ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Variabilidade do perfil dos óleos de copaíba comercializado nas feiras de São Luís.

AUTORES: Castro, J.A.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Vasconcelos, A.F.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; França, E.T.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Souza, T.N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA) ; Monteiro, O.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA) ; Camara, M.B.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA)

RESUMO: O óleo de copaíba é um importante fitoterápico para diversas aplicações, podendo ser extraído de modo sustentável das copaiferas, o que lhe confere valor comercial muito superior aos óleos comestíveis comuns, por isso, usados para adulterá-lo. O objetivo deste trabalho foi através da diferença de composição e propriedades físico-químicas dos terpenos (componentes majoritários no óleo de copaíba) e os triacilglicerídeos (outros óleos comestíveis) avaliar a variabilidade das amostras comercializadas nas feiras de São Luís e detectar eventuais traços de adulteração por meio de ensaios laboratoriais simples, como índice de acidez, saponificação, cromatografia, entre outros, onde, de quatro amostras, uma apresentou parâmetros físico-químicos compatíveis com o da presença de óleo vegetal.

PALAVRAS CHAVES: Óleo de Copaíba; Adulteração; Medicina Popular

INTRODUÇÃO: O gênero Copaifera possui várias espécies de árvores como a Langsdorffii, Multijuga, Officinalis, entre outras, conhecidas popularmente como copaíbas. São encontradas distribuídas pela África e em regiões tropicais e subtropicais da América do Sul. No Brasil são encontradas principalmente nos estados do Pará e Amazonas (NETO et al, 2008). Estas plantas produzem quantidades variáveis do óleo de copaíba por exsudação do tronco, que por sua utilização na indústria de perfumes, cosméticos, vernizes, fotografias e na medicina popular, principalmente como antiinflamatório e cicatrizante (VEIGA e PINTO, 2002), o torna objeto de muitos estudos. O óleo é constituído principalmente por misturas de diterpenos e sesquiterpenos (derivados do isopreno), como o cariofileno e o ácido caurenóico que possuem fortes propriedades antiinflamatórias, antimicrobianas e analgésicas. De acordo com a Portaria n° 741, de 16 de setembro de 1998 da ANVISA, o óleo de copaíba por ser “natural” não necessita de um padrão de identidade e qualidade. Visto isso, somando com as grandes distâncias a serem vencidas nas selvas para obtenção do óleo de copaíba e a diferença de preços em comparação a outros óleos comestíveis (R$ 140,00 contra R$ 3,00 de outros óleos) enquanto estes apresentam aspecto semelhante a ele e o solubilizarem, os posicionam como os principais adulterantes desse fitoterápico, o que leva à diminuição efetiva dos seus princípios ativos e sua conseqüente perda de eficácia farmacológica (VASCONCELOS e GODINHO, 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade dos óleos de copaíba comercializados nas feiras de São Luís através de análises físico-químicas, testes de solubilidade e perfil cromatográfico.

