ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Constituintes químicos do extrato hexânico das folhas E.Grandiflora (RUTACEAE)
AUTORES: Barroso Souza, G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Aragão da Silva Camacho, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Silva Andrade, F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Libório Barreiros, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo realizar o estudo fitoquímico do extrato
hexânico das folhas de E. grandiflora coletada no Estado de Sergipe. As
substâncias foram isoladas através de métodos cromatográficos como CC e CCDP. As
substâncias foram identificadas através da análise dos dados espectrométricos de
RMN de 1H e 13C (DEPT 90 e 135) HMQC, HMBC e por comparação com os dados
descritos na literatura. Foram identificadas cinco substâncias alfa e beta-
amirina, alfa e beta-amirina esterificada com ácido graxo e o endecaprenol.
Relatamos aqui a primeira ocorrência do poliprenol endecaprenol na família
Rutaceae, assim como é o segundo relato do isolamento deste, a partir de fonte
vegetal.
PALAVRAS CHAVES: Esenbeckia grandiflora; Terpenos; RMN
INTRODUÇÃO: Com a incidência cada vez maior de doenças como o câncer, e de
doenças tropicais como a malária, a febre amarela, o dengue, entre outras, e a
resistência que estas doenças têm mostrado aos medicamentos existentes, tem
aumentado consideravelmente a busca por novos compostos para o combate a essas
doenças. As plantas são uma importante fonte de novas substâncias bioativas.
Esenbeckia grandiflora foi a planta escolhida para este estudo. O gênero
esenbeckia pertence a família Rutaceae a qual compreende cerca de 150 gêneros e
1600 espécies, amplamente distribuídas em regiões tropicais, subtropicais e
temperadas do mundo sendo mais abundante na América tropical, Sul da África e
Austrália (MELO e ZICKEL, 2004). No Brasil, a família Rutaceae está representada
por 29 gêneros e 129 espécies; O gênero Esenbeckia possui cerca de 30 espécies
distribuídas nas Américas, sendo que os principais centros de diversidade estão
localizados no sudeste do Brasil e no México (MELO e ZICKEL, 2004; BARROS-FILHO
et al., 2007). E. grandiflora conhecida popularmente como limãozinho, gramicho,
guarantã, cocão, cipó e garajau, é uma planta arbórea e ocorre especialmente em
áreas de tabuleiros arenosos, restingas, matas costeiras e lugares úmidos. É
utilizada na medicina popular como antitérmico. A composição química de E.
grandiflora foi pouco estudada. Existe apenas um estudo realizado por (JANUÁRIO
et al., 2009) que estudaram está espécie coletado no Estado do Rio Grande do Sul
e relatam a ocorrência de triterpenos, esteróides, cumarinas e alcalóides
indolopiridoquinazolínicos nas folhas e raízes. Desta forma, este trabalho tem
como objetivo realizar o estudo fitoquímico do extrato hexânico das folhas de E.
grandiflora coletada no Estado de Sergipe.
MATERIAL E MÉTODOS: Esenbeckia grandiflora foi coletada no município de Barra
dos Coqueiros-Se. Suas folhas foram separadas do caule, secas em estufa sob
ventilação a 40 °C e, em seguida moídas. Posteriormente, esse material foi
macerado com metanol obtendo-se o extrato bruto que foi particionado com
hexano:MeOH/H2O (9:1), CHCl3:MeOH/H2O(6:4) e AcOEt:H2O. a Fase Hexânica (5,35
g) foi submetida a CC filtrante de sílica gel 60 utilizando como fase móvel
mistura de hexano/AcOEt em ordem crescente de polaridade. As frações foram
agrupadas e submetidas a novos fracionamentos cromatográficos. Da fração 2
eluída com hexano/AcOEt (8:2) foram isoladas as substâncias em mistura alfa e
beta-amirina 1 e 2 (235,0 mg) após purificação em CC e o endecaprenol 3 (183,0
mg),após CCDP usando como fase móvel hexano/AcOEt (9:1). Da fração 3 eluída com
hexano/AcOEt (7:3) foram isoladas as substâncias em mistura alfa e beta-amirina
esterificada com ácido graxo 4 e 5 (28,0 mg), após CCDP e fase móvel mistura de
hexano/AcOEt (9:1).
