ÁREA: Ambiental
TÍTULO: COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS PROVENIENTES DE COMBUSTÍVEIS AUTOMOTIVOS: Visão dos frentistas que trabalham em cidades do Recôncavo Sul e do Vale do Jiquiriçá, Bahia, sobre seus efeitos na saúde.
AUTORES: Guedes dos Santos, G.L. (UFRB) ; Gomes Ferraz, C. (UFRB) ; Souza Silva, C. (UFRB) ; Cruz dos Santos, C. (UFRB) ; Mota Almeida, G. (UFRB) ; Souza Cardozo Rodrigues, M. (UFRB) ; Santos de Jesus, M. (UFRB) ; Santos da Silva, J.R. (UFRB) ; Souza dos Santos, A.C. (UFRB) ; Moura Peixoto de Jesus, A. (UFRB) ; Brandao dos Santos Bastos, T. (UFRB) ; Lima Chaves, J. (UFRB) ; Novaes Peixoto, J. (UFRB) ; Oliveira da Silva, F. (UFRB) ; Sena Gomes Teixeira, L. (UFBA)
RESUMO: A presente pesquisa tem como elemento de investigação a visão dos frentistas sobre os problemas de saúde causados pelos compostos orgânicos voláteis emitidos por combustíveis em postos de combustíveis em cidades do Recôncavo Sul e do Vale do Jiquiriçá, Bahia. O estudo apresenta caráter investigativo, com pesquisa de campo exploratória de base quali-quantitativa que descreve o dia-a-dia profissional dos frentistas. Além das doenças ocupacionais que são manifestadas no contexto do trabalho, existe o risco constante de contaminação ambiental, explosões, incêndios, assaltos etc. Assim, o escopo desta pesquisa é fazer uma reflexão crítica sobre o conhecimento dos frentistas quanto à qualidade do seu labor e saber como se pode intervir para uma melhor qualidade do trabalho destes profissionais.
PALAVRAS CHAVES: Combustíveis; Frentistas; Saúde
INTRODUÇÃO: No Brasil existem cerca de 38.338 postos que envolvem a revenda de combustíveis e abastecem diariamente milhares de veículos automotores, o principal meio de transporte nacional (ANP, 2012). Segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), postos revendedores de combustíveis são instalações que revendem de forma varejistas combustíveis líquidos derivados do petróleo, álcool combustível e outros combustíveis (CONAMA, 2012).
Estes estabelecimentos, em geral, empregam diversos trabalhadores, dentre eles destacam-se os frentistas, que estão diariamente expostos aos compostos orgânicos voláteis (COV), oriundos de diversos combustíveis potencialmente perigosos, muitas vezes sem nenhum tipo de equipamento de proteção individual (EPI), durante a sua atividade diária de abastecimento. Além disso, estes COV, muitas vezes, são confinados em locais como caixas, barris, subsolo de edificações, dentre outros ambientes, podendo causar acidentes como incêndio, explosão e contaminação ambiental (GOUVEIA e NARDOCCI, 2007).
Neste trabalho, verificou-se como os frentistas percebem os possíveis efeitos que os compostos orgânicos voláteis emitidos pelos combustíveis fósseis utilizados no abastecimento dos automóveis podem comprometer sua saúde e seu comportamento a curto e longo prazo, além de entender as práticas de gestão de recursos humanos utilizadas. Compreendendo o problema sob o ângulo de visão dos frentistas, pode-se perceber sua relação com o trabalho e, a partir das análises, identificar quais os aspectos mais relevantes em relação à saúde, os fatores relacionados à exposição dos frentistas aos COV e uma possível ação de implantação de cursos de biossegurança. Os dados coletados são apresentados estatisticamente através de gráficos e interpretados à luz da literatura.
MATERIAL E MÉTODOS: Um estudo prospectivo qualitativo/quantitativo foi realizado em um período de oito meses, entre os meses de setembro de 2011 e maio de 2012. Foram entrevistados 23 frentistas que trabalham em onze postos de combustíveis distribuídos nas cidades de Amargosa, Mutuípe, Jiquiriçá, Varzedo, São Miguel das Matas, Elísio Medrado, Brejões e São Felipe, pertencentes ao Recôncavo Sul e ao Vale do Jiquiriçá, Bahia. Foram investigados indivíduos do sexo masculino e feminino, com idade variando de 20 a 46 anos de idade. Os participantes foram informados sobre o objetivo e metodologia da pesquisa, e após os devidos esclarecimentos, os frentistas que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Eles foram informados sobre a relevância do estudo para a saúde e que eles estavam resguardados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que garantia o sigilo dos dados tratados de forma absoluta.
