ÁREA: Ambiental
TÍTULO: Dessorção e Recuperação de Resíduos Laboratoriais Contendo Cromato Tratados com o Pseudofruto do Cajueiro
AUTORES: Medeiros, T.C. (UFC) ; Gomes, M.G. (UFC)
RESUMO: Realizou-se adsorção do cromato contido no resíduo líquido do método de Mohr por
contato com a fibra do bagaço do caju seco. Foram testadas três soluções com o
intuito de promover a dessorção do cromo: NaOH 1,00 mol/L, KClO3 1,00
mol/L e EDTA 0,05 mol/L (sob aquecimento). Observou-se que a melhor solução para
dessorção do cromo foi o EDTA sendo, portanto este usado na recuperação do cromo
adsorvido na fibra do caju. Em média 81,97±0,57% do total de cromo do resíduo foi
adsorvido. Todo o cromo restante que não foi adsorvido (18,03±0,57%) se apresentou
na forma de Cr III, menos tóxico que o ânion cromato. Conseguiu-se dessorver
16,70±0,78% na forma do complexo CrIII-EDTA que pode ser utilizado como insumo
pelos próprios laboratórios que geram o resíduo.
PALAVRAS CHAVES: Dessorção; Cromo; Caju
INTRODUÇÃO: A remoção de metais em efluentes é feita através de uma série processos (AGUIAR
et al., 2002). Devido ao alto custo de algumas técnicas, tem crescido o
interesse por métodos eficientes, de baixo custo e que não afetem o meio
ambiente. Várias pesquisas vêm sendo feitas a fim de se utilizar adsorventes ou
trocadores iônicos naturais (BLAIS et al., 2003). Estas pesquisas não podem ser
usadas apenas para transferência de metais de resíduos líquidos para a matriz
sólida do adsorvente. É necessário utilizar a dessorção para recuperar os metais
e se obter um processo mais limpo. O cromo é um metal tóxico usado na fabricação
de aço e outras ligas metálicas, curtimento de couro, eletrodeposição etc.
(RIFKIN et al., 2004). Em química analítica é utilizado dentre outras diversas
formas, como K2CrO4 indicador do método de Mohr, que
consiste na determinação de haletos por titulação de precipitação com
AgNO3. Nos laboratórios de ensino, em cada titulação são gerados
cerca de 100 mL de resíduo líquido que contém as espécies CrO42-
, NO3-, K+, Na+, traços de Ag+
e outras espécies provenientes da matriz da amostra. O resíduo sólido é
composto principalmente de AgCl e AgCrO4. Uma turma com 30 alunos
gera por volta de 3 litros de resíduo em uma única aula prática. Como esta
prática é aplicada em vários cursos de graduação o volume de resíduo gerado
chega a níveis alarmantes, sendo um problema recorrente a falta de espaço para
acondicionamento dos mesmos. Em trabalhos anteriores foi feito estudo do
tratamento do resíduo obtendo excelentes resultados de adsorção do cromo pelo
bagaço de caju. Este trabalho objetivou desenvolver metodologia de dessorção do
cromo contido no bagaço.
MATERIAL E MÉTODOS: O resíduo líquido do método de Mohr foi filtrado e evaporado em chapa aquecedora
até 15% do volume inicial para pré-concentração e maior facilidade de estocagem.
O resíduo sólido foi guardado em recipiente separado. A adsorção foi realizada
em condições otimizadas previamente. Foram colocados em contato 2,0 g de caju
(20-60 mesh) seco em estufa a 65ºC com 15 mL do resíduo líquido de Mohr
concentrado (1500±18 mg/L) em pH 7,0. O sistema foi mantido por 2 horas a uma
velocidade de agitação de 150 rpm. Após adsorção o resíduo foi filtrado e o caju
lavado com água destilada até a solução de lavagem ficar incolor, em seguida
seco em estufa a 110 ºC. Foram feitos ensaios de dessorção colocando-se o caju
em contato com soluções de NaOH 1,00 mol/L, KClO3 1,00 mol/L e EDTA 0,05 mol/L
(sob aquecimento). Após filtração foram feitos teste qualitativos com as
soluções resultantes para verificar a presença de Cr III (complexo violeta
CrIII-EDTA) e Cr VI (precipitado amarelo de BaCrO4 após adição de
BaCl2). O melhor agente de dessorção foi utilizado para análises
quantitativas. O caju após uso em adsorção, lavado e seco foi transferido para
um béquer onde foram adicionados 50 mL de solução 0,05 mol/L de EDTA e levado à
chapa aquecedora por 5 minutos. Após filtração o caju foi novamente lavado, seco
e o processo repetido com nova solução de EDTA de mesma concentração. O teor de
cromo total foi determinado a 357,9 nm em espectrômetro de absorção atômica
Varian AA240FS. O preparo da amostra para análise foi feito tomando-se uma
alíquota da mesma e 1,0 mL de HNO3 e feita a digestão a 120 ºC por 2 h em bloco
digestor. O teor de cromo VI foi determinado por método espectrofotométrico da
difenilcarbazida (APHA, 2005) em 540 nm utilizando espectrofotômetro Varian Cary
50.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A solução de dessorção proveniente do uso de NaOH mostrou resultado positivo
para o teste com BaCl2 (presença de Cr VI), porém apresentou
turbidez. Isto indica que provavelmente o NaOH além de agir como dessorvente,
reage com a lignina e com os taninos do caju formando produtos de reação
solúveis (HON, 1996). O KClO3 é um forte agente oxidante e se
esperava que dessorvesse o cromo na forma do ânion dicromato, porém o mesmo não
foi observado. A solução que apresentou melhores resultados foi o EDTA, que
forma complexo violeta muito estável com o cromo III (logKf = 23,4).
