ÁREA: Ambiental

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE CANAIS DO DISTRITO DE IRRIGAÇÃO DO JAÍBA, NORTE DE MINAS GERAIS

AUTORES: Martins, T.M. (UFMG) ; Duarte, F.V. (UFMG) ; Vieira, E.O. (UFMG)

RESUMO: O Distrito de Irrigação do Jaíba é o maior projeto público de áreas irrigadas da América Latina, situado no semi-árido norte mineiro. A água nos percursos dos canais hidráulicos é utilizada para irrigação e para consumo humano. Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar a qualidade da água dos canais utilizada para uso doméstico e para a irrigação. Utilizando relatórios anuais da CODEVASF. Foram analisados os parâmetros: pH, alcalinidade, turbidez, Ca, Mg, Na, coliformes totais, condutividade elétrica, nitrogênio orgânico e razão de adsorção de sódio ajustada (RASaj).O estudo dos dados apresentou contaminação por ação do homem e da agricultura, sendo possível verificar pela alteração dos teores de nitrogênio orgânico, turbidez, pH e coliformes totais.

PALAVRAS CHAVES: Qualidade de água; Irrigação; Água de irrigação

INTRODUÇÃO: A região Norte Mineira possui áreas irrigadas o que permite altas produtividades isenta de efeitos sazonais em boa parte dos cultivos. E nesse contexto o Distrito de irrigação do Jaíba (DIJ), que constitui o maior projeto público de irrigação em área contínua da América Latina, tem como fonte hídrica o Rio São Francisco (ARAÚJO et al., 2007). Segundo o DIJ, uma das empresas responsáveis pela administração do Projeto, o Jaíba possui 86.794,59 ha de área bruta e 65.879,98 ha de área irrigada, sendo a agricultura familiar responsável em ocupar uma área bruta de 32.959,33 ha e 24.669,58 ha de área irrigada. De acordo com Ayers (1991), a agricultura irrigada está ligada diretamente com a quantidade e a qualidade da água. Mas com o grande problema da degradação de leitos, esse fato está se modificando em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil. A falta de informações sistemáticas e completas, quanto à qualidade da água, ocasionará o consumo de águas de padrões inadequados proporcionando efeitos adversos nas propriedades físicas e químicas dos solos e contribuindo nos baixos rendimentos das culturas (MAIA et al., 1998). Define-se como qualidade da água suas características físico-químicas (maior importância para a irrigação) e microbiológicas. Segundo Ayers (1991), a composição e a qualidade da água estão ligadas diretamente com a zona climática, a fonte de origem, o percurso, a época do ano (seca ou cheia) e a geologia da região (stumm, 1996). O conhecimento da qualidade da água torna-se uma ferramenta de grande importância no planejamento da exploração desse recurso (LIBÂNIO,2005)quando esta se destine à utilização na irrigação.

