ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Alcalóides aporfinóides das folhas de Annona salzmannii (Annonaceae) e investigação das atividades tripanocida e antioxidante
AUTORES: Dutra, L.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Sampaio, M.F.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Salvador, M.J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ; Nepel, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Barison, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Costa, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
RESUMO: A investigação fitoquímica do extrato metanólico(EM) das folhas de Annona
salzmannii resultou no isolamento de quatro alcalóides aporfinóides conhecidos,
liriodenina, anonaina, asimilobina e norcoridina. A identificação dos alcalóides
isolados foi feita através de métodos espectroscópicos, tais como: IV, Massas, e
principalmente RMN 1D/2D. Os alcalóides isolados são descritos pela primeira vez
nas folhas de A. salzmannii. Norcoridina é descrita pela primeira vez na
espécie. A presença desses alcalóides nas folhas de A. salzmannii indica mais
uma fonte de obtenção dos mesmos, bem como contribui para o conhecimento
quimiotaxonômico das espécies de Annona. O EM apresentou pronunciada atividade
antioxidante frente ao ensaio ORAC-FL, atribuída à presença dos alcalóides
asimilobina e norcoridina
PALAVRAS CHAVES: Annona salzmannii; alcalóides aporfinóides; atividade antioxidante
INTRODUÇÃO: Annona salzmannii A. DC. pertence a família Annonaceae e é conhecida
popularmente como “araticum-bravo”, “araticum-da-mata” e “araticum-apé” (COSTA
et al., 2011; DA CRUZ et al., 2011). Distribui-se na restinga arbórea e zona da
mata da costa do Nordeste do Brasil, além de ocorrer do sudeste da Bahia até São
Paulo. Em Sergipe é considerada uma espécie típica da Flora Sergipana e várias
de suas partes botânicas (caule, folhas e raiz) apresentam uso na medicina
popular para o tratamento de uma variedade de doenças, tais como: verminoses,
disenteria, úlceras e inflamações (DA CRUZ et al., 2011). Estudos fitoquímicos
prévios com esta espécie relatam o isolamento de alcalóides, esteróides,
sesquiterpenos, acetogeninas e óleos essenciais (COSTA et al., 2011; DA CRUZ et
al., 2011). Em relação às investigações farmacológicas, estudos recentes relatam
propriedades antimicrobiana, antioxidante, tripanocida e citotóxica contra
linhagens de células tumorais humanas (COSTA et al., 2011 e 2012a,b). Dando
continuidade ao estudo fitoquímico de A. salzmannii e em busca de produtos
naturais com atividade antioxidante e tripanocida, relatamos neste trabalho o
estudo fitoquímico inédito das folhas.
MATERIAL E MÉTODOS: As folhas de A. salzmannii foram coletadas na Mata do Castro, Município de Santa
Luzia do Itanhi, Sergipe. Posteriormente foram secas em estufa de ar-circulante
a 45 oC, moídas (600 g) e submetidas à extração à frio utilizando inicialmente
éter de petróleo e depois metanol (5 x 2L, cada), resultando em 34,74 g de EEP e
68,84 g de EM, respectivamente. Uma pequena parte desses extratos (1 g) foi
submetida ao ensaios de atividades antioxidante e tripanocida (COSTA et al.,
2011 e 2012), visando o estudo biomonitorado. Destes, apenas o EM foi ativo. A
análise por CCD utilizando o reagente de Dragendorff indicou a presença de
substâncias alcaloídicas. Sendo assim, cerca de 65,0 g do EM foi submetida ao
tratamento ácido-base convencional, rendendo as frações alcaloídica (FA: 0,98 g)
e neutra (FN: 10,51 g), respectivamente. Uma parte de FA (0,8 g) foi submetida
ao fracionamento cromatográfico em uma CC de sílica gel previamente tratada com
solução de NaHCO3 a 10% eluída com gradientes de éter de petróleo:CH2Cl2,
posteriormente gradientes de CH2Cl2:EtOAc e finalmente gradientes de
EtOAc:CH3OH, resultando em 145 frações de 25 mL cada. As frações obtidas foram
analisadas por CCD em diferentes sistemas de solventes e reunidas em 15 grupos
de frações. GF7 (32,5 mg) foi submetida a CCDP utilizando como eluente
CH2Cl2:MeOH (9,0:1,0, v/v), resultando nas substâncias 1 (5,8 mg) e 2 (7,9 mg),
respectivamente. GF8 (303,0 mg) foi submetida a uma nova CC utilizando a mesma
metodologia da FA, rendendo 47 subfrações que foram reunidas em 6 grupos de
subfrações. GF8.1 (18,6 mg) foi submetida a CCDP eluída com CH2Cl2:MeOH
(9,5:0:5, v/v, três eluições) dando 1 (1,8 mg), 3 (8,1 mg) e 4 (3,4 mg),
respectivamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O estudo fitoquímico do EM das folhas de A. salzmannii levou ao isolamento de
quatro alcalóides aporfinóides 1-4 (FIGURA 1). Os alcalóides foram identificados
com base nos seus dados espectrais (IV, Massas, e RMN de 1H e 13C), bem como os
dados descritos na literatura como sendo: liriodenina (1), anonaina (2),
asimilobina (3) e norcoridina (4). Entre os alcalóides isolados apenas
norcoridina (4) é registrado pela primeira vez na espécie. Os alcalóides 1-3
foram descritos recentemente nas cascas de A. salzmannii (DA CRUZ et al., 2011).
