ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: A HISTÓRIA DA QUÍMICA COMO FACILITADORA DA APRENDIZAGEM DE CONCEITOS DE TERMODINÂMICA, CINÉTICA E EQUILÍBRIO QUÍMICO.
AUTORES: Cavalcanti, K.M.P.H. (IFRJ CAMPUS RIO DE JANEIRO)
RESUMO: A importância da História e Filosofia das Ciências para uma educação científica de
qualidade tem sido defendida na literatura. A partir desta defesa, constituíram-se
as chamadas abordagens contextuais do Ensino de Ciências. O presente trabalho
analisa a História da Química como meio facilitador da aprendizagem dessa Ciência
e teve como objetivo desenvolver conteúdos de físico-química como termodinâmica,
cinética e equilíbrio através de contextualizações histórico-críticas. Essa
abordagem permitiu aos alunos uma visão diferenciada da natureza da ciência além
de facilitar o processo de aprendizagem desses temas. Ao fim de algumas aulas,
notou-se claramente que os alunos despertaram maior interesse pela disciplina e
pelas questões sócio-político-econômicas que estavam envolvidas com a mesma.
PALAVRAS CHAVES: história da química; ensino de química; contextualização
INTRODUÇÃO: Analisando-se a realidade do Ensino de Ciências, observa-se a tendência a um
ensino dogmático, a-histórico, descontextualizado e desinteressante, que
enfatiza uma ciência pronta, acabada e verdadeira. Essa abordagem não favorece
uma alfabetização científica que contribua para compreensão de conhecimentos,
procedimentos e valores que permitam aos estudantes perceber as muitas
utilidades da ciência e suas aplicações assim como as limitações e consequências
negativas de seu desenvolvimento (CHASSOT, 2003). A História das Ciências
apresenta uma visão a respeito da natureza da pesquisa e do desenvolvimento
científico que não costumamos encontrar no estudo didático dos resultados
científicos. Os livros didáticos não apresentam alguns outros aspectos da
ciência. De que modo as teorias e os conceitos se desenvolvem? Como os
cientistas trabalham? Qual a relação entre o desenvolvimento do pensamento
científico e outros desenvolvimentos históricos que ocorreram na mesma época?
(SILVA et al., 2006). As abordagens contextuais têm sido propostas com o intuito
de mudar os currículos, podendo contribuir para: humanizar as ciências,
conectando-as com as preocupações pessoais, éticas, culturais e políticas;
tornar as aulas de ciências mais desafiadoras e estimular o desenvolvimento de
habilidades de raciocínio e pensamento crítico; promover uma compreensão mais
adequada dos próprios conteúdos científicos (MATTHEWS, 1992). Esse trabalho
pretendeu explorar a História da Química como meio facilitador da aprendizagem
dessa Ciência desenvolvendo conteúdos de físico-química como termodinâmica,
cinética e equilíbrio químico, em um curso de Graduação de Processos Químicos,
através de contextualizações histórico-críticas, propiciando aos alunos uma
visão diferenciada da ciência e de sua natureza.
MATERIAL E MÉTODOS: O presente trabalho foi desenvolvido em uma turma de graduação de Processos
Químicos na disciplina de Físico-Química 1 do IFRJ do campus Rio de Janeiro,
abordando alguns conteúdos da ementa da disciplina como termodinâmica, cinética
química e equilíbrio químico. Durante alguns meses, efetuou-se intensa pesquisa
bibliográfica sobre os contextos histórico-sociais dos assuntos a serem
explorados em sala de aula e sobre os temas que poderiam ser transversalmente
inseridos durante as classes devido ao incentivo ao debate proporcionado por
essa metodologia pedagógica. Foi elaborado material didático para facilitar a
exposição dos fatos, uma apresentação em PowerPoint, no qual foi possível
colocar todas as informações relacionadas aos temas como: escassez de alimentos
no século XX; guerras ocorridas nesse período; principais cientistas, grupos de
pesquisa e problemas sociais da época e as dificuldades para a síntese
industrial da amônia e suas consequências positivas e negativas para a sociedade
e etc. Em um primeiro momento, os estudantes foram confrontados com essas
questões e estimulados a debatê-las procurando entender o porquê de determinados
acontecimentos e descobertas científicas nesse período e de seus desdobramentos.
