ÁREA: Ambiental
TÍTULO: Estudo ecotoxicológico do hidrolato de pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke) em tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier,1818).
AUTORES: Silva, G.F. (UFAM/UEA) ; Reis, D.C. (UEA) ; Vieira, F.T.C. (IFAM) ; Vieira, M.J.C. (UEA) ; Barata, L.E.S. (UNICAMP/UFOPA) ; Oliveira, E.S. (UEA) ; Albuquerque, P.M. (UEA)
RESUMO: Ecotoxicologia é um termo empregado para descrever o estudo científico dos
efeitos adversos causados nos organismos vivos por substâncias xenobióticas. A
indústria de óleos essenciais constantemente descarta seus resíduos diretamente
nos rios, acreditando que por se tratar de produtos naturais, não impactam o
ambiente aquático. Neste estudo, foram utilizados tambaquis como bioindicadores,
expostos por 96 h ao hidrolato de pau rosa a 1,0%. Após coletadas as amostras
sanguíneas, realizou-se o ensaio de ANE e determinou-se a concentração de
hemoglobina. Os resultados demonstram um alto efeito genotóxico do hidrolato,
devido ao aumento no número de anormalidades nucleares, e ao aumento
significativo na concentração de hemoglobina, ocasionada pela dificuldade de
trocas gasosas com o meio.
PALAVRAS CHAVES: Aniba roseodora; hidrolato; bioindicadores
INTRODUÇÃO: O óleo essencial de pau-rosa tem sido utilizado há décadas pela indústria de
perfumaria internacional (DISCOLA e BARATA, 2003). Os óleos essenciais de pau-
rosa são geralmente obtidos por arraste a vapor, onde se obtém o óleo essencial
como produto e o hidrolato como resíduo líquido (LUPE e BARATA, 2007). Os
hidrolatos, também conhecidos como “hidrossóis”, águas florais ou águas
aromáticas, consistem em soluções aquosas contendo principalmente a água da
destilação (ou água proveniente de outros processos, como prensagem) e traços do
óleo volátil. Apesar do baixo teor de óleo volátil nessa solução, este é
suficiente para lhe conferir um forte aroma (SOUZA, et al., 2007). Na indústria
de extração de óleos essenciais, este subproduto é liberado diretamente nos
rios, sem qualquer tratamento, podendo causar danos ao ambiente aquático. Com
tal contaminação, ensaios ecotoxicológicos se fazem necessários, mesmo que tal
substância seja oriunda de produtos naturais. Ensaios utilizando bioindicadores
são considerados excelentes ferramentas no monitoramento ambiental aquático
BRANDÃO et al., 2009). Por ser considerado de fácil adaptação, o tambaqui
(Colossoma macropomum) utilizado como organismo bioindicador (MENDONÇA,
2009). Portanto, neste trabalho buscou-se avaliar o efeito genotóxico, associado
a mutações cromossômicas, por meio do ensaio de anormalidades nucleares
eritrocíticas (ANE), bem como parâmetros respiratórios, determinando a
concentração de hemoglobina no sangue. O pau-rosa tem importância socioeconômica
para a região Amazônica e há interesse em avaliar o potencial tóxico do seu
hidrolato para contribuir com uma exploração sustentável desta espécie.
MATERIAL E MÉTODOS: Os peixes foram aclimatados em tanques de 1000L com aeração costante e com
sistema de filtração mecânica, sendo renovada a água em 10% diariamente. Os
tambaquis foram alimentados duas vezes ao dia até o sanciamento dos mesmos com
ração comercial extrusada, sendo suspensa por 48 h antes e durante o
experimento. Após a aclimatação, três grupos de 6 peixes cada, foram separados e
numerados em câmaras individuais com capacidade de 4L. Foi realizada a avaliação
de toxidade aguda durante 96h com aeração constante e sem renovação das
concentrações. As características fisico-químicas foram medidas diariamente (pH,
temperatura e oxigênio dissolvido). Após o período de 96h os animais foram
anestesiados com mentol e coletou-se o sangue por punção da veia caudal,
tranferindo-o para tubos contendo EDTA como anticoagulante. O sangue coletado
foi utilizado para análise hematológica e genotóxica. A concentração de
hemoglobina (Hb) foi determinada através do método cianomethohemoglobina
(ROWAN,1996), e consistiu em diluir 10 µL de sangue em 2 mL da solução Drabkin,
e após a agitação em vortex e um tempo de 20 minutos de hemólise, a absorbância
foi determinada em 540 nm. A concentração de Hb foi determinada pela fórmula: Hb
g/dL)=ABS(540nm)x0,146xdiluição da amostra. Para a avaliação das anormalidades
eritrocíticas (ANE) foram feitos esfregaços sanguíneos em lâminas microscópicas.