As substâncias tiveram suas estruturas elucidadas através da análise dos
dados espectrométricos de RMN de 1H e 13C (DEPT 90 e 135) HMQC, HMBC e por
comparação com os dados descritos na literatura (MAHATO e KUNDU, 1994).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O espectro de RMN de 13C das substâncias 1 e 2 mostrou 60 sinais de carbono
indicando tratar-se da mistura de duas substâncias. Após análise detalhada
destes espectros foi possível verificar que tratava-se da mistura de dois
triterpenos do esqueleto oleanano e outro do esqueleto ursano. Foram observados
os sinais em 121,70 e em 145,10 ppm correspondentes a ligação dupla entre os
carbonos C-12 e C-13 da beta-amirina, além daqueles em 124,40 e 139,50
referentes a ligação dupla dos carbonos C-12 e C-13 da alfa-amirina. O espectro
de RMN de 1H mostrou dois dd em 3,15 e 3,17 referentes ao H-3 e dois t em 5,10 e
5,12 referentes ao H-12 da alfa-amirina e beta-
amirina,respectivamente.Comparação destes valores com os da literatura (MAHATO e
KUNDU, 1994)confirmaou que as substâncias eram a alfa e beta-amirina. O espectro
de RMN de 13C das substâncias 4 e 5 também apresentou sinais característicos de
tritepenos do esqueleto oleanano e ursano,trata-se portanto da mistura de alfa e
beta-amirina.Comparação dos valores de deslocamentos químicos do carbono
oximetínico C-3 em 80,6 e 80,7 com os da alfa e beta-amirina em 79,10 indicou
que essas substâncias estavam esterificadas com ácidos graxos. Comparação destes
valores com os da literatura (BARREIROS, 2002)confirmou que as substâncias 4 e 5
encontravam-se esterificadas com ácidos graxos. Os ácidos graxos serão
identificados pela análise do CG/EM. O espectro de RMN de 13C da substância 3
mostrou 55 sinais de carbono. Sendo 11 carbonos metínicos, 11 carbonos não-
hidrogenados, 12 carbonos metílicos e 21 metilênicos. Através dos espectros de
HMQC e HMBC foi possível fazer todas as atribuições dos valores de deslocamentos
químicos dos hidrogênios com os carbonos. Assim foi possível identificar a
substância 3 como sendo o endecaprenol.
figura 1
Substâncias isoladas do extrato hexânico de E.
Grandiflora
CONCLUSÕES: Os triterpenos alfa e beta-amirina são comuns no gênero Esenbeckia, porém é o
primeiro relato destes triterpenos esterificados com ácido graxo. É também a
primeira ocorrência do poliprenol endecaprenol na família Rutaceae, bem como é o
segundo relato do isolamento deste de origem vegetal.
AGRADECIMENTOS: A UFS pelo apoio financeiro e ao LNLS (laboratório Nacional Luz Sincroton) pela
realização dos espectros
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARRREIROS, M. L.; DAVIS, J. M.; PEREIRA, P. A. P.; GUEDES, M. L. S.; DAVID, J. P. 2002. Fatty Acido f Triterpenes from Erythroxylum passerinum. Journal of the Brasilian Chemical Society, 13: 669-673.
Barros-Filho, B. A.; Nunes, F. M.; Oliveira, M. C. F.; Andrade-Neto, M.; Mattos, M. C. 2007. Metabólitos secundários de Esenbeckia almawillia KAASTRA (RUTACEAE). Quimica Nova, 30:1589-1591.
Januário, A. H.; Vieira, Da Silva, M. F. G. F.; Fernandes, J. B. 2009. Alcalóides ᵦ- indolopiridoquinazolínicos de Esenbeckia grandiflora MART. (RUTACEAE). Quimica Nova, 32:2034.
Mahato, S. B.; Kundu, A. P. 1994. 13C NMR spectra of pentacyclic triterpenoids – a compilation and some salient features. Phytochemistry, 37:1517.
Melo, M. F. F.; Zickel, C. S. 2004. Os gêneros Zanthoxylum L. e Esenbeckia (Rutaceae) no Estado de Pernambuco, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 18:73-90.