Em um segundo momento, inseriu-se os conteúdos utilizando a problemática do
início do século XX sobre a escassez de alimentos e fertilizantes e a corrida
pela comunidade científica para sua produção. Analisou-se como a termodinâmica,
a cinética e o equilíbrio químico influenciam, facilitando ou dificultando, a
reação de formação da amônia e sua produção em escala industrial. Foram
trabalhados textos históricos e técnicos sobre os temas e, ao fim de algumas
aulas, foram realizadas avaliações com questões discursivas sobre os conceitos
físico-químicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O trabalho prévio de pesquisa bibliográfica foi bastante laborioso por
dificuldades em encontrar material didático disponível para aulas com esse tipo
de configuração. Apesar disso, o trabalho que foi realizado em sala de aula
ocorreu com significativa facilidade devido à perceptível receptividade dos
alunos em relação aos temas sugeridos. A aceitação da metodologia pedagógica
proposta pôde ser notada pela interação ocorrida com a turma, com poucas
exceções. É até importante enfatizar que, apesar do que muitas vezes diz o senso
comum dentro do ambiente escolar de que, os alunos se familiarizam mais com as
aulas tradicionais e apresentam dificuldades para aulas mais inovadoras, não foi
observado. Os debates sobre a influência da síntese industrial da amônia no
início do séc. XX e suas consequências para a sociedade e o meio-ambiente foram
intensos e calorosos e alcançaram o objetivo almejado que era estimular e
instigar no aluno o interesse pelos assuntos propostos nessa e nas demais aulas.
O ensino de química nessa perspectiva propiciou, sensivelmente, a superação de
explicações simplistas aos fenômenos naturais originadas frequentemente nas
concepções prévias fortemente enraizadas em visões de senso comum. Os debates
suscitados contribuíram para uma visão crítica e contextualizada da Ciência e
dos cientistas. Diferentemente dos semestres anteriores, foi observado maior
rendimento dos estudantes em avaliações aplicadas posteriores aos debates. Foi
claramente notado melhores resultados porque os alunos passaram a conhecer a
forma como a Ciência de desenvolve, com erros e acertos, com pesquisas, estudos,
formulação de teorias e modelos sem esquecer que todo esse conhecimento pode ser
alterado, pois a Ciência não é algo pronto e acabado, e sim, em constante
movimento.
CONCLUSÕES: A presente experiência incentiva ao planejamento de novas aulas que incorpore
aspectos sócio-históricos. Notou-se que, com a compreensão de que os estudos não
se distanciam das realidades, a aprendizagem é facilitada e ocorre mais
significativamente. Acredita-se que com o entendimento de que a Ciência foi
construída por séculos, os alunos poderão assumir posição crítica nos debates
conceituais, articulando o conhecimento químico às questões sociais, econômicas e
políticas, tornando possível a apropriação efetiva de conhecimentos que contribuam
para uma ampla compreensão do mundo em que vivem.
AGRADECIMENTOS: Agradeço à aluna Eline Simões e às professoras Roseantony Bouhid e Tânia Goldbach,
da Pós-Graduação em Ensino de Ciências do IFRJ, pelas sugestões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CHASSOT, Attico. Alfabetização Científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, n. 22, jan/fev/mar/abr, p. 89-100, 2003.
MATTHEWS, M. R. History, philosophy, and science teaching: The present reapprochement. Science & Education, v. 1, n. 1, p. 11-48, 1992.
SILVA, Cibelle Celestino. Estudos de História e Filosofia das Ciências: Subsídios para Aplicação no Ensino. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006.