ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: SCREENING DE PLANTAS DA FAMÍLIA ANNONACEAE COM ATIVIDADE NEMATICIDA CONTRA Meloidogyne incognita

AUTORES: Campos, V.A.C. (UFLA) ; Alves, D.S. (UFLA) ; Lima, L.B. ((UFLA) ; Oliveira, D.F. (UFLA) ; Carvalho, G.A. (UFLA) ; Campos, V.P. (UFLA)

RESUMO: Meloidogyne incognita é um fitonematoide que causa grandes prejuízos aos agricultores. Portanto, com vistas a contribuir para o desenvolvimento de novos produtos para o controle deste fitoparasita, o presente trabalho teve por objetivo selecionar espécies vegetais da família Annonaceae ativas contra M. incognita. Para tanto, os extratos metanólicos das folhas, cascas e frutos de espécies desta família foram submetidos à partição líquido–líquido, originando frações enriquecidas em acetogeninas. Tais frações foram submetidas a testes in vitro com juvenis de segundo estágio do nematoide. Os resultados revelaram que a fração obtida das cascas de Guatteria australis possuía atividade nematicida estatisticamente igual a do produto comercial carbofuran.

PALAVRAS CHAVES: Atividade nematicida; acetogeninas; produtos naturais

INTRODUÇÃO: Um dos grandes problemas enfrentados pela agricultura mundial diz respeito aos nematoides do gênero Meloidogyne, que são conhecidos como nematóides das galhas por formarem galhas nos sistemas radiculares das plantas. Estes fitonematoides são distribuídos por todo mundo e atacam praticamente todos os vegetais cultiváveis. São de grande importância econômica, já que causam grande prejuízo à agricultura mundial (WILLIAMSON AND KUMAR, 2006), sendo a espécie Meloidogyne incognita uma das principais no gênero. Estes nematóides são endoparasitas sedentários e são responsáveis por retardar o crescimento e desenvolvimento de muitas culturas em várias partes o mundo. Atualmente, o método mais empregado para o controle destes fitoparasitas consiste no emprego de substâncias de alta toxicidade ao ambiente e ao homem, que elevam o custo da produção agrícola. Uma possível alternativa para contornar tal problema diz respeito ao emprego de produtos de origem vegetal, já que as plantas são capazes de produzir substâncias com atividade nematicida (OLIVEIRA et al., 2007), sendo promissoras para o desenvolvimento de novos produtos de baixa toxicidade e menos onerosos. Em decorrência, o Grupo de Pesquisas em Produtos Naturais da UFLA selecionou várias espécies de plantas pertencentes à família Annonacea com o objetivo de identificar aquela (s) produtora (s) de substâncias ativas contra M. incognita. A escolha das plantas se baseou no fato de espécies da referida família botânica serem capazes de produzir acetogeninas que, segundo dados da literatura, podem ser ativas contra nematóides (DANG et al., 2011).