A pesquisa foi dividida em três etapas: i) Caracterização do grupo de estudo; ii) Locais de pesquisa; e iii) Análise estatística, conforme metodologia proposta por Portes (PORTES, 2007). Para caracterizar o grupo, os pesquisadores aplicaram questionários com perguntas fechadas no próprio local de trabalho, com o devido consentimento do proprietário do estabelecimento. Os locais de pesquisa foram determinados após concordâncias dos proprietários, mediante assinatura de Termo de Intenção de Pesquisa. As cidades selecionadas estão nas circunvizinhanças de Amargosa, sede do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Os resultados obtidos através da aplicação do questionário são apresentados em forma de gráficos, com valores percentuais ou absolutos para cada variável investigada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para a obtenção dos resultados desta pesquisa foram entrevistados 23 frentistas. Destes, 87% foram do sexo masculino e 77% possuíam idade entre 20 e 30 anos. Os resultados apontaram que 78% dos entrevistados tinham consciência que o contato diário com os vapores dos combustíveis poderia afetar sua saúde. De acordo com a Figura 1, pode-se verificar que 100% dos entrevistados apontaram que o combustível pode penetrar em seu copo pela pele através das mãos e 48% assinalaram que a contaminação pode ocorrer também pelo nariz. Os entrevistados puderam optar por mais de uma resposta. O contato dos combustíveis através da pele ou por inalação pode causar irritação aos olhos, nariz e garganta, tonteiras, ressecamento e dermatite. Sendo assim, os frentistas estão diretamente suscetíveis a estes problemas e a outras alterações descritas na literatura (PETROBRAS, 2012; MACFARLAND et al., 1984). Quando estão em contato com os combustíveis durante uma jornada de trabalho, constatamos que cerca de 40% dos frentistas sentem algum tipo de alteração em seu corpo. Na Figura 2 os principais sintomas relatados pelos frentistas que perceberam alguma alteração são: dor de cabeça e irritação do nariz. Dos COV presentes na atmosfera de postos de combustíveis, o benzeno é comprovadamente cancerígeno segundo algumas agências de saúde ocupacional e estudo sobre o câncer (LYNGE et al., 1997; IARC, 2012; NIOSH, 2012). Estes sintomas expressados estão, possivelmente, relacionados com o contato direto com os vapores que são inalados ou absorvidos pela pele. A exposição a vapores de gasolina a níveis acima de 100 ppm, por um período de um ano, podem causar sérias lesões pulmonares (PORTES, 2007; LYKKE e STEWART, 1978).
FIGURA 1: Partes do corpo humano expostas aos combustíveis.
Na Figura 1, são mostrados os resultados das respostas dos frentistas em relação às partes do corpo que são expostas ao contato com os combustíveis.
FIGURA 2: Alterações percebidas no corpo humano.
Na Figura 2 são apresentadas, de forma absoluta, as principais alterações no corpo relatadas pelos frentistas.
CONCLUSÕES: A análise dos dados mostrou que a maioria dos frentistas conhece os riscos a saúde originados pela exposição diária aos COV. A contaminação por inalação ou via cutânea pode causar doenças como câncer. A presença de COV na atmosfera de postos de combustíveis indica a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre os riscos do contato com os vapores emitidos pelos combustíveis. O presente estudo serve como um ponto de partida para a oferta de cursos de Biossegurança e Meio Ambiente para os frentistas, na tentativa de acentuar a segurança e a melhorar qualidade de vida destes profissionais.
AGRADECIMENTOS: Aos proprietários dos postos de combustíveis das cidades envolvidas neste projeto e aos frentistas que contribuíram voluntariamente com esta pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANP – Agência Nacional do Petróleo, disponível em www.anp.gov.br/, acessado em 6 de julho de 2012.
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente, disponível em www.mma.gov.br/port/conama/, acessado em 6 de julho de 2012.
GOUVEIA, J. L.N.; NARDOCCI, A. C.; Acidentes em postos e sistemas retalhistas de combustíveis: subsídios para a vigilância em saúde ambiental, Engenharia Sanitária e Ambiental, 12, 3, Jul/Set 2007, 317.
IARC – International Agency for Research on Câncer, disponível em www.iarc.fr/, acessado em 6 de julho de 2012.
LYKKE, A.W.; STEWART, B.W., Fibrosing alveolitis (pulmonary interstitial fibrosis) evoked by experimental inhalation of gasoline vapours, Biomedical and Life Sciences, 34: 498-508.
LYNGE, E.; ANDERSEN, A.; NILSSON, R.; BARLOW, L.; PUKKALA, E.; NORDLINDER, R.; BOFFETTA, P.; GRANDJEAN, P.; HEIKKILA, P.; HBRTE, L.; JAKOBSSON, R.; LUNDBERG, I.; MOEN, B.; PARTANEN, T.; RIISE, T.; Risk of Cancer and Exposure to Gasoline Vapors, American Journal of Epidemiol, 145: 449-458.
MacFARLAND, H. N.; ULRICH, C. E.; HOLDSWORTH, C. E.; KITCHEN, D. N.; HALLIWELL, W. H.; BLUM, S. C.; A Chronic Inhalation Study with Unleaded Gasoline Vapor, International Journal of Toxicology, 3: 231-248.
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego, disponível em www.mte.gov.br/, acessado em 6 de julho de 2012.
NIOSH – The National Institute for Occupational Safety and Health, disponível em www.cdc.gov/niosh/, acessado em 6 de julho de 2012.
PETROBRAS, Petróleo Brasileiro S.A., Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico – FISPQ, disponível em www.petrobras.com.br/, acessado em 6 de julho de 2012.
PORTES, M. N., Percepção dos frentistas de postos de combustíveis sobre as repercussões de sua atividade profissional na sua saúde, na cidade de Uberaba. Dissertação (Mestrado em Química), Universidade Federal de Uberlândia, 2007.