ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Alcalóides isoquinolínicos isolados das cascas de Annona pickelii (Annonaceae) e investigação da atividade antioxidante
AUTORES: Sampaio, M.F.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Salvador, M.J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ; Nepel, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Barison, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Costa, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
RESUMO: A investigação fitoquímica do extrato metanólico das cascas de Annona pickelii (Diels) H. Rainer resultou no isolamento de três alcalóides conhecidos, dois tetraidroprotoberberínicos (discretamina e stefolidina), e um aporfínico (asimilobina). A identificação dos alcalóides isolados foi feita através de métodos espectroscópicos, tais como: IV, Massas, e principalmente RMN 1D/2D. Os alcalóides discretamina e stefolidina são descritos pela primeira vez em A. pickelii. O extrato metanólico (EM) e sua fração alcaloídica (FA) apresentaram significante atividade antioxidante frente ao ensaio ORAC-FL com valor de ORAC de 1925,82 e 4545,04 μmol de trolox por equivalentes grama (μmol de TE.g-1), respectivamente. Discretamina apresentou forte atividade antioxidande com valor de ORAC de 2,10 trolox.
PALAVRAS CHAVES: annona pickelii; alcalóides; atividade antioxidante
INTRODUÇÃO: Annona pickelii (Diels) H. Rainer pertence à Annonaceae e é popularmente conhecida como “araticum-do-mato”, “jaquirinha-do-mato”, e “jussara” (DUTRA et al., 2012). Estudos prévios relatam o isolamento e a identificação de terpenóides, lignóides, alcalóides e óleos essenciais (COSTA et al., 2011, 2012a; DUTRA et al., 2012). O oléo essencial das folhas desta espécie demonstrou forte atividade antimicrobiana, antioxidante e citotóxica contra linhagens de células tumorais humanas (COSTA et al., 2011, 2012a). Dando continuidade do estudo das anonáceas de Sergipe, em particular de A. pickelii, descrevemos neste trabalho o isolamento de três alcalóides isoquinolínicos das cascas (FIGURA 1), bem como o resultado da atividade antioxidante dos seus extratos, frações e substâncias isoladas.
MATERIAL E MÉTODOS: As cascas de A. pickelii foram coletadas na Mata do Castro, Município de Santa Luzia do Itanhi, Sergipe. Posteriormente foram secas em estufa de ar-circulante a 45 oC, moídas (790 g) e submetidas à extração à frio utilizando inicialmente hexano e depois metanol (5 x 3L, cada), resultando em 5,53 g de EH e 129,32 g de EM, respectivamente. Uma pequena parte desses extratos (1 g) foi submetida ao ensaio de atividade antioxidante (COSTA et al., 2011), visando o estudo biomonitorado. Destes, apenas o EM foi ativo. A análise por CCD utilizando o reagente de Dragendorff indicou a presença de substâncias alcaloídicas. Sendo assim, cerca de 126,32 g do EM foi submetida ao tratamento ácido-base convencional, rendendo as frações alcaloídica (FA: 0,67 g) e neutra (FN: 3,042 g), respectivamente. Uma parte de FA (0,5 g) foi submetida ao fracionamento cromatográfico em uma CC de sílica gel previamente tratada com solução de NaHCO3 a 10% eluída com gradientes de hexano:CH2Cl2, posteriormente gradientes de CH2Cl2:EtOAc e finalmente gradientes de EtOAc:CH3OH, resultando em 130 frações de 25 mL cada. As frações obtidas foram analisadas por CCD em diferentes sistemas de solventes e reunidas em 12 grupos de frações (GF1-GF12). GF8 (27,3 mg) foi submetida a CCDP utilizando como eluente CH2Cl2:MeOH (9,5:0,5, v/v, duas eluições), resultando no isolamento das substâncias 2 (4,8 mg) e 3 (9,5 mg), respectivamente. GF10 (47,1 mg) foi submetida a uma nova CC utilizando a mesma metodologia do fracionamento da FA rendendo 30 subfrações que foram reunidas em 7 grupos de subfrações (GF10.1-GF10.7), de acordo com as análises por CCD em diferentes sistemas de solventes. GF10.3 (21,0 mg) foi submetida a CCDP eluída com CH2Cl2:MeOH (9,0:1,0, v/v, duas eluições) resultando no isolamento de 1 (7,4 mg).