ÁREA: Ambiental

TÍTULO: ESTUDO COMPARATIVO DA BIODEGRADAÇÃO DE COMBUSTÍVEL DE NAVEGAÇÃO ENTRE DOIS CONSÓRCIOS MICROBIANOS

AUTORES: Almeida, D.G. (UFPE) ; Cavalcante, J.P.C.M. (UFRPE) ; Cavalcanti, D.L. (UFPE) ; Silva, M.G.C. (UFPE) ; Sousa, M.F.V.Q. (UFPE)

RESUMO: O presente trabalho objetivou avaliar e comparar a degradação de bunker por dois consórcios microbianos isolados de diferentes locais da Região Portuária de Suape – PE. Os consórcios foram cultivados em frascos contendo meio mineral Bushnell Haas acrescido de 30g/L de NaCl e 3% de bunker (v/v), por um período de 7 dias. Ao final do processo de biodegradação, a porcentagem de degradação do bunker por cada consórcio foi avaliada. Como resultado, o consórcio C1 degradou 25.67% de bunker ao passo que o C3 degradou 48.52%. Portanto, o consórcio C3 mostrou-se ser o mais promissor no processo de degradação do bunker, sendo indicado para aplicações futuras em processos de biorremediação de ambientes contaminados com este combustível.

PALAVRAS CHAVES: Consórcio microbiano; Biodegradação; Bunker

INTRODUÇÃO: Acidentes navais envolvendo o derrame de óleo combustível a partir de navios de grandes dimensões tem se tornado uma das formas cada vez mais frequentes de poluição marinha, visto que estes navios comumente armazenam grandes quantidades de combustível marítimo, que uma vez derramado, traz efeitos comprovadamente catastróficos aos ambientes aquáticos (ARA, NOJIMA & HIROMI, 2004; HUA, 2006). Este tipo de combustível, também chamado de bunker, é um produto derivado do petróleo que possui altas concentrações de diferentes hidrocarbonetos, dentre os quais Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs), que têm sido associados com efeitos tóxicos em animais marinhos (RICHMOND, LINDSTROM & BRADDOCK, 2001; ZAJIC, SUPPLISSON & VOLESKY, 1974; SCHWARTZ et al., 2004). Devido à sua composição química e características físicas, o bunker é lentamente degradado no ambiente, e dependendo das condições ambientais, pode persistir relativamente inalterado durante anos (MOHR, LASLEY & BURSIAN, 2008; SCHWARTZ et al., 2004 ). A biorremediação emprega micro-organismos capazes de degradar contaminantes tóxicos, mineralizando-os ou transformando-os em compostos menos tóxicos em ambientes terrestres e aquáticos (HADIBARATA & TACHIBANA, 2009; TROQUEST, 2003). A biodegradação de hidrocarbonetos complexos geralmente requer a cooperação de populações mistas com ampla capacidade enzimática para aumentar a taxa e a extensão da biodegradação de compostos do petróleo (GHAZALI et al., 2004). Deste modo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar e comparar a degradação de bunker por dois consórcios microbianos isolados de diferentes locais da Região Portuária de Suape – PE.

