ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Uma cromona isolada de um fungo endofítico de Rollínia sp.

AUTORES: Nobre, T.A. (UFAM) ; Souza, M.P. (UFAM) ; Barison, A. (UFPR) ; Gama, A.M. (UFAM) ; Souza, A.Q.L. (UEA) ; Souza, A.D.L. (UFAM)

RESUMO: Os fungos endofíticos são considerados fontes promissoras de metabólitos secundários potencialmente bioativos. As plantas do gênero Rollinia pertencente a família Anonnaceae apresentam diversos relatos sobre sua composição química principalmente pela presença de alcalóides e acetogeninas. Neste trabalho, será apresentada a caracterização da paecilina B, uma cromona ligada ao grupo β-metil-γ-lactona e a um grupo éster produzida pelo fungo AnspCr 1 1.1, isolado da casca da raiz da planta Rollinia sp. Esse metabólito foi purificado por fracionamento em gel de sílica e HPLC semi-preparativo e sua identificação foi feita através de análises espectroscópicas e espectrométricas (RMN de 1H 1D e 2D e espectrometria de massas).

PALAVRAS CHAVES: fungos endofíticos; Rollinia sp. ; paecilina B

INTRODUÇÃO: Microrganismos endofíticos são principalmente fungos e bactérias que habitam o interior do tecido das plantas sem lhes causar nenhum dano aparente podendo mimetizar a química das plantas hospedeiras (PETRINI, 1991). Existem relativamente poucos relatos de investigações fitoquímicas sobre o gênero Rollinia (KUO et al., 2001) quando comparado com outros gêneros da família (Annona, por exemplo). Sabe-se que entre as classes de metabólitos secundários isolados de espécies de Annonaceae destacam-se alcalóides, acetogeninas, terpenóides e lactonas. Esses compostos apresentam atividades biológicas comprovadas como, os alcalóides benzilisoquinolínicos, que apresentam inúmeras atividades biológicas como antiparasitária, antitumoral, inseticida e antibacteriana; e as acetogeninas com atividades antitumoral, antibacteriana, antiparasitária e inseticida (COSTA-LOTUFO et al, 2006). Quanto aos microrganismos endofíticos desta espécie, há muito pouco conhecimento químico e biológico, o que torna seu estudo altamente relevante. Entre as variedades de substâncias que esses microrganismos podem produzir pode-se destacar a paecilina B, uma cromona ligada ao grupo β-metil-γ-lactona e a um grupo éster, anteriormente isolada de Paecilomyces sp., um fungo endofítico de mangue (GUO et al, 2007). Neste trabalho, será apresentada a caracterização da paecilina B, isolada do fungo endofítico de Rollinia sp. AnspCr 1 1.1. A sua identificação foi feita através de análises espectroscópicas e espectrométricas. Estudos dos metabólitos de microrganismos endofíticos justificam-se pela sua importância em diversos setores, especialmente na área farmacêutica.

