ÁREA: Ambiental

TÍTULO: GEOQUÍMICA DA ÁGUA PRETA DE RIOS DO MUNICÍPIO DE APUÍ, AMAZONAS

AUTORES: Lages, A.S. (UFAM) ; Horbe, A.M.C. (UFAM)

RESUMO: O presente estudo avaliou aspectos geoquímicos das águas pretas do município de Ápuí, sudeste do Amazonas. Foram efetuadas dez coletas mensais, entre abri de 2009 e janeiro de 2010. Foram amostrados os rios Aripuanã, Jatuarana, Juma, Acari, Camaiú e Sucunduri, dois igarapés ao longo da estrada e uma nascente. Os íons maiores foram analisados por cromatografia de íons e metais-traço por ICP-MS. As amostras foram agrupadas em quatro períodos sazonais. As águas estudadas podem ser classificadas como silicáticas e potássicas em todas as drenagens. Na nascente há predomínio de NO3 em relação ao demais íons. Dentre os metais-traço, Fe, Al são os mais abundantes, exceto no período chuvoso, quando o Zn é o mais concentrado.Há indicativo de influência carbonática o que caracteriza água brancas.

PALAVRAS CHAVES: águas nitratadas; desbalanço de cargas; intemperismo químico

INTRODUÇÃO: O Estado do Amazonas é o maior detentor de reservas de água doce do mundo. As bacias dos rios Negro, Madeira, Jatapú, Nhamundá e o sistema Solimões-Amazonas perfazem a principal rede hidrográfica do território. As águas dos rios da região são classificadas em três grandes grupos: águas brancas, águas pretas e águas mistas. As águas brancas são provenientes de regiões andinas. Essas águas possuem pH próximo da neutralidade, com predomínio de íons cálcio e magnésio. O segundo grupo é formado pelas águas pretas. São ácidas, com alto teor de matéria orgânica alóctone da floresta. Apresentam predomínio de sódio e potássio, resultado da lixiviação de terrenos geológicos antigos. E por fim, as águas mistas, que são resultado da mistura das águas brancas e pretas. O maior exemplo na região é o rio Amazonas. As águas desses rios apresentam valores de pH próximos à neutralidade, com química semelhante aos rios de água branca (STALLARD e EDMOND, 1983; LENNHER, 1997). Os rios de Apuí se enquadram pela aparência inicial, no perfil das águas pretas. Concentrações de bicarbonato são muito baixas nesses tipos de água (SMOLDERS et al, 2004). Como as concentrações de metais alcalinos são significativas, deduz-se que outros ânions sejam responsáveis pelo balanço de cargas inorgânicas, provavelmente oriundos da matéria orgânica alóctone da floresta. A avaliação desse ecossistema de águas pretas permitirá avaliar o balanço de cátions e ânions, a sazonalidade das águas em função do período hidrológico (cheia e vazante) e a influência das águas da chuva e subterrânea na composição química dos rios, para a identificação de variações químicas em relação ao tamanho da drenagem e em relação à geologia da área.