MATERIAL E MÉTODOS: Os dados de análise físico-química da água foram obtidos no banco de dados da CODEVASF/ SRE MONTES CLAROS, MG oriundos de relatórios anuais de análises de água do Projeto Jaíba de irrigação. O Projeto Jaíba constitui-se de um canal principal (JAIBÃO) e suas ramificações que são abastecidos por uma estação principal de bombeamento, que está ligada diretamente a uma transposição à margem direita do Rio São Francisco. Os pontos amostrados foram escolhidos por estarem dentro da área da agricultura familiar. Esse pontos estão localizados em canais principais e secundários da Etapa 1 (um) do Distrito de Irrigação do Jaíba, Norte de Minas Gerais. Os dados estudados são referentes aos meses de outubro a novembro (início das cheias) de anos de 2007 a 2010. Os pontos de coletas estão dispostos de acordo com o percurso dos canais, desde a entrada na estação de bombeamento principal e em diversos pontos ao longo dos canais. A coleta consiste na captação da água nos pontos específicos escolhidos aleatoriamente e previamente georrefe- renciados. As amostras foram acondicionadas em recipientes hermeticamente fechados e de cor preta e enviadas para análise, obedecendo as normas da ABNT e das metodologias do 21ª edição do livro Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Os parâmetros escolhidos foram: ph, turbidez, condutividade elétrica, alcalinidade, cálcio, magnésio, sódio, nitrogênio orgânico, sólidos dissolvidos totais, coliformes fecais e a relação de adsorção de sódio (RASaj), por serem parâmetros importantes para irrigação e degradação/conservação do solo. Para cada parâmetro avaliado foi calculada a média durante o período de coleta, 2007 a 2010, para cada ponto amostrado. Foram construídos gráficos demonstrando as variações para principais parâmetros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os valores máximos e mínimos encontrados na área em estudo, independente do ponto de ocorrência, estão relacionados na Tabela 1. Em relação ao pH a água estudada é classificada como de risco médio para entu- pimento do sistema de irrigação com um pH entre 7 e 8 (NAKAYAMA, 1982; AYERS et al. 1985). Em relação à turbidêz é compatível com as classes 1, 2 e 3 pela classificação da COPAM ( 2008). Os valores de sólidos totais dissolvidos, condutividade, alcalinidade, cálcio e magnésio a água é branda com baixos teores de carbonatos e bicarbonatos e outros sais. Portanto não apresenta problemas de entupimento dos emissores do sistema de irrigação, sem problemas de salinização do solo, podendo ser utilizada na maioria dos cultivos e em todos os tipos de solo. A FAO (1973) recomenda para a irrigação valores de cálcio de 10 a 20 mg.L- 1, magnésio 0 a 10 mg.L-1. Os valores de nitrogênio orgânico são muito superiores ao valor máximo de 10mg.L-1 recomendado pela FAO(1973) para consumo humano. Isso indica uma contaminação contínua nos canais por dejetos humanos e/ou animais,pois o nitrogênio orgânico é indicativo de contaminação recente. As algas presentes nos canais devido à fertilização por N, podem provocar a perda de eficiência dos sistemas de irrigação e a problemas de saúde devido à presença das cianotoxinas. Praticamente todos os pontos amostrados apresentaram valores de coliformes totais, inferiores ao determinado para classes de água (Classe 1, Classe 2 e Classe 3). Apenas um dos pontos apresentou 4500 UFC, sendo considerada imprópria para consumo humano e para irrigação de acordo COPAM (2008) e a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde que recomendam ausência de Coliformes Totais para consumo humano e até 4000 UFC/100 mL para água de Classe 3.

Figura 1

Variação dos valores dos parâmetros da qualidade da água nos canais de irrigação do projeto jaíba

CONCLUSÕES: A qualidade físico-química da água do projeto Jaíba não apresenta restrições quanto à obstrução de sistemas de irrigação e degradação do solo. Entretanto o Projeto Jaíba passa por um processo de contaminação de seus canais devido à ação antropogênica de caráter desordenado com evidência de contaminação por esgoto doméstico e efluentes de instalações zootécnicas, o que poderá levar a restrições de seu uso para consumo humano e para irrigação.

AGRADECIMENTOS: CODESVASF/MG, ICA/UFMG

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALMEIDA, O. A. Qualidade da água na irrigação. Cruz das Almas BA: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2010.
APHA, AWWA, WPCF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 21 ed. Washington: D.C. 2005.
ARAUJO, T.C.A.; DIAS GODRIM, M.D.; VANDERLEY SOARES SOUZA, V.S. A organização social da agricultura familiar do Projeto Jaíba – MG como desafio para o desenvolvimento local sustentável. disponível em: http://www.sober.org.br/palestra/6/333.pdf. Acessado dia 05 de maio de 2011.
AYERS, R.S.; WESTCOT, D.W. A qualidade da água na agricultura. Campina Grande: UFPB. 1991, 218p.
COPAM/CERH-MG nº 01; Deliberação Normativa Conjunta de 05 de maio de 2008. http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=8151
FAO. La conservación de las tierras en América Latina. Disponível em: www.fao.org/ag.esp/revistas/spot4.htm 1998a. Acesso em: 05/05/2007
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade de água. Campinas, SP: Ed. Átomo, 2005.
MAIA, C.E.; MORAIS, E.R.C.; OLIVEIRA, M. Qualidade da água para irrigação em amostras analíticas do banco de dados do departamento de solos e geologia da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Mossoró – RN. Caatinga, Mossoró-RN, 11(1/2):75-83, dez. 1998.
STUMM, W.; MORGAM, JAMES J. Aquatic chemistry: Chemical Equilibria and Rates in Natural Waters, 3ed. John Wiley. New York, NY. 2022 p., 1996.