Embora os alcalóides 1-3 já tenham sido relatados em A. salzmannii (cascas), nas
folhas os mesmos são descritos pela primeira vez. A presença destes nas folhas
indica mais uma fonte de obtenção e acúmulo dos mesmos. As atividades
antioxidante pelo método ORAC-FL e tripanocida contra formas epimastigotas de
Trypanosoma cruzi foram investigadas para os extratos brutos (EEP e EM) e
frações alcaloídica (FA) e neutra (FN) de A. salzmannii. Entre estes, apenas a
atividade antioxidante foi observada (considerada ativa ≥ 1000 µmol de Trolox
por equivalentes grama), sendo o EM e a FA, os mais ativos com valor de ORAC de
4070,75 e 2872,04 µmol de TE g-1, respectivamente. O EEP e a FN apresentaram
valores de ORAC de 254,12 e 402,02 µmol de TE g-1, respectivamente e foram
considerados inativos. A atividade antioxidante dos alcalóides 1-3 utilizando o
método ORAC-FL foi recentemente descrita por COSTA et al. (2012b), sendo o
alcalóide 3 (asimilobina) a substância mais ativa. Com base neste trabalho, a
forte atividade antioxidante demonstrada pelo EM e FA pode ser atribuída à
presença da asimilobina (2) com significativa contribuição da norcoridina (4),
pois ambos alcalóides apresentam uma hidroxila fenólica que influencia na
propriedade antioxidante.
FIGURA 1
Alcalóides aporfinóides isolados das folhas de
Annona salzmannii.
CONCLUSÕES: Os resultados obtidos indicam que A. salzmannii é uma espécie típica de
Annonaceae, além de uma rica fonte de compostos biologicamente ativos com
propriedades antioxidante. O isolamento dos alcalóides liriodenina, anonaina,
asimilobina e norcoridina confirmam a capacidade das espécies de Annonaceae de
produzirem alcalóides derivados da estrutura isoquinolínica, o que os caracterizam
como prováveis marcadores quimiotaxonômicos.
AGRADECIMENTOS: FAPITEC/SE, CAPES e CNPq pelo suporte financeiro e à Profa. Dra. Ana Paula do
Nascimento Prata pela identificação da espécie botânica (ASE/UFS).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: COSTA, E. V.; DA CRUZ, P. E. O.; LOURENÇO, C. C.; MORAES, V. R. S.; NOGUEIRA, P. C. L.; SALVADOR, M. J.2012b. Antioxidant and antimicrobial activities of aporphinoids and other alkaloids from the bark of Annona salzmannii A. DC. (Annonaceae). Natural Product Research, DOI: 10.1080/14786419.2012.688044.
COSTA, E. V.; DUTRA, L. M.; DE JESUS, H. C. R.; NOGUEIRA, P. C. L.; MORAES, V. R. S.; SALVADOR, M. J.; CAVALCANTI, S. C. H.; DOS SANTOS, R. L. C.; PRATA, A. P. N. 2011. Chemical composition and antioxidant, antimicrobial, and larvicidal activities of the essential oils of Annona salzmannii and A. pickelii (Annonaceae). Natural Product Communications 6(6): 907-912.
COSTA, E. V.; DUTRA, L. M.; SALVADOR, M. J.; RIBEIRO, L. H. G.; GADELHA, F. R.; CARVALHO, J. E. 2012a. Chemical composition of the essential oils of Annona pickelii and Annona salzmannii, and their antitumour and trypanocidal activities. Natural Product Research, DOI:10.1080/14786419.2012.686913.
DA CRUZ, P. E. O.; COSTA, E. V.; MORAES, V. R. S.; NOGUEIRA, P. C. L.; VENDRAMIN, M. E.; BARISON, A.; FERREIRA, A. G.; PRATA, A. P. N. (2011) Chemical constituents from the bark of Annona salzmannii (Annonaceae). Biochemical Systematics and Ecology 39: 872-875.