MATERIAL E MÉTODOS: Neste trabalho, realizaram-se coletas mensais de água de rio no município de Apuí, entre abril de 2009 e janeiro de 2010, ao longo da BR-230, entre os rios Aripuanã e Sucunduri. Foram amostrados os rios Aripuanã (1), Jatuarana (2), Juma (5), Acari (6), Camaiú (7) e Sucunduri (8), além de uma nascente (9) onde é explorada água mineral e dois igarapés, afluentes dos rios Jatuarana e Juma. No mês de maio não houve coleta na nascente de água. As amostras foram coletadas no meio do rio a 20 cm de profundidade, com auxílio de uma canoa, naqueles onde havia ponte esta foi utilizada como apoio. Cada amostra foi coletada com uma seringa de 100 ml e filtrada em um millex de 0,45 µm de poro. As amostras foram acondicionadas em frasco de polietileno, previamente lavado com HNO3 a 10% e lavadas com água miliq. Como preservante de cátions e ânions foi adicionado, aproximadamente 0,02 g de timol. Para análise de elementos-traço, colocou-se duas gotas de ácido nítrico da MERCK bidestilado, para reduzir o pH e evitar precipitação. O pH e a condutividade elétrica foram determinados por métodos eletroquímicos e calibrados com soluções padrão. A alcalinidade foi analisada por volumetria de neutralização, com H2SO4, na concentração de 0,02 N até pH 4,3, Os valores foram expressos em miligramas de bicarbonato. O oxigênio gasto para consumir a matéria orgânica foi determinado pela análise de DQO (Demanda Química de Oxigênio), a partir da volumetria de oxi-redução com KMnO4 na concentração de 0,01 N. A turbidez foi medida com auxílio de um turbidímetro digital e os valores expressos em UNT. O SiO2-4 foi determinado por espectrofotometria e cátions e ânions por cromatografia de íons - DIONEX. Os elementos-traço foram analisados por ICP-MS.(APHA, 2005; GOLTERMAN, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As águas estudadas são de cor preta pela clássica classificação de SIOLI (1958), embora elas se diferenciem em muitos aspectos físico-químicos. São águas com baixa turbidez, ácidas (pH de até 3,2) e pouco condutivas (entre 23,1 e 64,6 µS/cm), especialmente na transição para a estiagem (maio). O TDS de 6.000 a 14.000 µg/L indicam águas diluídas que podem ser classificadas entre muito diluídas (∑+<0,375) a extremamente diluídas (∑+<0,185– MEYBECK, 1979). Esses indicadores são comparáveis a outros rios semelhantes (GAILLARDET et al. 1997, TOSIANI et al 2004 e QUEIROZ et al, 2008). Caracterizam-se pelo desequilíbrio de cargas (NBCI entre 0,1 e 0,9) com predominância de cátions sobre ânions. O desequilíbrio de cargas é atribuído a íons orgânicos, como formaldeídos e acetatos. Contudo, na nascente, os teores mais elevados em NO3 permitem o melhor balanço de cargas (NBCI entre -0,2 e -0,4), inclusive com predominância de cargas negativas sobre as positivas. Há influência do ciclo hidrológico na dinâmica química dessas águas. O SiO2 é sempre mais elevado o que classifica as águas como silicáticas, e dentre os cátions há predominância de K e entre os ânions NO3 e secundariamente Cl permite também classificá-las como potássicas e nitratadas. Entre os períodos K, Ca, Cl, SO4 são mais elevados na transição para a estiagem o que corresponde a maior TDS. NO3 é mais concentrado na transição para a estiagem. O Fe é em geral o elemento-traço mais concentrado, seguido do Al, mas essa tendência é alterada no período chuvoso, quando o Zn supera o Fe nos rios Aripuanã, Juma e Igarapé 1. O Na se diferencia por ter baixa concentração na transição para a estiagem. A nascente se caracteriza por elevadas concentrações de NO3, seguido por SiO2 e Na e dentre os elemento-traço o Al é mais elevado.

CONCLUSÕES: As águas estudadas podem ser classificadas como silicáticas e potássicas e em todas as drenagens há predomínio de cátions sobre os ânions. O SiO2 é o constituinte mais abundante, K é o segundo e predomina no período chuvoso, enquanto Ca na transição para o chuvoso. Dentre os elementos-traço, os mais concentrados são Fe e Al nas drenagens, exceto no período chuvoso, quando Zn é o mais concentrado. Os locais amostrados têm similaridades com as rochas silicáticas do cráton, mas há influência carbonática no Jatuarana e Sucunduri o que caracteriza afinidade deles com as águas brancas amazônicas.

AGRADECIMENTOS: À Capes, pela concessão de bolsa de pós-gradução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: APHA. Americam Publica Helth Association –. Standard Methods of the Experimination of Water and Waster water. New York. 14 ed.
GAILLARDET. J; DUPRÉ, B; ALLEGRE. J, C; NEGREL, P. 1997. Chemical and physical denudation in the Amazon River Basin, Chemical Geology 142: 141-173.
GOLTERMAN, H,L. 2002. Methods for Chemical Analysis of Fresh Water, Oxford. Blackwell Scientific Publications, 160 p (IBP Handbook, 8).
LENNHER, J. A. 1997. Origin and Nature of Humic Substances in the Waters of the Amazon River Basin. Acta Amazônica, 10: 513-526.
MEYBECK, M. 1979. Concentrations des eaux fluviales en elements majeurs et apports en solution aux oceans. Rev Geology 21: 215-246.
QUEIROZ, M.M; HORBE, A.M.C; SEYLER, P; MOURA A, C. A. V. 2008. Hidroquímica do rio Solimões entre Manacapuru e Alvarães-Amazonas-Brasil. Acta Amazônica 68: 48-52.
SIOLI, H. 1958. Valores de pH de águas da Amazônia, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, 1: 1-18.
SMOLDER, A. J. P; Hudson-Edwards. K.A; Van Der Velde, G; Roelofs, J. 2004. Control on Water Chemistry of the Pilcomayo river (Bolivia, South-America). Applied Geochemistry 19: 1745-1758.
STALLARD, R. F; EDMOND, J. M. 1983. The influence of Geology and Weathering Enviroment on the dissolved load. Journal of Geophisical Research 88: 9671-9688.
TOSIANI, T; LOUBERT, M; VIERS, J; VALLADON, M; Tapia, J; MARRERO, S; YANES, C; RAMIREZ, A; DUPRÉ, B. 2004. Major and trace elements in river-borne materials from the Cuyuni basin (southern Venezuela): Evidence for organo colloidal control on the disolved load and element redistribution between the suspended an disolved load. Chemical Geology 211: 305-334.