Os esfregaços foram fixados com metanol P. A. e coloridas com May-Grunwald e
Giensa. Após a secagem foram levados ao microscópio com aumento resolutivo de
1000x e contadas 1000 células para observação e contagem da porcentagem de
anormalidades presentes. Os dados obtidos foram avaliados e submetidos à análise
de variância ANOVA, seguida do teste de Tukey para comparação entre as médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A qualidade da água durante o experimento apresentou as seguintes
características: O2 dissolvido = 6,77 ± 0,34 mg/L, temperatura de
26,51 ± 0,14°C e pH de 7,11 ± 0,21. Os peixes apresentaram, em média, 60,1 g e
14,5 cm. Analisando a Figura 1, pode-se observar um aumento estatístico
significativo do grupo tratamento exposto ao hidrolatode pau rosa a 1,0% (v/v),
quando comparado ao grupo controle. A exposição dos peixes ao hidrolato aumentou
a frequência de danos nucleares. Os micronúcleos, dentre as anormalidades
nucleares, são massas de cromatinas com aspectos de pequenos núcleos,
constituídos principalmente por fragmentos cromossômicos ou por cromossomos
retardados durante a migração anafásica (PORTO et al., 2005). A presença dessas
anormalidades é um fenômeno natural, porém as exposições a compostos genotóxicos
aumentam a sua freqüência nas células e só apareceram após um ciclo de divisão
celular (SALVADORI et al., 2003) e estão ligados ao estresse oxidativo. A Figura
2 apresenta a diferença na concentração de hemoglobina entre tratamento e
controle. A medida da hemoglobina o sangue é um dos testes clínico-laboratoriais
mais comuns que existem. É usado de forma indireta, para avaliar a capacidade do
sangue de transportar oxigênio(KAMPEN e ZIJLSTRA, 1964). A concentração de
hemoglobina teve seus valores aumentados na presença do hidrolato na
concentração de 1,0% por 96 h. Notou-se um aumento da produção de muco nos
peixes, o que pode ter dificultado as trocas gasosas levando o organismo a
produzir mais hemoglobina como forma de compensação respiratória.
ANE
[Hemoglobina]
CONCLUSÕES: De acordo com os resutados obtidos, verificou-se um aumento significativo das
anormalidade nucleares eritrocíticas, levando-nos a conclusão de que o hidrolato
de pau rosa a 1,0% possui efeitos genotóxicos, que podem promover danos em nível
molecular ao organismo aquático. Aumento na concentração de hemoglobiana também
foi evidenciada, propondo-nos que o hidrolato dificulta as trocas gasosas com o
meio ambiente, mesmo com uma concentração considerada baixa. Portanto, o hidrolato
de pau-rosa não deve ser descartado diretamente nos rios, tendo em vista possíveis
danos aos organismos aquáticos.
AGRADECIMENTOS: A FAPEAM pela bolsa concedida, CNPq, UEA e SEDUC.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRANDÃO, V. M.; OLIVEIRA, C. P. F.; SILVA, M. N. P.; FIGUEIREDO, R. O.;DOMINGOS, F. X. V.; VAL, V. M. F. A., 2009. Atividade de enzima glutationa s-transferase como Biomarcador exposição ao petróleo em peixes Amazônicos. 61ª Reunião Anual da SBPC Amazônia: Ciência e Cultura, UFAM, Manaus, AM. DISCOLA, K. F.; BARATA, L. E. S. 2003. Estudo fitoquímico comparativo do óleo essencial das folhas de pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke) de cultivos e da floresta Amazônica. XI Congresso Interno de Iniciação Científica da UNICAMP. KAMPEN, E. J.; ZIJLSTRA, W. G. Standartization of Haemoglobinometry. In: DE BOROVICZÉNY, C. G., 1963. (Ed.). Erythrocytometric methods and their stardartization. Transactions of the Standardizing Committee and Proceedings of Symposium 18 of the 9th Congress of the European Society of Haematology, Lisbon, New York: Basel, 1964. LUPE, F. A. C.; BARATA, L. E. S., 2007 Estudo da composição química de óleos essenciais de plantas aromáticas da Amazônia. 120 f. Dissertação de Mestrado–Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, SP. MENDONÇA, P. P.; FERREIRA, R.A.; JUNIOR, M.V.; ANDRADE, D.R.; SANTOS, M.V. B.;FERREIRA,A.V.; REZENDE, F.P., 2009. Influência do fotoperíodo no desenvolvimento de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomun). Archivos de zootecnia, vol. 58, núm. 223, p. 324. PORTO, J. I. R.; ARAÚJO, C. S. O.; FELBERG, E. 2005. Mutagenic effects of mercury pollution as revealed by micronucleus test on three Amazonian fish species. Environmental Research, 97,287-292. ROWAN, R. M., 1996. Recommendations for reference method for haemoglobinometry in human blood (ICSH standard 1995) and specifications for international haemiglobincyanide standard (4th edition), Clin Pathol; 49:271-274. SALVADORI, D. M. F.; RIBEIRO, L. R.; FENECH, M. 2003. Teste de micronúcleo em células humanas in vitro. In: RIBEIRO, L. R.; SALVADORI, D. M. F.; MARQUES, E. K. (Orgs.). Mutagênese Ambiental. Canoas: Ulbra, p. 201-220. SOUZA, K. S.; CHAAR, J. S.; OLIVEIRA, K. M. T.; GOMES, E. O.; PORTELA, C. N.; POHLIT, A. M.; QUIGNARD, E, L. J.; NUNOMURA, S. M.; TADEI, W. P.; MOUCHREK FILHO, V. E.; SILVA, D. D., GALHIANE, M. S.; CHIERICE, G. O. 2007. Atividade biológica de extratos, hidrolatos e óleos voláteis de pau-rosa (Aniba duckei Kostermans) e quantificação do linalol no hidrolato de folhas. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, 9:2, 1-7.