A reação ocorreu em menos de cinco minutos sob aquecimento moderado. A figura 1
mostra as soluções de dessorção obtidas com os três reagentes utilizados. Em
média é adsorvido 81,97±0,57% do cromo total do resíduo no caju. Praticamente
todo o cromo restante no resíduo original líquido (18,03±0,57%), que foi
descartado, está como Cr III na forma de aqua-complexos (KOTA´S; STASICKA, 1999)
ou complexado com ligantes orgânicos solúveis (EVANKO; DZOMBAK, 1997) liberados
pelo adsorvente. Segundo dados de literatura, o Cr III é formado por redução do
CrO42- na superfície do adsorvente (BABEL; KURNIAWAN,
2004; LAKATOS et al., 2002) e por reação com os taninos do caju. Apesar de ter
sido adsorvido 81,97±0,57% do cromo total, conseguiu-se dessorver apenas
16,70±0,78% na forma do complexo CrIII-EDTA nas duas etapas de dessorção. Em
média 65,27±0,77% do cromo total permaneceu na fibra do caju. Isto é um indício
de que o cromo remanescente no adsorvente pode estar na forma de Cr VI que não
reage com o EDTA.
Figura 1
Soluções de dessorção obtidas com (a) NaOH 0,10
mol/L; (b) KClO3 0,10 mol/L; e (c) EDTA 0,05 mol/L.
CONCLUSÕES: A dessorção com EDTA se mostrou de fácil execução, requerendo apenas uma etapa de
aquecimento rápido. Apesar da dessorção não ter sido completa, mostrou-se viável
para recuperação do cromo na forma de complexo com EDTA. Estudos estão sendo
feitos para verificar a viabilidade do complexo CrIII-EDTA para uso em práticas de
laboratório e também sobre a capacidade de reutilização do caju em novo processo
de adsorção.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos à Universidade Federal do Ceará, ao CNPq pela bolsa concedida e à
Embrapa pelas amostras de caju.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AGUIAR, M. R. M. P.; NOVAES, A. C.; GUARINO, A. W. S. 2002. Remoção de metais pesados de efluentes industriais por aluminossilicatos. Quim. Nova, 25: 1145-1154.
AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. 2005. Standard methods for examination of water and wasterwater. 21. ed. Washington: American Public Health Association.
BABEL, S.; KURNIAWAN, T. A. 2004. Cr(VI) removal from synthetic wastewater using coconut shell charcoal and commercial activated carbon modified with oxidizing agents and/or chitosan. Chemosphere, 54: 951-967.
BLAIS, J. F.; SHEN, S.; MEUNIER, N.; TYAGI, R. D. 2003. Comparison of natural adsorbents for metals removal from acidic effluent. Environ. Technol., 24: 205-215.
EVANKO, C. R.; DZOMBAK, D. A. 1997. Remediation of metals-contaminated soils and groundwater. Technology Evaluation Report TE-97-01. Ground-Water Remediation Technologies Analysis Center. Pittsburgh.
HON, D. N. S. 1996. Chemical modification of lignocellulosic materials 1st ed. New York: Marcel Dekker.
KOTA´S, J.; STASICKA, Z. 1999. Chromium occurrence in the environment and methods of its speciation. Environ. Pollut., 107: 263-283.
LAKATOS, J.; BROWN, S. D.; SNAPE, C. E. 2002. Coals as sorbents for the removal and reduction of hexavalent chromium from aqueous waste streams. Fuel, 81: 691-698.
RIFKIN, E.; GWINN, P.; BOUWER, E. 2004. Chromium and sediment toxicity. Environ. Sci. Technol., 38: 267A-271A.