ÁREA: Ambiental
TÍTULO: Análise de Metais Traço nos Sedimentos da Praia de Mauá (Magé- RJ) por Espectroscopia de Absorção Atômica em Chama
AUTORES: Laino da Silva Pereira, L.G. (IFRJ) ; Cupertino Bérgomi, L. (IFRJ) ; Rigueti Barcellos, A. (IFRJ) ; Labanca Lopes, B. (IFRJ) ; Costa Paiva, R. (IFRJ) ; Tavares Santos, Y.A. (IFRJ) ; Quiterio de Souza, S.L. (IFRJ) ; Ferreira Prado, P. (IFRJ)
RESUMO: As atividades humanas promovem um impacto negativo em habitats sensíveis como os
manguezais. Devido a um grande derramamento de óleo ocorrido na Praia de Mauá
(Magé- RJ), é possível que metais traços tenham se acumulado no sedimento. A
quantificação dos metais e a análise ecotoxicológica são consideradas de suma
importância para análise da qualidade ambiental, pela presença de atividade
pesqueira. O método escolhido para quantificação dos metais (Cd, Pb, Cu, Cr, Ni,
Zn, Fe) foi a digestão parcial com uso de espectrofotômetro de absorção atômica
em chama. O ensaio ecotoxicológico foi realizado com a espécie Tisbe
biminiensis. Os metais analisados apresentaram valores de concentração acima
do nível 3 (possíveis efeitos à biota). O ensaio ecotoxicológico confirmou os
efeitos nocivos.
PALAVRAS CHAVES: Metais traço; Sedimento; Manguezal
INTRODUÇÃO: As áreas de mangue são encontradas na divisa entre mar e parte terrestre,
podendo entre elas haver a passagem de rios desaguando no mar. A riqueza de
nutrientes atrai muitas espécies, algumas encontradas nos mangues apenas no
período de nascimento. Isso confere aos mangues o nome de “berçários” (MANGUE
VIVO, 2011).
A Baía de Guanabara apresenta crescimento populacional e industrial em seu
entorno. Substâncias nocivas ao meio ambiente são lixiviadas até que se
depositam, solubilizam ou ficam suspensas em um corpo hídrico, como é o caso da
Baía de Guanabara (FONSECA, 2004). Além disso, neste local ocorreram acidentes
os quais afetaram a vida aquática e de ecossistemas próximos, como mangues e
praias, como por exemplo, a Praia de Mauá, localizada em Magé – RJ.
Com a possibilidade de bioacumulação de metais constituintes dos
derivados de petróleo, Cd, Cu, Cr, Fe, Pb, Zn e Ni (OSUJI & ACHUGASIM, 2010),
esse trabalho pretende estudar a ocorrência desses metais traço na Praia de
Mauá. Tendo em vista os acidentes ocorridos, acredita-se que ainda haja
quantidade apreciável dos metais nos sedimentos da região.
As análises quantitativas, utilizadas para determinação dos metais, podem
informar os possíveis agentes poluidores. Dependendo do sedimento e sua
composição, os metais podem se tornar mais tóxicos à fauna. A Ecotoxicologia foi
criada para atender a esses requisitos, juntando fatores químicos, físicos e
biológicos para avaliá-los como um todo.
O objetivo deste trabalho foi determinar a concentração de metais traço (Cd, Pb,
Cu, Cr, Ni, Zn, Fe) nos sedimentos do mangue da Praia de Mauá, identificar a
toxicidade do sedimento por meio de ensaios ecotoxicológicos além de discutir
sobre as possíveis fontes de degradação ambiental.
MATERIAL E MÉTODOS: O local de coleta foi na Praia de Mauá, no município de Magé . Sua zona
territorial é importante em relação à gestão ambiental da Baía de Guanabara,
pois 7,65% da área são tomadas por manguezais degradados, e somente 3,07% são
manguezais conservados. O clima da região é quente e úmido. (INSTITUTO TERRA DE
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL, 2002).
A coleta foi realizada no manguezal localizado na Praia de Mauá. Foi utilizado
para a coleta do sedimento, dois pedaços de canos de PVC. Estes tubos foram
previamente preparados sendo mergulhados em solução de ácido nítrico 10% por 24
horas. Após esse período, foram lavados abundantemente com água destilada e
secos em seguida.
Primeiramente deve-se eliminar a umidade da amostra em estufa a 100ºC por 7
dias. Em seguida, uma amostra de 2,0g do sedimento seco, triturado e peneirado,
foi transferida para um bécher contendo 20 mL de água-régia (50%) ficando em
banho-maria por 2 horas, com posterior filtração .
Após a digestão, foram determinadas as concentrações dos metais por
espectrofotometria de absorção atômica de chama.
Foram pesados 2,00 g de sedimento sendo feitas 5 réplicas e o controle. O
sedimento para controle foi o mesmo da origem do organismo (Jabaquara/Paraty-
RJ). Os sedimentos foram colocados em béquers e adicionou-se 20 mL de água do
mar filtrada.
