ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: Construindo caminhos alternativos para a inclusão: o ensino da tabela periódica e suas propriedades a pessoas com cegueira total

AUTORES: Barros, P.C.S. (UFPA/SEDUC) ; Brito, E.F. (SEDUC/PA) ; Cardoso, S.A. (UFPA) ; Fialho, G.R.C.C. (UFPA)

RESUMO: O presente trabalho discorre sobre uma intervenção pedagógica, com ênfase na perspectiva da educação inclusiva, desenvolvida na primeira série do ensino médio, na E.E.E.M. “Prof.ª Marieta Emmi”, na cidade de Santa Izabel do Pará. Trata-se da abordagem da tabela periódica e suas propriedades a pessoas com cegueira total. A princípio foi realizada uma pesquisa bibliográfica e, posteriormente, foram aplicados questionários a 12 docentes e entrevistas com o discente cego. Tais instrumentos revelaram a carência de recursos adaptados para desenvolver conteúdos específicos das disciplinas. Após essa fase, procedeu-se a utilização de recursos didáticos alternativos com potencialidade tátil. Essa metodologia favoreceu o processo ensino/aprendizagem do aluno cego e evidenciou que o mesmo é capaz dedesenvolver o aspecto cognitivo tanto quanto os alunos videntes.

PALAVRAS CHAVES: Ensino de química; Tabela periódica; Cegueira

INTRODUÇÃO: A química é um instrumento capaz de proporcionar ao homem uma percepção crítica do ambiente que o cerca, mas, segundo GAIA et al (1998), o tratamento pedagógico, baseado em práticas de memorização de fórmulas e conceitos dificulta a apreensão da disciplina, causando distanciamento entre o conhecimento químico e o cotidiano. A situação se agrava quando o discente possui uma limitação sensorial, como a cegueira. Diante disso, BARBOSA (2003) explicita a necessidade da promoção de situações de aprendizagem aos alunos cegos capazes de potencializar os sentidos remanescentes que compensem a falta de visão. “Buscar os recursos mais adequados para trabalhar com alunos portadores de deficiência visual é tarefa que exige do professor enxergar além da deficiência, lembrando que há peculiaridades no desenvolvimento de todas as crianças, tendo elas deficiência ou não. A criatividade foi e continua sendo um elemento indispensável para o homem superar problemas e desafios gerados pelo seu ambiente físico e social.” (BARBOSA, 2003, p.19) Nesse sentido, a proposta foi desenvolvida com o objetivo de dinamizar o processo ensino/aprendizagem de química a alunos com cegueira total, com ênfase na tabela periódica e suas propriedades periódicas. A relevância da escolha justifica-se pela importância que tais conteúdos apresentam por constituírem as bases de estudos mais aprofundados da disciplina.

MATERIAL E MÉTODOS: A proposta foi desenvolvida com ênfase na perspectiva da educação inclusiva. A princípio foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o ensino de química no contexto da inclusão, pois, segundo MARCONI & LAKATOS (2010), este tipo de pesquisa contribui para o aprofundamento das bases teóricas do estudo em questão. Além disso, foram aplicados questionários aos 12 professores da primeira série do ensino médio da E.E.E.M. “Prof.ª Marieta Emmi”, que tinha como integrante um aluno com cegueira. Também foi desenvolvida uma entrevista com este discente. O objetivo destas ferramentas de pesquisa foi verificar como estava ocorrendo o desafio da inclusão na referida escola, tanto do ponto de vista docente quanto discente. Terminada essa fase, procedeu-se a abordagem da tabela periódica e suas propriedades a partir de uma tabela periódica em Braille, doada ao aluno cego, e de tabelas de propriedades periódicas, confeccionadas com papel panamá e lixa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os questionários aplicados aos docentes revelaram que 17% já fizerem algum curso na área de educação e inclusão; 83% sentem dificuldades em desenvolver atividades pedagógicas para alunos cegos e 75% não conseguem adequar o currículo e a metodologia para atender a necessidade específica do aluno cego. De acordo com PAVANELLO (1993), muitos docentes apresentam resistência à educação inclusiva. No entanto, BARBOSA (2003) indica que é indispensável repensar o processo ensino/aprendizagem para que pessoas com cegueira tenham acesso a recursos metodológicos adequados a sua necessidade. A entrevista com o aluno cego evidenciou que o mesmo apresentava dificuldades para compreender a estrutura da tabela periódica e, consequentemente, suas propriedades periódicas. A partir do manuseio da tabela em Braille e das tabelas de propriedades periódicas, a abordagem do conteúdo passou a fluir de modo mais dinâmico e possibilitou avanços cognitivos, com resultados expressivos, perceptíveis na participação mais intensa do aluno cego nas aulas de química. De acordo com CREPPE (2009), disponibilizar recursos didáticos com percepção tátil é uma maneira de democratizar o ensino. Após a utilização dos recursos, percebeu-se que o aluno cego possui capacidade suficiente para desenvolver seu raciocínio e aprender química, tanto quanto os alunos videntes. Isso evidencia que é indispensável trilhar caminhos alternativos para proporcionar a estes alunos um ensino de química mais eficiente e adequado as suas necessidades.



Figura 1: Tabela de propriedades periódicas (crescimento do raio atômico, potencial de ionização e eletro afinidade/eletronegatividade)

CONCLUSÕES: O estudo da tabela periódica e de suas propriedades é essencial para a compreensão de muitos conceitos e definições da química e esta, como instrumento de interpretação da realidade, deve estar acessível a todos os alunos. Nesse sentido, é indispensável o despertar docente quanto à reflexão e à adoção de práticas que contemplem a falta de visão dos alunos com cegueira. Explorar e potencializar os sentidos remanescentes, com recursos didáticos adequados a especificidade do aluno, são importantes alternativas que favorecem a abordagem da química no contexto da inclusão, permitindo a esse tipo de discente uma atuação mais dinâmica no processo ensino/aprendizagem.

AGRADECIMENTOS: Aos alunos e funcionários da E.E.E.M. "Prof.ª Marieta Emmi"

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARBOSA, P. M. O estudo da Geometria. IBC: Rio de Janeiro, 2003.

CREPPE, C.H. Ensino de química orgânica para deficientes visuais empregando modelo molecular. Duque de Caxias, 2009, 123p. (Dissertação apresentada à Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy, para a obtenção do título de mestre em Ensino das Ciências na Educação Básica).

GAIA, A. M.; ZAMBOM, D. M.; AKAHOSHI, L. H.; MARTORANO, S. A. A.; MARCONDES, M. E. R. Aprendizagem de Conceitos Químicos e Desenvolvimento de Atitudes Cidadãs: o uso de oficinas temáticas para alunos do ensino médio. Anais do XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ), UFPR, Curitiba, PR, 2008.

LAKATOS, E.M; MARCONI, M.A. Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010.

PAVANELLO, R. M. O Abandono do ensino de Geometria no Brasil: causas e conseqüências. In: Revista Zetetiké, Campinas, n°.1, 1993.