MATERIAL E MÉTODOS: Neste trabalho foram utilizados dois consórcios microbianos originados de diferentes locais da Região Portuária de Suape – PE, identificados como se segue: o consórcio “C1” é composto por uma bactéria (P11B3), uma levedura (P12) e um fungo filamentoso (P22F2B), todos em fase de identificação. Estas linhagens foram isoladas da água do mar nas proximidades da empresa TERMOPE no Porto de Suape e estão sendo mantidas em meio de cultura apropriado a 4°C pelo Laboratório de Processos Fermentativos do Departamento de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); O consórcio “C3” é também composto por uma bactéria (Nocardia nova UFPEDA837), uma levedura (Geotrichum candidum UFPEDA858) e um fungo filamentoso (Penicillium griseofulvum UFPEDA880). Estas linhagens, por sua vez, foram isoladas da Lagoa da Barra (um local impactado por petroderivados também situado na região portuária de Suape) e encontram-se depositadas na Coleção de Culturas Departamento de Antibióticos da UFPE. A amostra de bunker foi cedida pela empresa Petrobras Transporte S.A – TRANSPETRO. Os ensaios foram realizados em frascos de Erlenmeyer (500mL), contendo 100 mL do meio mineral de Bushnell Haas (ATLAS (1995) acrescido de 30g/L de NaCl, blocos de gelose (6 mm Ø) de cada microrganismo pertencente a cada consórcio em estudo e 3% (v/v) de bunker como única fonte de carbono. Os frascos foram mantidos a 150 rpm e 30±1ºC durante 7 dias, e todos os procedimentos foram realizados em duplicata e com controle abiótico. Ao final dos ensaios, o material biodegradado foi separado e o bunker residual foi extraído três vezes com 100 mL de hexano. Após a evaporação do solvente, a quantidade residual de bunker foi determinada gravimetricamente (ALPHA, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados para este trabalho estão sumarizados na tabela 1. O consórcio C3 apresentou os melhores resultados, tendo degradado quase metade do combustível em apenas 7 dias de cultivo, ao passo que o consórcio C1 degradou somente um quarto de bunker neste mesmo período. Micro-organismos com capacidade para degradar hidrocarbonetos geralmente existem em uma baixa abundância em ambientes marinhos. No entanto, uma eventual poluição destes ambientes por hidrocarbonetos do petróleo pode estimular o crescimento de tais micro-organismos e causar mudanças na estrutura das comunidades microbianas das áreas contaminadas (HARAYMA et al, 2004). Os resultados obtidos para o consórcio C3 (isolado de local previamente exposto a petroderivados) sugere que a adaptação prévia de micro-organismos ao poluente é um fator importante no processo de biodegradação. Micro-organismos isolados de ambientes com histórico de poluição por hidrocarbonetos do petróleo têm maior habilidade para degradar tais poluentes (SILVA et al., 2011). Neste trabalho, ambos os consórcios foram cultivados em meio mineral salino (NaCl, 30g/L). ARULAZHAGAN et al (2010) obtiveram consórcio bacteriano capaz de degradadar HPAs (95%) à concentração de 30g/L de NaCl. Este mesmo consórcio também foi capaz de degradar entre 39% e 45% de HPAs à concentração de 60g/L de NaCl.

Tabela 1: Biodegradação do bunker pelos consórcios C1 e C3.

*A porcentagem de degradação foi calculada a partir do bunker residual para cada consórcio em relação ao controle abiótico.

CONCLUSÕES: Deste modo, pode-se concluir que dentre os consórcios estudados, o C3 é o mais promissor, tendo apresentado potencialidade para a degradação de bunker a 30g/L de NaCl em um período de 7 dias e é indicado para aplicações futuras em processos de biorremediação de ambientes contaminados com este combustível.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: APHA – American Public Health Association; AWWA – American Water Works Association & WPCF – Water Environment Federation Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 21. ed. Washington, DC. p. 4-138. 2005.

ARA, K.; NOJIMA, K.; HIROMI, J. Acute Toxicity of Bunker A and C Refined Oils to the Marine Harpacticoid Copepod Tigriopus japonicus Mori. Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology. V. 69. p.104 –110. 2002.

ARULAZHAGAN, P.; VASUDEVAN, N.; YEOM, I. T. Biodegradation of polycyclic aromatic hydrocarbon by a halotolerant bacterial consortium isolated from marine environment. International journal of Environmental Science and Technology. V.7. p. 639-652. 2010.

ATLAS, R. M. Handbook of Media for Environmental Microbiology. New York:CRC Press.p.81,489,491, 1995.

GHAZALI, F. M.; RAHMAN, R. N. Z. A.; SALLEH, A. B.; BASRI, M. Biodegradation of hydrocarbons in soil by microbial consortium. International Biodeterioration & Biodegradation. V.54. p.61 – 67. 2004.

HUA, J. Biodegradation of dispersed marine fuel oil in sediment under engineered pre-spill application strategy. Ocean Engineering. V.33. p.152–167. 2006.

SILVA, D.S.P.; SANTOS, P.N.F.; LUZ, E.L.P.; ALMEIDA, D. G.; GUSMAO, N.; SOUZA, M.F.V.Q. Effect of temperature, inoculum concentration and nitrogen in the degradation of diesel oil by microbial consortium isolated from the port area of Suape, Pernambuco - Brazil.. In: Congress MicroBiotec11, 2011, Braga. Congress MicroBiotec11. 2011.