MATERIAL E MÉTODOS: As partes coletadas da planta Rollinia sp. (folha, caule, inflorescência, raiz e haste) foram submetidas a um processo de desinfecção: lavagem com detergente líquido e água corrente, seguida de esterilização superficial em câmara asséptica com álcool 70% por um minuto, seguido de hipoclorito de sódio 3% por 4 minutos, nova imersão em álcool 70% por 30 segundos e finalmente a lavagem em água destilada autoclavada. O material vegetal foi cortado e os fragmentos distribuídos em placas de Petri contendo três meios de cultura (BDA + Ext. lev. 0,2%, aveia e ISP2). 50 µL da água de lavagem foram espalhados separadamente nos mesmos meios, para o controle da assepsia. A partir do terceiro dia os fungos endofíticos foram isolados e preservados pela metodologia de Castellani, em água com glicerol 15% e em óleo mineral. Entre os fungos isolados, a linhagem AnspCr 1 1.1 foi selecionada para o cultivo em larga escala devido ao resultado antimicrobiano contra Penicillium avelani. O fungo foi inoculado e incubado por 23 dias a 26-28 ºC em 60 erlenmeyers de 1L contendo 300 mL do meio BDL. O meio fermentado foi separado do micélio por filtração e particionado quatro vezes com acetato de etila, duas vezes com a mistura acetato de etila e iso-propanol na proporção de 8:2 e uma vez com acetato de etila e iso-propanol na proporção de 7:3 fornecendo três extratos. O primeiro extrato foi sucessivamente fracionado em gel de sílica fornecendo a fração AnMc21 que foi purificada em CLAE semi-preparativo e forneceu uma amostra denominada Nc5. Essa amostra obtida foi submetida a análises espectroscópicas (RMN de 1H, COSY, HMBC e HSQC em CDCl3) e espectrométricas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O espectro de RMN de 1H apresentou 10 sinais, um dos quais em δ 11,46 sem conexão a carbono (HSQC) coerente com uma hidroxila quelada. Pelo mapa de HMBC, este hidrogênio está correlacionado a carbonos em δ 107,8, 110,6 e 162,1. Um duplo dubleto detectado em δ 7,43 (J = 8,4 e 8,2 Hz) está conectado a um carbono em δ 139,3 e correlacionado com os carbonos em δ 159,1 e 162,1. Pelo COSY esse duplo dubleto tem correlações com os hidrogênios em δ 6,57 e 6,55 ambos com (J = 4,0 e 0,8). O hidrogênio em δ 6,57 conectado ao carbono em δ 107,9 correlaciona com o carbono em δ 162,1 (HMBC). Um sinal em δ 4,80 mostra um hidrogênio com conexão ao carbono em δ 83,2, deslocamento típico de carbono ligado a heteroátomo. Um sinal característico de metoxila foi registrado em δ 3,74, ligado ao carbono em δ 54,1 (HSQC). Dois hidrogênios em δ 3,27 estão conectados a um carbono em δ 40,1 e correlacionados a carbonos em δ 84,4, 169,3 e 194,1. Um multipleto em δ 2,98 revelou um hidrogênio conectado a um carbono em δ 33,7 e correlacionado com carbonos δ 15,1, 33,7, 83,2 e 175,1. Hidrogênios em δ 2,71 e 2,42 conectados a um carbono em δ 37,0, também correlacionam com os carbonos em δ 15,1, 33,6, 83,0 e 175,1. Uma metila em δ 1,33 registrada como dubleto conectada a um carbono em δ 15,3 (HSQC) correlaciona com os carbonos em δ 33,7, 37,0 e 83,0. Os espectros de massas registraram por APCI-ITMS os íons em m/z 319 ([M-H]-) e 321 ([M+H]+), confirmando a massa molecular da substância de 320 Da, coerente com a fórmula molecular C16H16O7. Os dados de RMN foram comparados com dados da literatura e mostraram coerência com a substância paecilina B (Figura 1) uma cromona ligada a grupo β-metil-γ-lactona e um grupo éster anteriormente isolada do fungo endofítico de mangue Paecilomyces sp. (GUO et al, 2007).

Paecilina B



CONCLUSÕES: O estudo químico do fungo endofítico não identificado AnspCr 1 1.1, obtido de Rollinia sp., levou a identificação de Nc5 como sendo o paecilina B, um cromona com fórmula molecular C16H16O7, isolado anteriormente do fungo Paecilomyces sp. Há relatos de que a paecilina B apresenta atividade antifúngica e antibacteriana, porém em um ensaio de citotoxidade realizada por Guo e colaboradores (2005), não apresentou atividade.

AGRADECIMENTOS: A FAPEAM e ao CNPQ, pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: STROBEL, G.; DAISY, B.; CASTILLO, U.; HARPER, J. Natural products from endophytic microorganisms. J. Nat. Prod., 2004.
PETRINI, O. (1991) Fungal endophytes of tree leaves. In Microbial Ecology of Leaves (J. Andrews & S. Hirano) 179-197.
KUO, R.Y.; CHANG, F.R.; CHEN, C.Y.; TENG, C.M.; YEN, H.F.; WU, Y.C. 2001. Antiplatelet activity of N-methoxycarbonyl aporphines from Rollinia mucosa. Phytochemistry 57: 421-425.
GUO, Z.; SHE, Z.; SHAO, C.; WEN, L.; LIU, F.; ZHENG, Z.; LIN, Y. 2007. 1H and 13C NMR signal assignments of Paecilin A and B, two new chromone derivatives from mangrove endophytic fungus Paecilomyces sp. (tree 1–7). Magnetic Resonance in Chemistry. 45: 777–780.

COSTA-LOTUFO, L. V.; MONTENEGRO, R. C.; ALVES, A. P. N. N., MADEIRA, S. V. F.; PESSOA, C.; MORAES, M. E. A.; MORAES, M. O. 2010. A Contribuição dos Produtos Naturais como Fonte de Novos Fármacos Anticâncer: Estudos no Laboratório Nacional de Oncologia Experimental da Universidade Federal do Ceará Revista Virtual Quimica 2 (1): 47-58.