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Pela análise dos espectros de RMN de 1H e 13C de (1) observou-se sinais típicos dos hidrogênios aromáticos dos alcalóides do tipo aporfínico entre δH 8,33 e δH 6,68. Observou-se também um sinal em δH 3,60 (δC 60,25) típico de grupo OCH3 substituído em C-1. A presença de um grupo OH substituído em C-2 foi observada pelo sinal em δC 148,92. A análise conjunta dos espectros de RMN de 1H e 13C 1D/2D levou à identificação do alcalóide aporfínico asimilobina, isolado das folhas desta espécie (DUTRA et al., 2012). Pela análise dos espectros de RMN de 1H e 13C das substâncias (2) e (3) observou-se similaridades entre os seus deslocamentos químicos, diferenciando-se entre si em pequenos intervalos. A presença de quatro grupos metilênicos em δC 28,7, 35,8, 52,0 e 54,1 em (2) e δC 28,4, 35,9, 51,6 e 53,9 em (3) nos espectros de RMN de 13C, DEPT 135, HSQC e HMBC evidenciou características de alcalóides do tipo tetraidroprotoberberínico. Ambas as substâncias apresentaram dois grupos OCH3 em δH 3,83 e δH 3,86 para (2) e δH 3,82 e δH 3,88 para (3) e dois grupos OH. A correta atribuição dos grupos substituintes foi definida com base nos espectros de HSQC, HMBC e NOE 1D, elucidando (2) como sendo o alcalóide stefolidina e (3) como sendo o alcalóide discretamina. Ambos alcalóides são descritos pela primeira vez na espécie (FIGURA 1).A atividade antioxidante pelo método ORAC-FL foi investigada para os extratos brutos (EH e EM), frações alcaloídica (FA) e neutra (FN), e substâncias isoladas (2 e 3) de A. pickelii. Entre os extratos e frações, apenas EM e FA foram ativos com valores de ORAC de 1925,82 e 4545,04 µmol de TE g-1, respectivamente (considerada ativa ≥ 1000 µmol de Trolox por equivalente grama).
figura 1
Alcalóides isoquinolínicos isolados das cascas de Annona pickelii
CONCLUSÕES: Os alcalóides (2) e (3) são descritos pela primeira vez na espécie e contribuem significativamente para o conhecimento quimiotaxonômico do gênero. A significante atividade antioxidante apresentada pelo extrato metanólico (EM) e sua fração alcaloídica (FA), bem como pelo alcalóide (3) indica que A. pickelii é uma fonte promissora de substâncias biologicamente ativas com propriedades antioxidante.
AGRADECIMENTOS: FAPITEC/SE, CAPES e CNPq pelo suporte financeiro e à Profa. Dra. Ana Paula do Nascimento Prata pela identificação da espécie botânica (ASE/UFS).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: COSTA, E. V.; DA CRUZ, P. E. O.; LOURENÇO, C. C.; MORAES, V. R. S.; NOGUEIRA, P. C. L.; SALVADOR, M. J. 2012b. Antioxidant and antimicrobial activities of aporphinoids and other alkaloids from the bark of Annona salzmannii A. DC. (Annonaceae). Natural Product Research, DOI: 10.1080/14786419.2012.688044.
COSTA, E. V.; DUTRA, L. M.; DE JESUS, H. C. R.; NOGUEIRA, P. C. L.; MORAES, V. R. S.; SALVADOR, M. J.; CAVALCANTI, S. C. H.; DOS SANTOS, R. L. C.; PRATA, A. P. N. 2011. Chemical composition and antioxidant, antimicrobial, and larvicidal activities of the essential oils of Annona salzmannii and A. pickelii (Annonaceae). Natural Product Communications 6(6): 907-912.
COSTA, E. V.; DUTRA, L. M.; SALVADOR, M. J.; RIBEIRO, L. H. G.; GADELHA, F. R.; CARVALHO, J. E. 2012a. Chemical composition of the essential oils of Annona pickelii and Annona salzmannii, and their antitumour and trypanocidal activities. Natural Product Research, DOI:10.1080/14786419.2012.686913.
DUTRA, L. M.; COSTA, E. V.; MORAES, V. R. S.; NOGUEIRA, P. C. L.; VENDRAMIN, M. E.; BARISON, A.; PRATA, A. P. N. 2012. Chemical constituents from the leaves of Annona pickelii (Annonaceae). Biochemical Systematics and Ecology, 41: 115-118.