O organismo escolhido (Tisbe biminiensis) foi triado, sendo apenas as grávidas
(adultos) separadas para o ensaio, com 5 grávidas por béquer, que foram postos
em incubadora a 25±2°C com fotoperíodo 12h claro/escuro por 7 dias.
Posteriormente, peneirou-se e o que era retido adicionava-se formol e rosa de.
Após 2 dias fez-se a contagem dos copépodos vivos. Para obtenção dos resultados
estatísticos utilizou-se o programa TOXSTAT.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O Fator de Enriquecimento (FE) foi calculado para a amostra de sedimento. Na
Tabela 1, temos as concentrações dos metais traço: na amostra, na crosta
terrestre e o fator de enriquecimento de cada metal.
FE maior que 10 indica que o sedimento está enriquecido do metal avaliado, e
isto se dá por ação antropogênica no meio. Sendo assim, todos os metais
analisados são oriundos dessas ações.
Segundo a Resolução CONAMA 344 de 2004, art. 3º, são definidos critérios de
qualidade, nos níveis 3 e 4 para sedimentos em água salgada. O nível 3 é o
limiar abaixo do qual se prevê baixa probabilidade de efeitos adversos à biota e
o nível 4 limiar acima do qual se prevê um provável efeito adverso à biota
(Tabela 2).
Na tabela 2 as concentrações de Cd, Cu, Cr, Ni e Zn apresentaram valores acima
do nível 3, porém abaixo do nível 4. Dessa forma, pode-se concluir que estes
metais possuem a probabilidade de causar efeitos adversos.
Na tabela 2 também verificam-se as concentrações previamente encontradas em
manguezal limpo. Comparando-se as concentrações dos metais conclui-se que o
manguezal estudado fugiu às características de um manguezal limpo, apresentando
dados que indicam contaminação por todos os metais analisados, excetuando-se o
Ferro.
A partir dos ensaios ecotoxicológicos, verificou-se a taxa de natalidade e
sobrevivência dos copépodos no sedimento utilizando testes crônicos e agudos. Os
dados gerados pelo programa estatístico TOXSTAT indicaram toxicidade na amostra
para os ensaios agudo e crônico, uma vez que a taxa de sobrevivência foi muito
baixa. No controle, as 5 copépodes mães sobreviveram e 62 copépodes jovens se
desenvolveram. Já na amostra, apenas 1 mãe sobreviveu e 2 copépodes jovens
conseguiram se desenvolver.
Tabela 1
Concentrações dos metais na crosta terrestre, na
amostra e seus fatores de enriquecimento.
Tabela 2
Concentrações limite dos metais traço (segundo
CONAMA) e concentrações em um manguezal limpo em ppm
CONCLUSÕES: As concentrações obtidas nas amostras e o fator de enriquecimento demonstraram
contaminação de metais (Cd, Pb, Cu, Cr, Ni, Zn) por fontes antropogênicas. Da
mesma forma, pela resolução CONAMA 344/04, todos os metais possuíam valores acima
do nível 3 (com possíveis efeitos à biota). Os ensaios ecotoxicológicos
confirmaram esses efeitos á biota.
Tendo em mente o contato do manguezal da Praia de Mauá com a Baía de Guanabara, e
sendo este alvo de derramamentos de petróleo ocorridos no passado, é possível
estimar as origens das altas concentrações dos metais traço em análise.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao IFRJ por nos dar a oportunidade de realizamos a pesquisa e empresa
LabTox, pela disponibilização do ensaio ecotoxicológico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução 344/04. Brasília, 2004.
DEFEW, L. H.; MAIR, J. M. & GUZMAN, H. M. An assessment of metal contamination in mangrove sediments and leaves from PuntaMalaBay, Pacific Panama. 2005. Heriot-Watt University, Escócia & Smithsonian Tropical ResearchInstitute, EUA. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com>. Acesso em: 22 ago. 2011.
FONSECA, M. E. Estudo da interação entre atividade bacteriana, metais pesados e matéria orgânica nos sedimentos da Baía de Guanabara – RJ. 2004. Dissertação (Pós-graduação em Geologia e Geofísica Marinha) – Universidade Federal Fluminense, Niterói.
INSTITUTO MANGUE VIVO. Disponível em: <http://www.manguevivo.org.br/?do=site:conteudo:exibir&pid=ZmQ3YTJjOWMyOeRWq4qlkhR8tooG-kUb8g>. Acesso em: 23 ago. 2011 às 16:12h.
INSTITUTO TERRA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. Zoneamento Ambiental da Baía de Guanabara. Meta 9 - Zoneamento Ambiental. 2002. Disponível em: <http://www.laget.igeo.ufrj.br/egler/pdf/ZABG_3.pdf>. Acesso em: 26 set. 2011 às 23:15.
OSUJI, L. C. & ACHUGASIM, O. Trace Metals and Volatile Aromatic Hydrocarbon Content of Ukpeliede-I Oil Spillage Site,Niger Delta, Nigeria. 2010. University of Port Harcourt. Port Harcourt, Nigeria. Disponível em: <http://www.bioline.org.br/pdf?ja10021>. Acesso em: 26 ago. 2011.