MATERIAL E MÉTODOS: Foram obtidas quatro amostras de óleo de copaíba nas feiras livres de São Luís através de uma amostragem aleatória simples, sendo duas amostras provenientes do Mercado Central e duas da Feira da Praia Grande, onde são identificadas no presente trabalho como C1, C2, C3 e C4, respectivamente. Os ensaios físico- químicos foram realizados no Laboratório de Pesquisa em Química e no Laboratório de Macromoléculas do Departamento de Química e Biologia da UEMA. As amostras de óleo foram caracterizadas por determinações em triplicata dos parâmetros: Índice de Acidez, Índice de Ácidos Graxos, Índice de Saponificação, Índice de Refração, testes de solubilidade em solventes como etanol P.A 99% e éter de petróleo, onde pingou-se gotas do óleo a ser analisado em um volume fixo de solvente (1mL) até a formação de uma segunda fase, além da determinação do perfil cromatográfico através de cromatografia em camada delgada utilizando placas de alumínio revestidas com sílica-gel G60 de granulometria de 250 µm e como eluentes a mistura de hexano com acetato de etila na proporção de 9:1, posteriormente revelada com iodo ressublimado. Todos os ensaios realizados foram feitos de acordo com as normas da Association of Official Analytical Chemists – Official Methods of Analyses, as normas do Instituto Adolfo Lutz e com as normas da AOCS – American Oil Chemists’ Society. Os dados obtidos foram utilizados para a comparação relativa entre os perfis das amostras investigadas e os citados na literatura no sentido de detectar eventuais desvios.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A amostra C4 apresentou aspecto, perfil físico-químico e perfil de solubilidade diferentes do das demais amostras como pode ser visto na Tabela 1. De acordo com VEIGA e PINTO (2002) a predominância de ácidos diterpênicos confere ao óleo de copaíba um elevado índice de acidez que é reduzido quando adicionado óleos comestíveis cujos componentes majoritários são triacilglicerídeos neutros (TAG). Todavia, os TAGs são materiais saponificáveis, o que leva ao aumento do índice de saponificação quando estes são adicionados ao óleo de copaíba. Em relação ao índice de refração, este aumenta com o aumento da cadeia carbônica, número de ligações duplas e conjugações. TAGs possuem uma longa cadeia carbônica, porém poucas insaturações e poucas conjugações, o que leva a uma diminuição do índice de refração para a adição deste ao óleo de copaíba. Em relação à miscibilidade, os terpenos são solúveis em solventes polares como o etanol e pouco solúveis em solventes apolares como o éter de petróleo. Os TAGs, no entanto, são insolúveis em etanol e totalmente solúveis em éter de petróleo. Novamente a amostra C4 apresentou comportamento estranho, se mostrando totalmente solúvel em éter de petróleo e insolúvel em etanol. O perfil dos cromatogramas obtidos são comparáveis aos da literatura sob condições análogas (BARBOSA et al., 2009). O perfil cromatográfico da amostra C4 apresentou as manchas superiores similares com as formas (elipsóide) das correspondentes à amostra de óleo de soja, como pode ser visto na Figura 1, o que reforça os indícios de adulteração da amostra de óleo de copaíba com esse óleo graxo. Esse fato converge com o que é reportado na literatura (BARBOSA, 2009) quanto a esse tipo de adulteração.

Tabela 1

Resultados das análises físico-químicas e testes de solubilidade.

Figura 1

Cromatograma das amostras comerciais de óleo de copaíba e óleo de soja eluídas com hexano e acetato de etila na proporção de 9:1

CONCLUSÕES: A amostra C4 apresentou perfil diferenciado com resultados intermediários entre o das demais amostras e o de óleo de soja, inclusive no teste de solubilidade o que pode sugerir que a mesma esteja adulterada com óleo vegetal comestível. Com ensaios laboratoriais simples e rápidos é possível segregar amostras com suspeitas de adulteração antes de conduzi-las a determinações analíticas mais sensíveis com instrumentação de elevado custo como Cromatografia Gasosa (CG-EM) coerentes com complexidade da composição do óleo de copaíba.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: NETO, José de Sousa Lima; GRAMOSA, Nilce Viana; SILVEIRA, Edilberto Rocha. Constituintes Químicos dos frutos de Copaifera Langsdorffi Desf. Química Nova, Vol. 31, No. 5, 2008.
VEIGA, Valdir F.; PINTO, Angelo C. O gênero Copaifera L. Química Nova, Vol. 25, No. 2, 2002.
VASCONCELOS, Antônio Francisco Fernandes; GODINHO, Oswaldo Espirito Santo. Uso de métodos analíticos convencionados no estudo da autenticidade do óleo de copaíba. Química Nova, Vol. 25, No. 6, 2002.
BARBOSA, Karol de S.; YOSHIDA, Massayoshi; SCUDELLER, Veridiana V. Detection of adulterated copaíba (Copaifera multijuga Hayne) oil-resins by refractive índex and thin layer chromatography. Revista Brasileira de Farmacognosia, 2009.