ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Comparação entre dois ensaios enzimáticos na detecção de inibição da tripsina de lagarta-do-cartucho do milho em cromatografia preparativa
AUTORES: Ramos, V.O. (UFLA) ; Bastos, V.A.A. (UFLA) ; Braga, M.A. (UFLA) ; Simão, A.A. (UFLA) ; Alves, A.P.C. (UFLA) ; Guedes, M.N.S. (UFLA) ; Santos, C.D. (UFLA)
RESUMO: Buscando purificar o inibidor da tripsina de Spodoptera frugiperda
presente na farinha de folhas de mamona (FFM) foram realizadas duas
cromatografias utilizando sílica Merck como fase estacionária. A coluna foi
equilibrada com etanol 45% antes da aplicação do extrato, cujos volumes
aplicados foram 0,1 e 0,5mL, eluídos com água deionizada. A primeira corrida
teve o inibidor detectado pelos sistemas de ensaios 1 e 2 (cinético e não
cinético, respectivamente). A segunda corrida apresentou um pico característico
de inibição seguido de cauda, provavelmente devido à sobrecarga da coluna ou
ainda devido as característica polares deste inibidor. O ensaio 2 se mostrou
confiável para a detecção e foi possível inferir que sílica não é a melhor fase
estacionária para esta de purificação.
PALAVRAS CHAVES: Inibição enzimática; Ricinus communis; Purificação
INTRODUÇÃO: Nos últimos anos, os produtores de milho têm enfrentado dificuldades em combater
uma das pragas que mais lhes causam prejuízos, Spodoptera frugiperda
(Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), conhecida como lagarta-do-cartucho. No
Brasil as perdas podem chegar a 47,27% da produção de matéria seca e 54,49% no
rendimento de grãos. O manejo adequado desta praga na lavoura é crucial para
redução de danos. O controle da S. frugiperda tem sido frequentemente
realizado por meio da aplicação de inseticidas, que geralmente causam
desequilíbrios biológicos, intoxicação dos aplicadores e contaminação ambiental
(FIGUEIREDO et al., 2006; MENDEZ et al., 2002).
O uso de extratos vegetais visando o controle da lagarta-do-cartucho é
considerado promissor, visto que as plantas se defendem do ataque de insetos e
de outros organismos através de inúmeros mecanismos, dentre os quais se destacam
a síntese e o acúmulo de proteínas de defesa tais como os inibidores de
proteinases (IP). Desde a descoberta dos IP como agentes de defesa vegetal,
inúmeras tentativas têm sido feitas para a sua utilização no melhoramento
vegetal. (MOSOLOV e VALUEVA, 2008).
O uso de IP como meio de controle de S. frugiperda tem sido foco de
diversos estudos, como os desenvolvidos por Brioschi et al. (2007) e Paulillo et
al. (2000). Os inibidores de tripsina descritos na literatura normalmente são de
origem protéica (BENCHABANE et al., 2010), diferentemente do inibidor encontrado
em folhas de mamona, uma molécula orgânica de certa polaridade com estrutura
molecular ainda desconhecida (ROSSI et al., 2010).
Diante do exposto, objetivou-se neste trabalho utilizar cromatografia flash com
detecção por dois ensaios enzimáticos como etapa preparatória no isolamento do
inibidor de tripsina presente em folhas de mamona.
MATERIAL E MÉTODOS: Folhas de mamoninha do caule vermelho (Ricinus communis L.), de
ocorrência espontânea no campus da Universidade Federal de Lavras, foram
coletadas, lavadas com água destilada e secas em estufa com ventilação forçada,
a 45ºC. Em seguida foram trituradas em moinho Tecnal TE-631, e a farinha de
folhas de mamona (FFM) obtida armazenada em frascos escuros hermeticamente
fechados à temperatura ambiente até as análises.
Foram realizados dois ensaios de inibição de tripsina: 1- ensaio cinético e 2-
ensaio não cinético, conforme metodologia proposta por Kakade et al. (1974). A
inibição foi expressa em percentagem em relação ao controle e os gráficos
plotados em % de inibição versus fração obtida.
Os parâmetros utilizados na extração do inibidor de FFM foram proporção
1:33,1(p:v) de etanol 45% a 40ºC por 60 minutos, após centrifugação o
precipitado sofreu re-extração nas mesmas condições.
Uma coluna de vidro com 50 cm de comprimento por 3 cm de diâmetro foi preenchida
com sílica gel 60 Merck 0,04-0,063 mm. Uma massa de sílica de 48,77g foi
calculada para preencher apenas 15 cm de coluna, aos quais foram adicionados
clorofórmio suficiente para que a mistura se tornasse fluida. Verteu-se a
mistura dentro da coluna tomando-se o cuidado de não haver a formação de bolhas
na fase estacionária (Collins, 2006). A coluna foi equilibrada com etanol 45%
antes da aplicação do extrato.
Foram aplicados no topo da coluna 0,1 e 0,5 mL do extrato, sendo este eluídos
com água deionizada com auxilio de uma bomba a 0,5 kgf/cm3 de
pressão. As frações de 20 mL foram concentradas em rotoevaporador até 5 mL e
então utilizadas nos ensaios de inibição.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os perfis de eluição na Figura 1 apresentaram pouca divergência entre si. O
ensaio 1 de inibição de tripsina é mais confiável por se tratar de um ensaio
cinético com
4 tempos de reação, o que permite o cálculo da porcentagem a partir da diferença
entre as inclinações da reta controle e as retas das frações obtidas, contudo,
este método é demorado e consome grande quantidade de regentes e amostra. O
ensaio 2 de inibição de tripsina detectou o inibidor presente nas frações e o
perfil de eluição 2 gerado seguiu o mesmo comportamento do perfil de eluição 1,
indicando
que o ensaio 2 pode ser utilizado na detecção de inibição em frações
cromatográficas, gerando assim menor ônus ambiental.
A segunda cromatografia foi realizada com 5 vezes mais amostra, buscando obter-
se grande quantidade do inibidor para análise em HPLC e posterior identificação
desse inibidor. Observou-se (Figura 2) formação de cauda no cromatograma,
provavelmente devido as característica polares deste inibidor (CARVALHO, 2009;
ROSSI, 2010; RAMOS, 2012), que pode causar maior permanência na fase
estacionária e perda da resolução. Outro motivo para este comportamento pode ser
a sobrecarga da coluna com a quantidade de amostra aplicada, o que também pode
causar perda de resolução. Contudo, este tipo de cromatografia preparativa se
mostrou útil nas etapas iniciais de purificação do inibidor de tripsina de
mamona.
Figura 1
Comparação entre a detecção da inibição por dois
ensaios
Figura 2
Cromatografia preparativa do extrato etanólico de
folhas de mamona
CONCLUSÕES: Os ensaios enzimáticos se mostraram confiáveis na detecção de inibição em frações
obtidas em cromatografia flash preparativa, sendo indicado o uso da metodologia
proposta por Kakade et al.
(1974) por sua facilidade e menor custo. Este tipo de cromatografia preparativa
pode ser utilizado nas etapas
iniciais de identificação do inibidor de tripsina presente na FFM, desde que sejam
tomados cuidados com a quantidade de amostra aplicada.
AGRADECIMENTOS: À FAPEMIG, CNPq e CAPES pelo apoio financeiro e a UFLA por todo suporte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BENCHABANE, M. et al. Plant cystatins. Biochimie, 92, 11, 1657-1666, 2010
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