MATERIAL E MÉTODOS: Folhas, cascas e frutos de espécies vegetais da família Annonaceae foram coletados na cidade de Lavras (MG). Após serem reduzidos a tamanhos menores, tais materiais foram secos a 40ºC por 48 h (folhas e frutos) ou 72 h (cascas). Em seguida, os materiais foram imersos em MeOH e, passadas 24 h, as misturas resultantes foram filtradas. Repetiu-se este processo de extração por mais seis vezes e, ao final, juntaram-se as fases líquidas para serem concentradas em evaporador rotatório e liofilizadas. Os extratos metanólicos liofilizados foram submetidos à partição entre água e diclorometano (CH2Cl2), originando assim frações enriquecidas em acetogeninas (solúvel em CH2Cl2). Tais frações foram concentradas em evaporador rotatório, liofilizadas e submetidas a testes in vitro com juvenis de segundo estágio (J2) de M. incognita obtidos de raízes de tomateiro. Cada amostra foi solubilizada em Tween 80 a 0,01g/mL, resultando em soluções a 1000 µg/mL. Para a realização dos testes foram utilizadas placas do tipo Elisa, na qual foram depositadas suspensões de 20 µL contento de 20 a 30 nematóides e, em seguida, adicionaram-se 100 µL de cada amostra à suspensão de nematoides. Empregaram-se cinco repetições por amostra. Como testemunhas foram utilizados Tween 80 a 0,01 g/mL e o nematicida comercial carbofuran (300 µg/mL). As placas foram mantidas em BOD a 25ºC por 48 h. Em seguida, adicionou-se NaOH 1,0 mol/L ao conteúdo de cada cavidade da placa e os nematóides foram contados. Aqueles retos e imóveis foram considerados mortos, enquanto os retorcidos e móveis foram categorizados como vivos. Os valores obtidos foram convertidos em percentagem e submetidos à análise variância. As médias foram separadas pelo teste de Scott-Knott a 5 % de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As frações enriquecidas em acetogeninas tinham massas entre 110 e 2000 mg, o que correspondia a 5,7 e 41,9%, respectivamente, das massas dos extratos vegetais, sendo a espécie Xylopia brasiliensis (folhas) a que apresentou maior rendimento. Tal resultado está de acordo com dados da literatura, segundo os quais as Annonaceaes podem apresentar frações ricas em acetogeninas com rendimentos bem variados, podendo chegar até a 60 % (DANG et al., 2011; SANTOS et al., 2007). Dentre as plantas estudadas, observou-se que os extratos de várias amostras vegetais não apresentavam qualquer atividade nematicida. Para exemplificar se pode citar: Annona cacans (cascas e folhas), Annona coriacea (cascas), Annona neolaurifolia (cascas e folhas), Annona sylvatica (cascas), Duguetia arenicola (folhas), Duguetia lanceolata (folhas e frutos), Guatteria australis (folhas), Xylopia brasiliensis (folhas), Xylopia emarginata (cascas e folhas) e Xylopia sericea (cascas e frutos). Já, as amostras de Annona sylvatica (folhas), Annona coriacea (folhas), Xylopia sericea (frutos), Duguetia lanceolata (cascas), Xylopia brasiliensis (cascas) e Guatteria australis (cascas), se revelaram ativas contra M. incognita (Tabela 1). O melhor resultado foi obtido com G. australis (cascas), cuja mortalidade causada ao nematoide correspondeu a 100% do valor observado para o nematicida comercial carbofuran (Tabela 1). Este resultado está de acordo com o trabalho de DANG et al. (2011), segundo os quais acetogeninas isoladas da espécie Annona squamosa causaram 100% de mortalidade de M. incognita. Esta é a primeira vez que se relata a atividade nematicida para Guatteria australis, para a qual os estudos fitoquímicos são escassos.

Tabela 1. Frações ricas em acetogeninas, obtidas de plantas da família

Esta tabela apresenta os resultados da atividade nematicida contra M. incognita das frações ricas em acetogeninas obtidas de Annonaceas

CONCLUSÕES: O teste de mortalidade de M. incognita revelou que as frações enriquecidas em acetogeninas das espécies A. sylvatica (folhas), A. coriacea (folhas), G. australis (cascas), X. sericea (frutos), D. lanceolata (cascas) e X. brasiliensis (cascas) se apresentaram ativas contra o referido nematoide, com destaque para aquela oriunda das cascas de G. australis, que apresentou atividade nematicida estatisticamente igual à observada para o nematicida comercial carbofuran. Logo, esta espécie tem potencial para uso no desenvolvimento de novos produtos para o controle de M. incongita.

AGRADECIMENTOS: FAPEMIG, CNPq e CAPES

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: COLOMA, O. A.; NESKE, A.; CHAHBOUNE, N.; ZAFRA-POLO, M. C.; BARDO, A. 2009. Tucupentol, a novel mono-tetrahydrofuranic acetogenin from Annona montana, as a potent inhibitor of mitochondrial complex I. Chemistry & Biodiversity, 6: 335-340.

DANG, Q. L.; KIM, W. K.; NGUYEN, C. M.; CHOI, Y. H.; CHOI, G. J.; JANG, K. S.; M. S.; PARK, M. S.; LIM, C. H.; LUU, N. H.; KIM, J. 2011. Nematicidal and antifungal activities of Annonaceous acetogenins from Annona squamosa against various plant pathogens. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 59: 11160-11167.


OLIVEIRA, D.F.; CAMPOS, V.P.; AMARAL, D.R.; NUNES, A.S.; PANTALEÃO, J.A.; COSTA, D.A. 2007. Selection of rhizobacteria able to produce metabolites active against Meloidogyne exigua. European Journal of Plant Pathology, 119: 477-479.

SANTOS, L. A. R.; PIMENTA, L. P. S.; BOAVENTURA, M. A. D. 2007. Acetogeninas de anonáceas bioativas isoladas das sementes de Annona cornifolia A. St - Hil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 9: 48-51.

WILLIAMSON, V. M. AND KUMAR, A. 2006. Nematode resistance in plants: the battle underground. Trends in Genetics, 22: 396-403.