ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: REPRESENTAÇÕES QUÍMICAS NA RESOLUÇÃO DOS ALUNOS: ASPECTOS E ASPIRAÇÕES
AUTORES: Silva, J.T. (UFPE) ; Oliveira, S.F. (UFPE)
RESUMO: Neste trabalho, investigamos como os alunos do ensino médio representaram alguns fenômenos químicos sensoriais e algumas propriedades físico-químicas emergentes, como solubilidade, pressão de vapor e ponto de fusão e ebulição. Como instrumento de coleta de dados, utilizamos entrevistas e um questionário estruturado. Verificamos que os alunos investigados não representaram os fenômenos e propriedades exploradas com conforto considerável, pois, na maioria das vezes, o raciocínio baseado no senso comum predominou, constatando-se, assim, explicações vagas e imprecisas.
PALAVRAS CHAVES: representações; ensino-aprendizagem; química
INTRODUÇÃO: A aprendizagem química depende da habilidade do aluno para utilizar a linguagem simbólica necessária com relativo conforto. Admite-se que a linguagem simbólica no estudo da química deva ser vista como um fator motivacional em vez de um fator limitante. Entretanto, uma leva de relatos tem evidenciado que os alunos consideram as representações químicas como algo extremamente desafiador (BUCAT; MOCERINO, 2009; GILBERT; TREAGUST, 2009). De fato, quando os alunos iniciam seus estudos químicos, trazem uma série de concepções para explicar o mundo em sua volta e o raciocíonio de senso comum parece desempenhar um papel central em muitas dessas explicações. Embora essas concepções intuitivas formem uma estrutura rígida na cognição dos alunos, também podem induzir a erros, através da simplificação demasiada da natureza, negligenciando a identificação de variáveis relevantes, propriedades ou desconsiderando interações que determinam o comportamento dos sistemas naturais (TALANQUER, 2008). Assim, na presente investigação, objetivamos explorar a extensão com que estudantes do ensino médio intuitivamente representam fenômenos químicos relacionados aos sentidos, buscando compreender como os alunos utilizam a linguagem química para descrever suas explicações.
MATERIAL E MÉTODOS: Neste estudo, exploramos a codificação química dos alunos durante suas explicações de fenômenos sensoriais relacionados ao cheiro das substâncias e propriedades físico-químicas emergentes, como pressão de vapor, solubilidade, ponto de fusão e ebulição. Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados entrevista e questionário estruturado, composto por 4 questões descritivas. Foram investigados 38 alunos, matriculados da segunda série do ensino médio de uma escola da rede pública do município de Caruaru, com idade entre 15 e 18 anos, de ambos os sexos. Os dados foram coletados no final do ano letivo de 2011 e os estudantes já haviam estudado as propriedades físico-químicas investigadas nas questões. Objetivando-se validar o questionário aplicado, um estudo piloto foi realizado com 6 alunos da mesma escola e nível letivo, mas de outra turma. As questões mostraram-se claras e facilmente compreendidas. A análise fenomenologia de caráter nomotética (verificação das consonâncias e dissonâncias) foi utilizada para averiguar e discutir os resultados. Esperamos que, através de uma rica descrição dos achados, o leitor(a) possa encontrar ressonância em sua própria prática pedagógica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A análise dos dados revelou várias tendências comuns nas representações dos alunos da propriedade sensorial explorada. 81,6% dos estudantes apresentaram respostas dissonantes para questão 1. Baseados em modelos de cognição empobrecidos representaram o carreamento do cheiro até as narinas através de um desenho de “fumaça”, o que sugere a prevalência de características macroscópicas para representação do fenômeno. Apenas 7 estudantes desenham moléculas com certo movimento para fazer alusão ao 3° estado da matéria. Na questão 2, uma boa proporção de alunos foram consonantes (65,8%) ao relacionar a rápida percepção do cheiro com o baixo ponto de ebulição apresentado pela substância. Porém, quando perguntados para relacionar a percepção rápida ou lenta do cheiro com a pressão de vapor, os alunos se mostraram confusos e contraditórios. 73,4% das respostas foram dissonantes. Ao verificar os monólogos de alguns alunos, verificou-se que a temática pressão de vapor havia sido estudada naquele ano, porém as propriedades físicas tinham sido estudadas no ano anterior e o professor não reportou em suas explicações. Assim, o mau desempenho pode estar atrelado à reprodução de pedaços de conhecimento isolados. Ainda foi sugerido que os estudantes representassem como os líquidos que apresentam cheiro são dissolvidos em água. Nesta parte, mais de 30% das questões permaneceram em branco, porém 15 alunos chegaram a tentar fazer representações, normalmente desenhando dois líquidos com coloração diferente e, quando dissolvidos, uma pictografia com a mistura das cores. Esse dado evidencia claramente a fixação dos alunos no raciocínio baseado no senso comum, intuivo, cognitivamente insuficiente a prevalência das propriedades macroscópicas em suas explicações.
CONCLUSÕES: Os alunos investigados não representaram os fenômenos e propriedades exploradas com conforto considerável. Na maioria das vezes, o raciocínio baseado no senso comum predominou. Durante essa investigação, outras questões emergiram: 1. Como o elo entre as propriedades químicas e níveis representacionais estão sendo articulados? 2. Em que nível o desenvolvimento de práticas que fomentem a argumentação científica podem contribuir para contornar o fosso verificado? Essas são questões que somente outras pesquisas poderão responder.
AGRADECIMENTOS: Núcleo de Formação Docente - UFPE/CAA.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BUCAT, B; MOCERINO, M, Learning at the Sub-micro Level: Structural Representations. Multiple Representations in Chemical Education, Eds. Springer, Chapter 1, Vol. 4, pag. 11 – 31, 2009.
GILBERT, J. K.; TREAGUST, D. F. Towards a Coherent Model for Macro, Submicro and Symbolic Representations in Chemical Education. Multiple Representations in Chemical Education, eds. Springer, Chapter 14, vol. 4, pag. 333 – 359.
TALANQUER, V. Students’ Predictions About the Sensory Properties of Chemical Compounds: Additive Versus Emergent Frameworks. Wiley Periodicals, Inc. Sci, ed 92, pag. 96 – 114, 2008.