 0,2 e 0.4%) por 24 h a 25 °C e a sobrevivência foi avaliada durante 8 dias. A concentração necessária para matar 50% dos adultos (CL50) foi determinada. Desovas de B. glabrata foram expostas a EF (0,001-0,01%) por 24 h e o estágio de desenvolvimento e a taxa de sobrevivência dos embriões foram avaliados durante 7 dias. EF matou adultos de B. glabrata (CL50 de 0,237%). O extrato não afetou a sobrevivência dos embriões, atrasou o desenvolvimento embrionário e reduziu a taxa de eclosão. Em conclusão, EF foi eficiente em matar caramujos adultos e retardar o desenvolvimento de embriões de B. glabrata.
PALAVRAS CHAVES: Moringa oleifera; esquistossomose; Biomphalaria glabrata
INTRODUÇÃO: Flores de Moringa oleifera contem compostos bioativos como antioxidantes, lectinas e alcalóides com atividade antimicrobiana (LIZZY et al., 1968; SÁNCHEZ-MACHADO et al., 2006; ONG, 2008; SANTOS et al., 2009). O extrato aquoso de flores de M. oleifera contém inibidor de tripsina (MoFTI), triterpeno (β-amirina), esterol (β-sitosterol), flavonóides (kaempferol e quercetina) e atividade larvicida contra o segundo, terceiro e quarto instares larvais de Aedes aegypti (PONTUAL et al., 2012). Os autores demonstraram que o extrato inibiu proteases do intestino das larvas. A esquistossomose, uma das principais doenças parasitárias da América Latina, é transmitida por caramujos do gênero Biomphalaria, principalmente a espécie B. glabrata. O controle de populações do caramujo é indispensável para reduzir a disseminação da doença (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2012). Muitos dos agentes atualmente utilizados para o controle de populações de B. glabrata apresentam forte toxicidade contra organismos não-alvo e podem persistir no ambiente (NAKANO et al., 2003; AVELAR et al., 2004). Nesse sentido, preparações naturais como extratos e compostos isolados de plantas tem sido avaliados como alternativas para controle deste vetor. Este trabalho teve como objetivo investigar o extrato de flores (EF) de M. oleifera quanto à atividade moluscicida sobre adultos e embriões de B. glabrata.
MATERIAL E MÉTODOS: Flores de M. oleifera (50 g) foram homogeneizadas com água destilada (100 mL) em multiprocessador. Após filtração e centrifugação (9.000g, 15 min, 4 ºC), o sobrenadante coletado correspondeu ao extrato (EF). O efeito de EF sobre adultos de B. glabrata foi avaliado de acordo com a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (1965). Caramujos adultos não infectados foram imersos em beckers de vidro contendo 250 mL de EF (0,1, 0,2 e 0,4%), carbonato de cobre II (50 μg/mL; controle positivo) ou água de torneira filtrada (controle negativo) por 24 h. Após o período de exposição, os caramujos foram lavados, colocados em água filtrada e mantidos a 25 ± 2 °C na presença de alimento (folhas de alface). A sobrevivência dos caramujos foi avaliada após 8 dias, sendo considerados mortos aqueles imóveis ou com mudanças de coloração. A concentração necessária para matar 50% dos caramujos (CL50) foi determinada através de análise de probitos utilizando o software IBM SPSS Statistica 16 (SPSS Corporation, EUA). O efeito de EF sobre embriões de B. glabrata foi avaliado de acordo com OLIVEIRA-FILHO E PAUMGARTTEN (2000). Para obtenção dos ovos de B. glabrata, tiras de plástico transparente foram colocadas em aquários contendo moluscos adultos para servir como substrato para a oviposição. Em seguida, os ovos de B. glabrata recém ovipositados (estágio de blástula) foram expostos a EF (0,001-0,01%) por 24 h e examinados após 7 dias utilizando estereomicroscópio. O estágio de desenvolvimento (gástrula, trocófora jovem, trocófora, véliger jovem, véliger e hipo-stage) e a taxa de sobrevivência dos embriões foram avaliados. Os ensaios foram realizados em triplicata, cada um contendo 100 ovos. Água destilada foi utilizada como controle negativo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: EF foi tóxico contra adultos de B. glabrata de forma dose-dependente (Figura 1). A incubação dos caramujos com EF na concentração de 0,4% resultou em mortalidade de 93%. O valor de CL50 determinado após oito dias foi de 0,237% [0,188-0,298%]. Estes resultados indicam que EF foi agente moluscicida contra B. glabrata. Diferentemente de EF, o extrato de folhas de Euphorbia conspicua não foi capaz de causar mortalidade de caramujos adultos (SANTOS et al., 2006). Nenhuma mortalidade foi observada no grupo tratado com água filtrada, indicando que as condições utilizadas no trabalho foram adequadas para a realização do bioensaio. O tratamento com o controle positivo carbonato de cobre II resultou em 100% de mortalidade após 24 h de incubação. No ensaio de embriotoxicidade foi observado que a sobrevivência dos embriões não foi significativamente afetada por EF nas concentrações utilizadas. A taxa de eclosão foi reduzida de 86% no controle para 64,7% na concentração de 0,01%. EF causou retardo do desenvolvimento embrionário de B. glabrata, desde que 50% dos embriões não eclodidos do grupo tratado com EF a 0,01% estavam ainda na fase de veliger, enquanto no controle todos os embriões não eclodidos atingiram a fase de hipo-stage.
Figura 1
Mortalidade de adultos de B. glabrata tratados durante 8 dias com o extrato de flores de M. oleifera.
CONCLUSÕES: Os resultados revelam que o extrato de flores de M. oleifera promove efeitos deletérios contra B. glabrata causando mortalidade dos caramujos adultos e retardando o desenvolvimento de embriões. Avaliação do efeito de EF sobre espécies não-alvo está em andamento.
AGRADECIMENTOS: A CAPES, CNPq e FACEPE pelo suporte técnico-financeiro e à UFPE pelo suporte científico.
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